terça-feira, 26 de outubro de 2021

Mínimas do Máximo

 Juremir Machado da Silva

Pouco conhecido nas rodas sociais por viver numa praia onde não tinha sinal de internet, Máximo é autor de mínimas anotadas à mão. Aqui vão algumas que produziu e mandou para comemorar sua entrada no WhatsApp.

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Por que a Câmara de Vereadores, que tem verbas para cultura, não quer ajudar a pagar a cobertura da Feira do Livro? Quer obras sem capa? (certo, não é uma grande mínima, mas Máximo, às vezes, usa o mínimo de espaço para fazer perguntas que possam trazer o máximo de esclarecimento).

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Tem dias que o sol do amanhecer é a única luz no fim do túnel.

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Quando o ministro da economia, do alto da sua sapiência, fura o teto de gastos, definitivamente não há mais como manter os pés no chão.

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Na época das utopias, quando tudo era possível em tese, um amigo poeta dizia: “Eu me contradigo, sim, por que meu sangue nunca coagula”. Nestes tempos pragmáticos ele é aconselhado a procurar atendimento.

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Ideologia é o nome que se dá à teoria dos outros.
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Digital: quando os dedos já não deixam marcas em papel.

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Chega uma hora em que a pessoa se olha no espelho e constata: tudo muda, menos a passagem do tempo e a política, que continua sendo a arte de entregar menos do que se promete por suposta culpa do clima, nome que se dá a um conjunto de circunstâncias produzida pelos próprios interessados.

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(In)temporais: a opinião pública é a mais terrível das ditaduras. O homem que luta contra ela, suicida-se. O homem que a ela se submete, torna-se escravo. Eis a prova de que a liberdade de expressão silencia.

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Acidez: capacidade de falar mal com o bom tempero.

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Há o tempo de semear ideias e o tempo de preencher formulários, o tempo de viajar e o tempo de olhar as imagens colhidas em deslocamento, o tempo de sonhar acordado e o tempo de prestar contas sonolento e fazer relatórios que não serão lidos, o tempo de criar e o tempo de fazer a declaração do imposto de renda mesmo tendo ganhado pouco, o tempo de correr mundo e o tempo de atravessar o deserto com o camelo nas costas.

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Liberdade é tudo: por isso só temos um pouco. 

(No Correio do Povo, outubro de 2021)

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