domingo, 31 de outubro de 2021

Sua estupidez, Brasil

 Martha Medeiros

Desenho de Gilmar Fraga / Agência RBS 

Meu bem, meu bem, você tem que acreditar em mim... 

Estou apelando para Roberto Carlos, quem sabe ele me ajuda a dar uma cantada nessa pátria borocoxô. A pandemia nos entortou. Ninguém imaginaria que um ciclone viral se atravessaria na nossa história, nos atingindo a caminho do altar, da formatura, do aeroporto. De repente, tudo mudou. Adeus, liberdade para sair de casa a qualquer hora, abraçar desconhecidos, dividir o mesmo balcão do bar. Logo nós, célebres pela camaradagem e irreverência, viramos ursos hibernando no inverno e no verão, grudados 24 horas nas redes sociais. Teve que ser assim, mas agora, vacinados e retomando aos poucos a vida que a gente tinha, começamos a olhar para os lados e a contabilizar o estrago, como sobreviventes que saem lentamente de um bunker. Todo mundo perdeu alguém ou alguma coisa, quem é que venceu? A estupidez. 

“Ninguém pode destruir assim um grande amor...” 

Mas aconteceu. Mesmo sendo uma nação fragmentada pela desigualdade social, o bom trato nos unia: ser afável não era a exceção, e sim a regra. Havia oposições, discordâncias, mas a bandeira do país era de todos. Torcidas brigavam, às vezes a flauta passava do ponto, mas não havia esse climão, essa brutalidade que não é espontânea, e sim estimulada. 

“Não dê ouvidos à maldade alheia, e creia...” 

A despeito de tantos problemas, o alto-astral era nosso cartão de visitas, lembra? Chegava a ser difícil explicar como havia tanta gente risonha em meio a tanta carência, mas era fato: o ar não pesava. Mesmo na corda bamba, matando um leão por dia, todo brasileiro tinha no DNA o gene da bossa. Terra de gente divertida, de explosão de ritmos, de erotismo sem culpa. Sempre fui muito crítica ao país, mas nunca desdenhei da nossa alegria, da nossa extraordinária natureza e da nossa arte, três grandes motivos de orgulho. E que agora estão aí, desbotados, minguando. 

“Quantas vezes eu tentei falar, que no mundo não há mais lugar, pra quem toma decisões na vida, sem pensar...” 

Minha voz é apenas mais uma entre diversos brasileiros que estão todos os dias escrevendo, debatendo, postando notícias com fonte segura, refletindo com seriedade sobre o país, trazendo à tona nossa história e ancestralidade, valorizando mais do que nunca o conhecimento, as pesquisas científicas e as crenças espirituais voltadas para o acolhimento sem exclusão. O material da casa é farto e está à disposição de quem deseja se aprofundar, enquanto o mundo, lá fora, observa espantado esse Brasil que em tão pouco tempo trocou o violão pelo fuzil, a simpatia pelo desaforo. 

“Sua estupidez não lhe deixa ver...” 

Que ainda te amamos, Brasil, ou não estaríamos insistindo tanto para você acordar desse pesadelo e voltar à sua luminosidade original. 

********** 

(Em Zero Hora, outubro de 2021) 

sábado, 30 de outubro de 2021

Para escrever um novo mundo

 Fabrício Carpinejar*

Feira do livro é a nossa primavera da leitura,

a nossa biblioteca  a céu aberto. 

É quando as barracas recebem os marcadores de páginas dos jacarandás. É quando os gaúchos fazem suas listas de compras para o Natal e Amigo Secreto. É quando a Praça da Alfândega passa a ter ruas por dentro e Porto Alegre atravessa os seus canteiros. É quando o centro da cidade vibra, como um estádio de futebol. É quando o cheiro de pipoca e de algodão doce se mistura ao sal do nosso suor. É quando encontramos recordações da infância nas caixinhas de sebo. É quando as obras voam pelas janelas das tendas dos livreiros. É quando reencontramos amigos que nunca mais tínhamos visto, colegas do Ensino Fundamental e Médio. É quando casais se formam procurando o mesmo título. É quando retomamos o nosso gosto pela conversa pública com cadeiras de praia. É quando o mar de livros desemboca no rio Guaíba. É quando podemos ver nossos autores de perto, imortalizar a folha de rosto com um autógrafo. É quando famílias inteiras se organizam para sair em caravanas. Marcando o MARGS ou um prédio dos Correios como ponto de encontro caso alguém se perca. É quando o sol anda de mãos dadas com a chuva e a gargalhada dá colo para as lágrimas. É quando somos intensos, possíveis, juntos. É quando ninguém é melhor do que ninguém, todos são iguais, todos são leitores, todos são protagonistas do seu destino. 

*******

* Fabrício Carpinejar, Patrono das 67ª Feira do Livro de Porto Alegre, em 2021. 

(Do jornal: Para Ler um Novo Mundo)

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Rio do meu amor

 Billy Blanco

 

Mais do que apenas a letra de uma música da MPB, essa composição de Billy Blanco traduz todo amor que eu e muita gente sente pelo Rio de Janeiro, que, apesar de tudo, é a capital de todos os brasileiros, pelas suas belezas naturais, pela sua diversidade cultural e pela exuberância afetiva de seu povo.

Rio, Estácio, no passado, fez este presente,
E deu abençoado três vezes à gente,
Pois Deus é africano, índio e português,
E com o babalaô, como o padre e o pajé.
A macumba, a crendice, a missa e a fé,

Rio, bonito até mesmo com chuva

Cresceu, foi surgindo e todo lindo se fez.

Rio, de Pedro que, primeiro, foi compositor.
Foi grande seresteiro, imenso imperador.

Amigo do chalaça, que a história passas, mas não diz.
Era o dono das francesas lá da Ouvidor,
De marquesas balançou o coração,
Da tristeza de partir, partiu feliz,
Por saber que inaugurou meu Rio, meu Rio,
Como a capital do amor deste pais.

Rio, de Vasco e Botafogo, América e Bangu,
Maracanã vibrando em dia de Fla-Flu,
Do bonde que a saudade ornamentando praça,
Do tostão que era bom como a Lapa já foi,
Da boneca dourada que passa, que engana,
Enfeitando calçada de Copacabana,
Ipanema, Leblon e Arpoador.

Rio, do grande carnaval, do 1º de abril,
Da Vila que desceu, do dólar que caiu,
De São Judas Tadeu, São Jorge e Cosme Damião.

Rio, de São Sebastião que é de janeiro,
Redentor que Paulo VI iluminou,
Rio de Deus que é brasileiro e do lugar,
Rio do bicho que não deu, mas ia dá,
Festival de anedotas, luz e cor,
Foi aqui que descobri que a vida é,
E encontrei o meu amor.

Rio, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, Brasil...
 

P.S. Essa música está na internet do voz de seu autor: Billy Blanco.

Filosofia de Mahatma Gandhi

 

Perguntaram a Mahatma Gandhi quais são os fatores que destroem os seres humanos.

Ele respondeu:

- A Política, sem princípios; o Prazer, sem compromisso; a Riqueza, sem trabalho; a Sabedoria, sem caráter; os Negócios, sem moral; a Ciência, sem humanidade; a Oração, sem caridade.

A vida me ensinou: que as pessoas são amigáveis, se eu sou amável, que as pessoas são tristes, se estou triste, que todos me querem, se eu os quero, que todos são ruins, se eu os odeio, que há rostos sorridentes, se eu lhes sorrio, que há faces amargas, se eu sou amargo, que o mundo está feliz, se eu estou feliz, que as pessoas ficam com raiva quando eu estou com raiva, que as pessoas são gratas, se eu sou grato.

A vida é como um espelho: se você sorri para o espelho, ele sorri de volta. A atitude que eu tomar perante a vida é a mesma que a vida vai tomar perante mim.

 “Quem quer ser amado, ame!” 

 *******

Mohandas Karamchand Gandhi: Porbandar, 2 de outubro de 1869 ‒ Nova Delhi, 30 de janeiro de 1948, mais conhecido popularmente por Mahatma Gandhi (do sânscrito “Mahatma”, “A Grande Alma”) foi o idealizador e fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do Satyagraha (princípio da não-agressão, forma não-violenta de protesto) como um meio de revolução.

O princípio do satyagraha, frequentemente traduzido como “o caminho da verdade” ou “a busca da verdade”, também inspirou gerações de ativistas democráticos e antirracismo, incluindo Martin Luther King e Nelson Mandela. Frequentemente Gandhi afirmava a simplicidade de seus valores, derivados da crença tradicional hindu: verdade (satya) e não-violência (ahimsa).

terça-feira, 26 de outubro de 2021

O mistério de Bolsonaro

 David Coimbra

Por que Bolsonaro faz essas coisas, como dizer em uma live que quem toma vacina contra a covid pode desenvolver aids? 

Faço essa pergunta sem paixões políticas, que não as tenho. Eu realmente não sei por que ele faz isso. 

Por que Bolsonaro não quer que as pessoas tomem a vacina contra a covid? Está comprovado que, por enquanto, as vacinas são a única forma de salvar o mundo da peste. Não são apenas as pesquisas volumosas e sólidas que atestam essa verdade, os números da doença no planeta inteiro o provam. Então, repito: por que Bolsonaro estimula as pessoas a não se proteger contra esse mal terrível que mata, mutila e deixa sequelas? Qual é a intenção dele? 

Não pode ser por ignorância. Sei que Bolsonaro não é exatamente um expert em medicina e saúde – quando deputado, um dos dois projetos que aprovou em 28 anos de atuação foi o que liberava aquela pílula que alegava combater o câncer, uma charlatanice que só iludia os desesperados pela cura. Quer dizer: Bolsonaro realmente não entende nada do assunto. Mas ele é presidente da República. Não é possível que esteja cercado exclusivamente por imbecis e mal-intencionados. Alguém, algum assessor, um ministro, um empresário que o apoia, alguém tinha de ter alertado que é no mínimo imprudente dizer que a vacina contra covid dá aids. Não estou nem falando em irresponsabilidade, em estupidez e em maldade, que poderiam ser suscitadas por esse ato. Estou falando que é imprudente. Estou falando que não cabe a ele fazer esse tipo de alegação. Estou falando que o presidente de um país cheio de problemas, como o Brasil, tem mais o que fazer do que se aventurar pelo terreno da ciência, que, para ele, é absolutamente desconhecido. 

Portanto, insisto na minha angústia: não entendo o que leva Bolsonaro a cometer uma declaração dessas. O que ele ganha com isso? O que qualquer pessoa no Brasil ganha? Ao contrário: sem as vacinas, a doença estaria descontrolada, o número de mortes seria 10 vezes maior do que é e novas restrições teriam de ser impostas às pessoas. Assim, a economia sofreria um abalo muito mais grave do que já sofreu, o desemprego aumentaria e a arrecadação de impostos diminuiria, o que é péssimo para qualquer governo. 

Logo, com essa afirmação Bolsonaro está pondo em risco a saúde e a vida dos brasileiros, bem como do seu próprio governo. Quer dizer: é ruim para todo mundo. Não faz o bem a ninguém. Então, por que ele faz isso? Por quê? POR QUÊ? 

(Em Zero Hora, outubro de 2021)

Mínimas do Máximo

 Juremir Machado da Silva

Pouco conhecido nas rodas sociais por viver numa praia onde não tinha sinal de internet, Máximo é autor de mínimas anotadas à mão. Aqui vão algumas que produziu e mandou para comemorar sua entrada no WhatsApp.

*
Por que a Câmara de Vereadores, que tem verbas para cultura, não quer ajudar a pagar a cobertura da Feira do Livro? Quer obras sem capa? (certo, não é uma grande mínima, mas Máximo, às vezes, usa o mínimo de espaço para fazer perguntas que possam trazer o máximo de esclarecimento).

*
Tem dias que o sol do amanhecer é a única luz no fim do túnel.

*
Quando o ministro da economia, do alto da sua sapiência, fura o teto de gastos, definitivamente não há mais como manter os pés no chão.

*
Na época das utopias, quando tudo era possível em tese, um amigo poeta dizia: “Eu me contradigo, sim, por que meu sangue nunca coagula”. Nestes tempos pragmáticos ele é aconselhado a procurar atendimento.

*
Ideologia é o nome que se dá à teoria dos outros.
*
Digital: quando os dedos já não deixam marcas em papel.

*
Chega uma hora em que a pessoa se olha no espelho e constata: tudo muda, menos a passagem do tempo e a política, que continua sendo a arte de entregar menos do que se promete por suposta culpa do clima, nome que se dá a um conjunto de circunstâncias produzida pelos próprios interessados.

*
(In)temporais: a opinião pública é a mais terrível das ditaduras. O homem que luta contra ela, suicida-se. O homem que a ela se submete, torna-se escravo. Eis a prova de que a liberdade de expressão silencia.

*
Acidez: capacidade de falar mal com o bom tempero.

*
Há o tempo de semear ideias e o tempo de preencher formulários, o tempo de viajar e o tempo de olhar as imagens colhidas em deslocamento, o tempo de sonhar acordado e o tempo de prestar contas sonolento e fazer relatórios que não serão lidos, o tempo de criar e o tempo de fazer a declaração do imposto de renda mesmo tendo ganhado pouco, o tempo de correr mundo e o tempo de atravessar o deserto com o camelo nas costas.

*
Liberdade é tudo: por isso só temos um pouco. 

(No Correio do Povo, outubro de 2021)

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Fake news na saúde

 Mitos que precisam ser combatidos

   

As vacinas prejudicam a fertilidade: 

Não existe mecanismos biologicamente plausíveis para isso. 

Alteram o DNA humano: 

Os imunizantes “genéticos” não modificam o código genético nem causam modificações físicas. 

Têm um chip que será implantado no corpo: 

Não há nenhum chip 5G dentro dos imunizantes. A fake news surgiu da deturpação de uma fala do empresário Bill Gates. 

Usam material de fetos abortados: 

Vacinas com vírus inteiros podem conter células de animais (ovos de galinha), vegetais ou humanas. As humanas são replicações em laboratórios de células obtidas décadas atrás.

Provocam covid: 

Ao contrário, estimulam o corpo a se defender. 

Causam efeitos colaterais graves: 

Os índices de efeitos colaterais sérios são baixíssimos, bem menores do que os apresentados por remédios frequentemente consumidos. 

Foram feitas rápido demais e por isso não são seguras: 

O desenvolvimento se valeu de processos usados há anos. Além disso, elas foram testados por grupos independentes de pesquisadores em extensos grupos de voluntários. 

Causam o transtorno do espectro autista: 

Estudos antigos que sugeriam a ligação continham erros metodológicos e já foram banidos da literatura cientifica. 

Fontes: Sociedade Brasileira de Imunizações e Organização Pan-Americana da Saúde. 

(Matéria da revista Veja, setembro de 2021)  

Valorize mais os acertos

 Um dia um velho professor escreveu assim no quadro.

9 X  1  =   7

9 X  2  = 18

9 X  3  = 27

9 X  4  = 36

9 X  5  = 45

0 X  6  = 54

9 X  7  = 63

9 X  8  = 72

9 X  9  = 81

9 X 10 = 90 

Na sala de aula não faltou sorrisos sarcásticos, porque ele tinha errado o 9×1= 7, sendo que a resposta certa é número 9… Todo mundo rindo da cara dele, ele esperou todo mundo se calar, aí falou:

‒ É assim que você é visto no mundo atual. 

Errei de propósito para mostrar a vocês como o mundo se comporta diante de algum erro seu. 

Ninguém o elogia por ter acertado nove vezes, ninguém o viu acertando e deu-lhe os parabéns, mas todo mundo o crucificou, falou mal de você, riu da sua cara, zombou, porque você errou apenas uma resposta. 

Moral da história:

Devemos aprender a valorizar as pessoas pelos acertos. Há pessoas que acertam muito mais do que erram, e acabam sendo julgadas por apenas um erro, e não são valorizadas pelos outros nove acertos. Reflita: Isso serve pra muita gente. 

De agora em diante, mais elogios e menos críticas, assim o mundo ficará muito melhor!

domingo, 24 de outubro de 2021

Frases de efeito

Eu jamais desisto de algo! Na verdade, eu nem tento. 

Que vontade de voar... voar o meu pé na sua cara! 

Uma mulher nunca está errada, ela pode estar apenas menos certa do que você. 

Não vem com olho gordo pra cima de mim que de gordo já basta eu mesmo. 

Quem cedo madruga, dorme no volante no dia seguinte. 

Existem dois tipos de mulheres: as que estão cansadas dos homens e as que ainda não se envolveram o suficiente. 

Hoje eu tô com um aperto no peito... acho que é o sutiã que tá apertado demais! 

Quem disse que educação não enriquece? Só olhar para as escolas particulares. 

Você quer saber o segredo para ficar rico? Eu também! 

O segredo para um bom relacionamento é não ter um. 

Eu nunca cometo o mesmo erro duas vezes… Cometo umas cinco vezes, só pra ter certeza que é errado mesmo! 

Atenção para quem toma conta da minha vida: As contas deste mês já chegaram. 

Se sua ex-namorada disser: você nunca vai encontrar ninguém igual a mim, responda: amém, quero alguém diferente. 

Acordei tão gato hoje, que quando fui bocejar, eu miei. 

Respeito a opinião de todos que concordam comigo. 

Só saio de casa com a roupa amassada, porque a vida passa e a gente nem vê. 

Não acho nem a ponta do durex, imagine o amor da minha vida? 

Estava procurando o lado bom da vida e cheguei à conclusão de que a vida é uma esfera. 

Se quem ama cuida. Devo namorar uma médica? 

Você é como o Google. Tudo o que eu procuro, eu encontro em você. 

Não é preguiça. É redirecionamento estratégico de energia vital. 

A gente cuida do cabelo com tanto amor e carinho, pra depois ele crescer, ficar rebelde e sair por aí armado. 

Coma de tudo, porque pizza não engorda, massa não engorda, chocolate não engorda. Quem engorda é você! 

Quando uma mulher sofre em silêncio... é porque ela está sem internet. 

Vou namorar uma calculadora, pelo menos ela sabe dar valor. 

Estou tão carente que se o churrasqueiro me oferecer coração, eu chamo ele de amor. 

Sabe como perdi 500 calorias em um segundo? Minha coxinha caiu no chão.

O único exercício físico que eu faço é correr atrás de dinheiro. 

Lamento, só estou aceitando pedidos de desculpa em dinheiro. 

Os seus segredos estão seguros comigo. Eu não estava nem escutando… 

Tudo que vai, volta. Menos as canetas que eu emprestei na sala de aula… 

Eu sou uma pessoa extremamente tolerante, desde que tudo saia exatamente como eu quero. 

Quem curte balada é adolescente, adulto gosta é de dormir com os boletos pagos. 

Se eu concordasse com você, nós dois estaríamos errados. 

Será que dá para eu te ignorar outra hora? Tô ocupado! 

Se eu fico com preguiça até de andar, imagina ter de correr atrás de alguém. 

Se você não consegue rir de si mesmo, eu posso fazer isso por você. 

Eu fui procurar o que era melhor pra mim e acabei abrindo a geladeira. 

O bom senso é como desodorante. As pessoas que mais precisam nunca usam. 

O problema é que todo mundo quer um relacionamento sério, mas eu sou uma pessoa muito engraçada. 

Você não vale o tempo que eu passei perto da tomada carregando a bateria do meu celular. 

O segredo é amar o próximo, porque o anterior não merecia! 

Precisamos inventar um dia novo entre sábado e domingo. 

Na minha situação atual, se eu for cortar uma cebola, é ela que chora. 

Muita interessante a sua opinião, só tem uma coisa: eu não a pedi. 

Quando a sua mãe lhe perguntar por que você fica tanto tempo na frente do computador, diga que se você ficasse atrás, não veria nada. 

Já que a moda agora é lançar desafios, eu desafio todos a depositarem 100 reais na minha conta. 

Cai um amigo, você ri. Cai um irmão, você ri. Cai um estranho, você ri. Cai a internet, você chora. 

Aquela dúvida cruel entre mandar a mensagem e manter o orgulho.

Quem muito se ausenta, uma hora deixa de fazer falta...

No Brasil a única cultura que se desenvolve é a cultura do vírus.

Chegou, pediu, bebeu, cuspiu, pagou, saiu, tropeçou, caiu, levantou, sumiu. 

Não tenho vícios. Só bebo e fumo quando eu estou jogando. 

Antes um bêbado conhecido, do que um alcoólatra anônimo.

Placa de advertência de uma bar na Lapa, RJ: “É proibido entrar bêbado, sair pode.”

Aos que falam de mim pelas costas, obrigado, é sinal que estou sempre na frente! 

O senso comum é o menos comum de todos os sensos. 

O mais importante não é ganhar. É evitar perder ou empatar. 

Morro de raiva quando falam no momento que estou interrompendo alguém. 

Preciso ir ao oftalmologista, mas não consigo enxergar o momento ideal. 

Bolsonaro, vejo que a inteligência te persegue, mas tu segues correndo dela.

sábado, 23 de outubro de 2021

Descartes

 

Texto e foto: Alina Souza 

O velho que antes era novo e, bem antes, não passava de um desejo de novidade. Angústia constantemente renovada. Hoje as coisas envelhecem mais rápido ou somos nós que nos cansamos delas de um dia para o outro? As propagandas trazem o desejo de recomeço, a sede de conquistar o zero quilômetro. Então partimos em frente, descartamos o que parece não ter mais conserto. Formamos montanhas de descartes. Não toleramos as falhas, os pequenos arranhões, os ruídos diferentes, os sintomas de desgaste, o cansaço. Evitamos o reparo. Cancelamos, excluímos tudo aquilo que nos incomoda. Optamos pela troca. Temos medo dos sinais do tempo. Não só medo, como também fuga, negação. Então jogamos o passado em um terreno baldio, longe da dolorosa análise, longe das vistas e das críticas. Deliciamo-nos com as ofertas, as promessas de uma vida mais moderna. O deleite dura alguns instantes ‒ poderosos e frágeis instantes ‒ até que a realidade testa a consistência e, na ausência da história e da memória, tudo mais uma vez desaba. 

(No Correio do Povo, outubro de 2021)

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Expressões populares antigas

  

“No tempo do Onça” 

No início do Século 18, o Rio de Janeiro era governado por Luiz Vahia Monteiro, militar português conhecido como “o Onça”. Ele tinha este apelido por ser extremamente severo e ranzinza. Era exigente, também. 

Durante o período em que governou o Rio, ele cumpria rigorosamente a lei e exigia que todos a cumprissem. 

Tempos depois de ter deixado o cargo de governador, a cidade voltou gradativamente a ser a “bagunça” que é até hoje. 

Os saudosos do governador Vahia Monteiro, ao assistirem o desleixo com que a cidade era administrada, viviam suspirando pelos cantos e dizendo: “Ah, no tempo do Onça que era bom!”. 

Por conta disto, a expressão “no tempo do Onça” passou a significar coisa antiga, algo de tempos passados. 

Veja você: reclamar da falta de cidadania, da falta de educação é coisa que vem desde o tempo do Onça! 

À beça 

No Rio imperial, havia um comerciante rico chamado Abessa, que adorava ostentar roupas de luxo. Quando alguém aparecia fazendo o mesmo, dizia-se que ele estava se vestindo à Abessa, ou seja, como o comerciante. * 

*Existe outra versão para o termo 

Andar à toa 

Toa é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está “à toa” é o que não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca determinar. Andar sem destino, despreocupado, passando o tempo. 

Baderna 

Uma bailarina de nome Marietta Baderna fazia muito sucesso no Teatro Alla Scalla, de Milão. Ao apresentar-se no Brasil, em 1851, causou frisson entre seus fãs, logo apelidados de “os badernas”. O sobrenome da artista, de comportamento liberal demais para os padrões da época, deu origem ao termo que significa confusão, bagunça. 

Caiu no conto do vigário 

Uma imagem de Nossa Senhora dos Passos foi doada pelos espanhóis para Ouro Preto e começou a ser disputada pelos padres de duas igrejas: a de Nossa Senhora de Pilar e a de Nossa Senhora da Conceição. O padre de Pilar sugeriu, então, que a imagem fosse colocada em cima de um burro, no meio do caminho entre as duas igrejas. O rumo que o animal tomasse, decidiria quem ficaria com a imagem. Quando foi solto, o burro se dirigiu para a igreja de Pilar. Mais tarde, soube-se que ele pertencia ao padre de lá; logicamente sabia o caminho a seguir. 

Casa da Mãe Joana 

Na época do Brasil Império, mais especificamente durante a minoridade do Dom Pedro II, os homens que realmente mandavam no país costumavam se encontrar num prostíbulo do Rio de Janeiro, cuja proprietária se chamava Joana. Como esses homens mandavam e desmandavam no país, a frase “casa da mãe Joana” ficou conhecida como sinônimo de lugar em que ninguém manda. 

Para inglês ver 

Em 1830, pressionado pela Inglaterra, o Brasil começou a aprovar leis contra o tráfico de escravos. Mas todos sabiam que elas não seriam cumpridas. Falava-se, então, que as leis eram apenas para inglês ver. 

Pode tirar o cavalinho da chuva 

Os visitantes das fazendas, mesmo quando estava chovendo, atrelavam seus cavalos à cerca. O fazendeiro, se quisesse que o visitante demorasse, dava ordem para que ele “tirasse o cavalo da chuva”. Era um convite para ficar. 

Santo do Pau Oco 

Durante o século XVII, as esculturas de santos que vinham de Portugal eram feitas de madeira. A expressão surgiu porque muitas delas chegavam ao Brasil recheadas de dinheiro falso. No ciclo do ouro, os contrabandistas costumavam enganar a fiscalização recheando os santos ocos com ouro em pó. No auge da mineração, os impostos cobrados pelo rei de Portugal eram muito elevados. Para escapar do tributo, os donos de minas e os grandes senhores de terras da colônia colocavam parte de suas riquezas no interior de imagens ocas de santos. Algumas, normalmente as maiores, eram enviadas a parentes de outras províncias e até de Portugal como se fossem presentes. 

Spam 

A utilização do termo “spam” para designar mensagem não solicitada decorre de um spot humorístico do grupo inglês Monty Python, que mostrava em um restaurante uma garçonete tentanto fazer, a todo custo, uma cliente comprar uma refeição a base de “spam”. O produto “spam”, deriva do nome de um produto da empresa Hormel Foods a base de carne suína enlatada - Hormel Spice Ham. Um concurso feito pela empresa o rebatizou de “Spam”, este alimento, muito barato, foi muito consumido pelos aposentados norte-americanos nas épocas de recessão, o que justifica, de outra parte, a ojeriza de muitos consumidores a este produto. 

Vá se queixar ao bispo 

No Brasil do séc. XVII, ter filhos era muito importante. Precisando mostrar ao homem que era fértil, a mulher engravidava antes do casamento. A regra era aprovada pela própria Igreja desde que depois o casamento se consumasse. Muitas vezes, o noivo ia embora e a mulher grávida ia reclamar ao bispo, que mandava alguém atrás do fujão. 

Vestir a carapuça 

Carapuça é uma espécie de barrete ou capuz de forma cônica e remonta ao período da Inquisição, em que os condenados eram obrigados a vestir trajes ridículos ao comparecer aos julgamentos. Além de usar uma túnica com o formato de um poncho, eles precisavam colocar sobre a cabeça um chapéu longo e pontiagudo, conhecido como carapuça. Daí a expressão “vestir a carapuça” ter se incorporado ao português escrito e falado com o sentido de “assumir a culpa”. 

Voto de Minerva 

Orestes, filho de Clitemnestra, foi acusado pelo assassinato da mãe. No julgamento, houve empate entre os acusados. Coube à deusa Minerva o voto decisivo, que foi em favor do réu. Voto de Minerva é, portanto, o voto decisivo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Interrogatório

Glênio Perez*

Como fazes
para exercer teu ofício?
Beijas também tuas crianças
quando vais para o trabalho?
E quando acordas de noite,
lembras o que foi teu dia?
Que gosto é que tem a carne
nos braços de tua mulher?
Quando a cobres com teu corpo
e ela geme – te perturbas?
Tua mãe passando o ferro
para passar tua roupa
não te inquieta ante o perigo
do choque ou da queimadura?
Quando ficas muito tempo de pé
num só lugar não te cansas?
Dormes num quarto sem ar
ou frio como uma geladeira?
Apagas todas as lâmpadas
para descansar teus olhos?
Comes, sempre, muito bem
mesmo com tanto trabalho?
E qual a sensação
de receber mensalmente
a paga do teu serviço?
Tu amas, comes e dormes
apesar do teu ofício?
De que barro te fizeram
– torturador – afinal?


*******

Jornalista, político, poeta e ator, Glênio Perez destacou-se na oposição legal ao regime militar e na soli­dariedade aos presos políticos. Eleito três vezes vereador em Porto Alegre, teve seu mandato cassado no começo de 1977. Colaborando nos principais jornais do estado e em diversas revistas, foi também executivo de grupo de mídia e organizador de eventos culturais. Fundador do PDT, foi eleito vice-prefeito da cidade, cujo largo central leva hoje seu nome. Mesmo sob severa perseguição, publicou “Caderno de noticias”. 

(Do jornal JÁ)

Cuidado com as fake news

 Dez passos para não cair na mentira. 

Juliana Bublitz

01. Se o título da “notícia” enviada a você tiver adjetivos chamativos e apelativos, desconfie. 

02. Leia o texto, não fique apenas no título. 

03. É comum o texto falso conter erros de português. 

04. Em geral, não há fonte identificada ou é desconhecida. 

05. Desconfie de montagens grosseiras em fotos ou vídeos; em geral, é manipulação. 

06. Confira a data da suposta notícia: pode estar defasada e fora de contexto. 

07.  Veja no Google se o assunto foi publicado em outros sites, em especial de jornais conhecidos. 

08. Observe a autoria do texto; muitas vezes, notícias falsas não têm autor. 

09. Verifique se a URL (endereço eletrônico) é de um site confiável; às vezes, o portal nem existe. 

10. Cuidado com páginas sensacionalistas: a chance de entrar numa fria é real. 

(Em Zero, outubro de 2021)

Quando o carnaval chegar

 Chico Buarque

Quem me vê sempre parado, distante
Garante que eu não sei sambar.
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando
E não posso falar.
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

Eu vejo as pernas de louça
Da moça que passa e não posso pegar.
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

Há quanto tempo desejo seu beijo
Molhado de maracujá.
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando
Que eu vou aturar.
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

E quem me vê apanhando da vida
Duvida que eu vá revidar.
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

Eu vejo a barra do dia surgindo,
Pedindo pra gente cantar.
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada
Quem dera gritar.
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.
 

Eu tenho tanta alegria, adiada

Abafada, quem dera gritar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar. 

Mas eu já tô indo embora,

Um outro que agora me tome o lugar.

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

A música “Quando o carnaval chegar”, de Chico Buarque, foi escrita em 1972, em plena ditadura militar. Como várias músicas de Chico e de outros artistas do período, usava uma linguagem figurada, cheia de sutilezas para, de uma forma bem brasileira, driblar a censura. Em meio a um samba aparentemente inocente, Chico passava mais uma mensagem sobre a situação da época, principalmente do sentimento de revolta, cultivado de maneira silenciosa, só esperando o momento adequado para agir e esperança que o Carnaval, isto é, a volta da democracia chegasse logo. 

Um novo ano, mais um carnaval. O que mudou de lá para cá? O que mudou na política, na sociedade, nos costumes? Continuamos esperando o carnaval chegar? 

E no carnaval de 2023, sem o Bolsonaro, pelo amor de Deus! 

P.S. “Quando Carnaval chegar”, está na internet, interpretado pelo próprio Chico  Buarque.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

A roupa faz a diferença?

 

Sem maiores preocupações com o vestir, o médico conversava descontraidamente com o enfermeiro e o motorista da ambulância, na frente de um hospital, quando uma senhora, elegante, chega e de forma ríspida, pergunta: 

‒ Vocês sabem onde está o médico do hospital? 

Com tranquilidade, o médico respondeu: 

‒ Boa tarde, senhora! Em que posso ser útil? 

Ríspida, retorquiu: 

‒ Será que o senhor é surdo? Não ouviu que estou procurando pelo médico? 

Mantendo-se calmo, ele contestou: 

‒ Boa tarde, senhora! O médico sou eu, em que posso ajudá-la? 

‒ Como?! O senhor?! Com essa roupa?!... 

‒ Ah, Senhora! Desculpe-me! Pensei que a senhora estivesse procurando um médico e não uma vestimenta... 

‒ Oh! Desculpe doutor! Boa tarde! É que... Vestido assim, o senhor nem parece um médico... 

‒ Veja bem como são as coisas... ‒ disse o médico ‒ ... as vestes parecem não dizer nada sobre as pessoas, pois quando a vi chegando, tão bem vestida, tão elegante, pensei que a senhora fosse sorrir para todos, e depois daria um simpaticíssimo “boa tarde!”; e perguntaria, educadamente, “onde está o medido do hospital?” Como a senhora percebeu, as roupas nem sempre dizem muito... 

Moral da História: 

Um dos mais belos trajes da alma é a educação.

Trechos do livro:

  “Enterrem meu coração na Curva do Rio”

Trechos do maravilhoso livro que inspirou o filme. Enterrem Meu Coração na Curva do Rio, de Dee Brown, fala sobre o alto custo e os baixos escrúpulos envolvidos nos chamados processos civilizatórios que forjaram o dito mundo desenvolvido de hoje.

“Os brancos introduziram a fumaça dos trens, o uísque, as doenças infecciosas e acabaram com as florestas e a vida selvagem.”

“Os índios sabiam que a vida equivale a terra e seus recursos, que a América era um paraíso, e não podiam compreender porque os invasores do Leste estavam decididos a destruir tudo que era índio e a própria América. E se os leitores deste livro, alguma vez, puderem ver a pobreza, a desesperança e a miséria de uma reserva índia moderna, acharão possível compreender realmente as razões disso.” 

“Vamos nos deixar destruir, por nossa vez, sem luta, renunciar a nossas casas, a nossa terra dada pelo Grande Espírito, aos túmulos de nossos mortos e a tudo que nos é caro e sagrado? Sei que vão gritar comigo: Nunca! Nunca!”. (Tecumseh)

“Os rios, de cujas águas límpidas e cristalinas se serviam esses povos, a maioria com nomes índios, já estavam turvados pelo lodo e pelos detritos dos intrusos; a própria terra estava sendo devastada e dissipada. Para os índios, parecia que os europeus odiavam tudo na natureza - as florestas vivas e seus pássaros e bichos, as extensões de grama, a água, o solo e o próprio ar.”

“Devemos viver perto do búfalo ou morrer de fome. Quando viemos aqui, viemos livremente, sem qualquer apreensão, para encontrá-lo; quando for para casa e disser ao meu povo que peguei na sua mão e nas mãos de todos os chefes aqui em Denver, ele se sentirá bem e, também, todas as várias tribos dos índios das planícies, depois de termos comido e bebido com eles.”

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Uma Vida

 Por Oswaldo Lontra

Um homem

Uma mulher

Um desejo

Um abraço

Um beijo

Um prazer

Uma dor

Um vagido

Um ser

Um carinho

Um chocalho

Um berço

Uma alegria

Um sorriso

Um anjinho

Nascer. 

Uma criança

Uma esperança

Um beabá

Um número

Uma tabuada

Uma escola

Um recreio

Uma bola

Um campinho

Uma pelada

Um campeão

Uma história

Uma leitura

Uma memória

Uma cultura

Uma equação

Uma vida

Uma gangorra

Uma vitória

Uma derrota

Uma lição

Saber. 

Um moço

Uma carência

Um faminto

Um desejo

Uma potência

Um poço

Um vulcão

Uma cegueira

Uma aventura

Uma transa

Uma explosão

Um delírio

Uma loucura

Uma surpresa

Um desamor

Uma ilusão

Errar. 

Uma gatinha

Um olhar

Um sorriso

Um namoro

Um baile

Uma coragem

Uma dança

Uma linguagem

Uma carícia

Uma promessa

Uma intriga

Um ciúme

Uma zanga

Um choro

Uma briga

Um interregno

Uma saudade

Uma volta

Um beijinho

Uma bonança

Uma jura

Uma palavra

Uma mentira

Uma esperança

Um perdão

Um sonho

Uma paixão

Sonhar. 

Um encontro

Uma mulher

Uma criatura

Uma pureza

Uma ternura

Uma beleza

Um amor

Um altar

Um sim

Uma união

Um lar

Um paraíso

Amar. 

Uma velhice

Uma vida

Uma saudade

Uma perda

Uma ausência

Uma ferida

Uma solidão

Um cansaço

Uma crença

Uma oração

Um cadáver

Um espaço

Um túmulo

Um rés-do-chão

Uma lápide

Um nome

Uma frase

Uma mentira

Uma cruz

Uma flor

Uma vela

Uma luz

Um choro

Um silêncio

Uma dor

Uma unção

Uma prece

Uma angústia

Uma lágrima

Um abismo

Uma penumbra

Um fim

Um retorno

A Deus!

“Quase”

 Sara Westphal Batista da Silva* 

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. 

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos “Bom dia”, quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. 

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu. 

******* 

* Sarah Westphal Batista da Silva (1983) é catarinense, autora da crônica 'Quase' que, durante anos, foi atribuída a Luís Fernando Veríssimo, sendo publicada na França, numa coletânea de escritores brasileiros, reunidos por uma escritora francesa.