terça-feira, 12 de outubro de 2021

Gaúchos ou rio-grandenses?

 Por César Oliveira 


Gaúcho por Percy Lau

Afinal, quem somos nós, que nascemos no “garrão” deste país? Algumas vezes já falei por aqui sobre o “estado de espírito” de ser gaúcho, como disse Paixão Côrtes. Somos mundialmente conhecidos como gaúchos, mas será que todos sentimos pertencimento a ponto de assim nos entendermos? 

E desta vez não falo somente da cultura, do campo, da música “gaúcha”, do cavalo, da pilcha, do chimarrão. Falo do Estado, da história que é comum a todos nós e independe de sentimentos; da política, que hoje coloca nosso Estado novamente como uma referência nacional; do fato de sermos um dos exemplos na vacinação. 

Será que mesmo em meio a tantas turbulências acontecendo no país é possível enxergar o que está acontecendo de bom? É possível ainda ter esperança e sentir o peito vibrar ao falar “eu sou gaúcho”, mesmo sem nunca ter entrado em um CTG ou sequer tomar chimarrão? 

Existem muitos tipos de pertencimento, mas talvez por somente a cultura ter resistido ao tempo, muitos deixaram de ser gaúchos e passaram a ser apenas rio-grandenses no sentido objetivo e direto da palavra, sem analogias sobre ser parte ou não do país ao qual pertencemos, e isso não se questiona. 

Entendo que esse ponto de vista díscolo* não faz parte dos dias atuais e muito menos do futuro que se apresenta à nossa frente e está se tornando cada vez mais vigente, construindo uma realidade que pode nos beneficiar imensamente, seja no setor que nossa cultura em sua totalidade estiver inserida, pois somos assustadoramente culturais e, mais ainda, somos categoricamente regionais. 

Fomos outrora referência para outros Estados e povos de fora do país pelo posicionamento e contribuição para com a nação, sempre colocando e apresentando como passaporte e “cartão-postal” quem somos e de onde viemos. 

Gaúchos? Sim! Mas não estamos sozinhos e não somos os únicos; digo porque nossos “hermanos” dos países lindeiros, Uruguai e Argentina, também fazem parte dessa tribo que nos origina. 

Rio-grandenses? Sim! Principalmente por sermos o que somos graças a uma diversidade invejável que agrega inúmeras raças e etnias dentro de fronteiras geográficas. 

Além de ser um Estado de espírito adotado também por aqueles que não nascem no nosso Estado, todo esse “pertencimento” que nos identifica nos rende uma certeza: somos gaúchos rio-grandenses, nem mais, nem menos do que qualquer um dos nossos semelhantes. Apenas nos nutre a certeza de termos essência. 

(No jornal Zero Hora, outubro de 2021) 

*Díscolo: que ou aquele que tem mau gênio; intratável, insociável. Inquieto; brigão, desordeiro, insubordinado.

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