sexta-feira, 22 de julho de 2022

Textos do Almanhaque do Barão de Itararé

 

Versos de Antônio Pereira  

Saudade é um parafuso,

Que, tendo rosca, não sai;

Só entra se for batendo,

Porque, torcendo, não vai...

Nem destorcendo não sai.

 

 Quem quisé prantá saudade,

Escarde bem a semente

E prante na terra seca,

Em hora de sol bem quente,

Que se prantá no moiado

Pode nascê - mata a gente.

 

Saudade é como um cobreiro,

Que dá em qualquer cintura...

É como a lança amolada

No peito da criatura:

- Se pegá no gume, corta;

Se pegá na ponta, fura...

 

Saudade é u´a brabuleta

Que desconhece a sua idade:

Se encanta e se desencanta

Pra renová a saudade

Sacudindo o pó das asas,

E cegando a humanidade.

* * * * * * * 

Fábula fabulosa 

Era uma vez um pinto e uma piava.

O pinto pintava e piava. Mas a piava não pintava nem piava.

O pinto pintava, porque já tinha pinta de galo. E piava, porque todo pinto pia. Pia, a sério ou pia por pilhéria, por simples piada.

A piava não pintava, porque era piava e não pintado. É o filhote do pintado que pinta. E a piava não piava, porque a piava não é pinto. E é o pinto que pia.

Nem o pinto nem a piava eram pintados. Eram pinto e piava de verdade.

O pinto piava sempre que andava com sede e queria beber água na pia, onde vivia a piava.

Quando o pinto piava, a piava se irritava e pintava o sete na pia.

E, assim, o pinto piava e a piava pintava. 

(Textos do Almanhaque do Barão de Itararé de 1955 

 primeiro semestre) 

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