Versos de Antônio Pereira
Saudade é
um parafuso,
Que, tendo
rosca, não sai;
Só entra
se for batendo,
Porque,
torcendo, não vai...
Nem destorcendo não sai.
Quem quisé prantá saudade,
Escarde
bem a semente
E prante
na terra seca,
Em hora de
sol bem quente,
Que se
prantá no moiado
Pode nascê
- mata a gente.
Saudade é
como um cobreiro,
Que dá em
qualquer cintura...
É como a
lança amolada
No peito
da criatura:
- Se pegá no gume, corta;
Se pegá na
ponta, fura...
Saudade é
u´a brabuleta
Que
desconhece a sua idade:
Se encanta
e se desencanta
Pra renová
a saudade
Sacudindo
o pó das asas,
E cegando a humanidade.
* * * * * * *
Fábula fabulosa
Era uma vez um pinto e uma piava.
O pinto pintava e piava. Mas a piava
não pintava nem piava.
O pinto pintava, porque já tinha pinta de galo. E piava, porque todo
pinto pia. Pia, a sério ou pia por pilhéria, por simples piada.
A piava não pintava, porque era piava e não pintado. É o filhote do
pintado que pinta. E a piava não piava, porque a piava não é pinto. E é o pinto
que pia.
Nem o pinto nem a piava eram
pintados. Eram pinto e piava de verdade.
O pinto piava sempre que andava com sede e queria beber água na pia,
onde vivia a piava.
Quando o pinto piava, a piava se irritava e pintava o sete na pia.
E, assim, o pinto piava e a piava pintava.
(Textos do Almanhaque do Barão de Itararé de 1955
primeiro semestre)
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