sexta-feira, 30 de setembro de 2022

O que são Fake News?

 

(Imagem de Adão Silva) 

Fake News são notícias falsas publicadas por veículos de comunicação como se fossem informações reais. Esse tipo de texto, em sua maior parte, é feito e divulgado com o objetivo de legitimar um ponto de vista ou prejudicar uma pessoa ou grupo (geralmente figuras públicas). 

As Fake News têm um grande poder viral, isto é, espalham-se rapidamente. As informações falsas apelam para o emocional do leitor/espectador, fazendo com que as pessoas consumam o material “noticioso” sem confirmar se é verdade seu conteúdo. 

O poder de persuasão das Fake News é maior em populações com menor escolaridade e que dependem das redes sociais para obter informações. No entanto, as notícias falsas também podem alcançar pessoas com mais estudo, já que o conteúdo está comumente ligado ao viés político. 

O termo Fake News ganhou força mundialmente em 2016, com a corrida presidencial dos Estados Unidos, época em que conteúdos falsos sobre a candidata Hillary Clinton foram compartilhados de forma intensa pelos eleitores de Donald Trump. 

Apesar do recente uso do termo Fake News, o conceito desse tipo de conteúdo falso vem de séculos passados e não há uma data oficial de origem. A palavra “fake” também é relativamente nova no vocabulário, como afirma o Dicionário Merriam-Webster. Até o século XIX, os países de língua inglesa utilizavam o termo “false news” para denominar os boatos de grande circulação. 

As Fakes News sempre estiveram presentes ao longo da história, o que mudou foi a nomenclatura, o meio utilizado para divulgação e o potencial de persuasão que o material falso adquiriu nos últimos anos. 

Muito antes de o Jornalismo ser prejudicado pelas Fake News, escritores já propagavam falsas informações sobre seus desafetos por meio de comunicados e obras. Anos mais tarde, a propaganda tornou-se o veículo utilizado para espalhar dados distorcidos para a população, o que ganhou força no século XX. 

(...) 

Em 2014, o Brasil presenciou o caso de uma Fake News que teve um fim trágico. Notícia divulgada pelo UOL Notícias relatou que moradores de Guarujá/SP lincharam uma mulher até a morte por causa de um boato divulgado no Facebook. Ela foi acusada de sequestrar crianças para fazer rituais de magia negra, no entanto, a informação era falsa. 

(...) 

Movimentos antivacinação voltaram a crescer nos últimos anos. Algumas pessoas contrárias ao uso de vacinas disseminam notícias falsas e propagam suas visões de que vacinar a população faz mal, o que é um problema grave, pois a resistência à vacinação coloca em perigo a população. 

(Do Blog Brasil Escola) 

Como escapar de notícias falsas? 

Para se proteger contra as fake news, verifique sempre as informações recebidas e certifique-se da veracidade da notícia antes de compartilhar. Na dúvida, não compartilhe. 

Siga as nossas dicas: 

→ Títulos sensacionalistas ou milagrosos? Tenha dúvida, geralmente são feitos para acumular cliques e não necessariamente passar veracidade. Procure as informações em outros veículos, especialmente aqueles que você já conhece e confia. 

→ Confira a data da publicação. Uma notícia real, porém, antiga, pode causar pânico ou criar expectativas sobre alguma situação já resolvida ou controlada.  

→ A fonte realmente existe? É um canal com credibilidade? Há outras publicações duvidosas nesta plataforma? É sempre interessante investigar mais a respeito do site em questão. 

→ Consulte sites de verificação gratuitos. Repassar informações falsas, ainda mais se forem de grande complexidade, é perigoso. Não alimente as fake news. 

(Do Blog TJPR)

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Quanto vale o meu voto?

 Cláudio Moreno

O que caracteriza um povo civilizado? É grande a variedade de critérios que podemos adotar. Para os primitivos navegantes do mundo grego, ao chegarem a uma ilha desconhecida, o indício decisivo era a presença de campos cultivados − critério bem diferente, aliás, do que foi o adotado por um viajante inglês que, no século passado, acabou se perdendo numa trilha remota das montanhas dos Bálcãs: “Depois de caminhar por onze horas sem encontrar o mínimo vestígio de seres humanos, foi com alegria e com imenso alívio que pude ver, numa árvore, o corpo de um enforcado balançando na ponta de uma corda, pois isso me trouxe a certeza absoluta de que tinha chegado de novo à civilização”. Ora, para o autor desta coluna, prezado leitor, povo civilizado é o que acredita na importância de votar.

Para justificar minha escolha, trago um incidente de 2.500 anos atrás, que já foi tema de uma crônica incluída no meu livro Cem Lições para Viver Melhor. Peço escusas ao leitor pela deselegância de citar a mim mesmo, mas não conheço exemplo melhor que o daquele teimoso capitão que ficou imortalizado na batalha de Plateia, quando Esparta e Atenas derrotaram os persas comandados por Mardônio. Eis a história: 

“Por vários dias, numa planície da Beócia, gregos e persas vinham se estudando à distância, aguardando o momento propício para atacar. Como a água estava escassa, o alto comando grego decidiu aproveitar a escuridão da noite e recuar seu exército para uma região mais rica em fontes e mananciais. Os atenienses receberam a ordem sem discutir, mas o mesmo não ocorreu entre os espartanos: Amonfareto, chefe de um batalhão, recusou-se a obedecer, dizendo que ele e seus homens estavam ali para enfrentar os bárbaros que ameaçavam sua pátria e não iriam partir sem lutar. Os chefes alegaram que isso já estava decidido, mas ele redarguiu, indignado: “Pois eu voto por ficar!” − e, abaixando-se, pegou uma pedra no chão e foi depô-la aos pés do comandante geral, exatamente como se votava nas assembleias de Esparta. 

Como ninguém queria deixá-lo para trás, começaram a discutir, tentando convencê-lo a partir. Enquanto isso, os atenienses, que tinham começado a retirada, detiveram-se alguns quilômetros depois, ao perceber que seus aliados espartanos não se moviam do lugar. Quase ao amanhecer, mandaram um mensageiro até lá; ele voltou perplexo, informando que todos estavam empenhados numa discussão interminável. 

Quando o dia raiou, os persas viram o campo grego praticamente deserto: avistaram apenas a retaguarda do exército espartano que, apesar dos protestos de Amonfareto, começava a se afastar lentamente por trás de uma colina. Mardônio ordenou que apenas a cavalaria partisse em seu encalço, mas os demais chefes persas, imaginando que os gregos tivessem se acovardado, abandonaram suas posições e avançaram desabaladamente, preparando-se, não para combater, mas para caçar fugitivos apavorados. O resto é história: os espartanos fizeram frente à primeira onda do ataque, os atenienses voltaram para socorrê-los e os exércitos desordenados de Mardônio sofreram uma derrota fatal.” 

O que o espartano queria? Apenas participar, com uma pedrinha que fosse, da marcha dos acontecimentos. Podia simplesmente acompanhar os outros, mas não quis renunciar ao direito de expressar sua opinião na assembleia − no que estava certo, pois seu voto terminou afetando o desenrolar da batalha. Essa saudável vontade de influir, de ter algum peso no curso da História, por ínfimo que seja, talvez seja a última ilusão que ainda me resta. Sei que muitos, por cansaço ou desencanto, já desistiram e parecem não mais se importar se o seu candidato mentiu, roubou ou traiu os princípios que jurava defender nas eleições passadas − mas eu me importo. Por pura teimosia. 

******* 

(Do jornal Zero Hora, setembro de 2022) 

P.S. Os gregos eram os povos atenienses e espartanos que viviam no mesmo país, a Grécia. Atenas e Esparta eram as principais cidades gregas, e cada uma tinha um poderoso Exército que lutava unido contra o invasor persa. 

A Pérsia era o país invasor, e seu Exército era comandado pelo chefe persa Mardônio. 

O Exército espartano era comandado pelo chefe Amonfareto. 

O Exército grego era composto por tropas atenienses e espartanas.

Frases de humor

 

O Jô Soares nos fazia rir, morreu, o Bozo continua aí fazendo muitos chorar... 

As mulheres estão descobrindo que mulher é bom − coisa que os homens já sabem há séculos. (Chico Anysio) 

O que se leva da vida... É a vida que se leva! (Barão de Itararé) 

O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde. (Millôr Fernandes)  

O dinheiro não só fala, como faz muita gente calar a boca. (Millôr Fernandes)  

Ser gênio não é difícil. Difícil é encontrar quem reconheça isso. (Millôr Fernandes)  

Ser pobre não é crime, mas ajuda muito a chegar lá. (Millôr Fernandes)  

Chama-se celebridade um débil mental que foi à televisão. (Millôr Fernandes) 

É bem melhor pensar sem falar do que falar sem pensar.  (Jô Soares)

Era um sujeito realmente distraído: na hora de dormir, beijou o relógio, deu corda no gato e enxotou a mulher pela janela.  (Jô Soares)

Está bem que você acredite em Deus. Mas vai armado. (Millôr Fernandes) 

A diferença entre a galinha e o político é que o político cacareja e não bota o ovo. (Millôr Fernandes) 

Eu era muito jovem para ter um carro. Então transava com as moças no banco de trás de minha bicicleta. (Woody Allen) 

O meu amor e eu nascemos um para o outro, agora só falta quem nos apresente. (Barão de Itararé) 

Diz-me com quem tu andas, que se não for eu, eu não vou. (Jô Soares) 

De onde menos se espera, daí é que não sai nada. (Barão de Itararé) 

Dito e feito; tudo foi dito e nada foi feito. (Millôr Fernandes) 

Amor ao próximo é folgado, o difícil é se dar com o homem ao lado. (Millôr Fernandes) 

Isto sim é que e Congresso eficiente! Ele mesmo rouba, ele mesmo investiga, ele mesmo absolve. (Millôr Fernandes) 

Não tenho possibilidade de consertar nada, mas tenho a obrigação de denunciar tudo. (Chico Anysio 

Chato, é aquele que explica tudo tim-tim por tim-tim... e depois ainda entra em detalhes. (Millôr Fernandes) 

As mulheres são mais irritáveis porque os homens são mais irritantes. (Millôr Fernandes) 

Me arrancaram tudo à força e depois me chamam de contribuinte. (Millôr Fernandes) 

Se existe tanta crise é porque deve ser um bom negócio. (Jô Soares) 

A gente só não tem tempo para aquilo que a gente não está com vontade de fazer. (Jô Soares)


terça-feira, 27 de setembro de 2022

O valor da esmola

 

Um mendigo que esmolava à porta de uma grande mesquita ergueu, certa vez, ao Altíssimo a seguinte prece: 

− Senhor! Fazei com que as primeiras esmolas que me forem dadas hoje tenham para mim o mesmo valor que tiverem aos vossos olhos!

Momentos depois cruzava a mesquita um rico Sheik que regressava de uma festa acompanhado de vários amigos e admiradores. Tomou o orgulhoso de um punhado de ouro e com o fito especial de deslumbrar os que o rodeavam, atirou as rutilantes moedas aos pés do velho mendigo. O infeliz, em sinal de gratidão, beijou o chão que o nobre senhor pisara. 

Quando, porém, procurou juntar as moedas que recebera, notou, com indizível surpresa, que elas se haviam transformado em folhas secas.

No mesmo instante compreendeu o mendigo − ao recordar-se da prece que pouco antes fizera − que aquela transformação milagrosa era obra de Allah, o Onipotente: as moedas dadas pelo orgulhoso Sheik não passavam de folhas secas e inúteis que o vento arrasta, espedaça e reduz a pó.

E o mendicante tomado de profunda tristeza começou a lamentar a sua triste sorte.

Um humilde tecelão que passava compadeceu-se da situação do infeliz pedinte e deu-lhe um punhado de tâmaras, pois não trazia de seu nem mesmo um simples dinar de cobre. 

Realizou-se, porém, um novo milagre: as tâmaras ofertadas pelo tecelão, mal caíram entre as mãos do mendigo, transformaram-se em pérolas e rubis.

Louvado seja Allah, Justo e Clemente! A esmola dada por ostentação é, aos olhos de Deus como folhas seca do caminho; o óbulo piedoso, esse vale mais do que todos os tesouros de um califa!

(Malba Tahan)

Anúncios curiosos de jornais

 

Troca-se vestido de noiva por carrinho-de-bebê.” 

“Vende-se mala por motivo de viagem.” 

“Vende-se um aquário com piranhas e doa-se uma pata sem pé.” 

Aviso na entrada de um cemitério numa pequena cidade do interior de São Paulo:

“Só tem direito de serem sepultados aqui, os mortos que vivem nesta cidade.”

Em uma loja especializada em cães e artigos para cães, lê-se na placa de sua fachada:

“Tudo para cães – acessórios, equipamentos, alimentos, artigos de limpeza, remédios, livros.”

Anúncio publicado em um jornal do interior de São Paulo:

“Vende-se cão policial. bom para a guarda.

Está acostumado a comer qualquer coisa.

Gosta muito de crianças.”

Em uma fantasia do Super-Homem para crianças:

“O uso deste traje não o habilita a voar” 

Em uma barbearia em Portugal:

“Corto cabelo e pinto” 

“Aluga-se quarto a menina por estrear”

Claro que o que estava “por estrear” era o quarto. 

No banheiro de uma faculdade:

“Este banheiro só pode ser usado pelos professores e pelos não professores.” 

Já dentro do banheiro:

“Pede-se o favor de, quando usar o mictório, efetuar a descarga,

a fim de evitar o cheiro nauseabundo que este banheiro já tem.” 


As máximas do Millôr

 

Millôr por Fraga

Þ Deus existe. Mas é evidente que depois dos voos interplanetários, mudou-se para mais longe. 

Þ Não tenho mudado muito de atitude nos últimos anos, mas mudei duas vezes de apartamento e, no fundo, talvez isso seja até mais radical. 

Þ Como o passar dos anos, as pessoas mudam muito. E algumas nem deixam o endereço. 

Þ Como o tempo passa! Ainda ontem esses meninos que hoje nos assaltam apenas nos pediam as horas. 

Þ Muita gente acha que o melhor é deixar como está pra ver como é que fica. Mas basta observar algum tempo qualquer pessoa sentada pra se perceber que a mudança é fundamental ao ser humano – nem que seja pra descansar um lado da bunda. 

Þ Já não sou mais aquele – e ainda não sou outro. 

Þ Em minha vida, vi pessoa de “esquerda” aos poucos assumirem posições conservadoras, logo de direita, e acabaram como tremendos reacionários. Nunca vi o contrário, nem como exceção. 

Þ Mutação importante na espécie corruptius burocraticus: o corrupto atual jamais usa colarinho branco. 

Þ Paro, neste bairro que conheço de infância, hoje distantes (bairro e infância), e olho a demolição de mais uma casa, bela, por ser casa. Anunciam que vão erguer aí um belo edifício-garagem, como se edifício-garagem pudesse ser belo – a função traz a forma. Mas nada a fazer, tudo muda. Tudo muda, tudo cansa, tudo passa. Só dinheiro, desde que o mundo é mundo, não muda, não cansa, não sai de moda. 

Do livro “A Bíblia do Caos”, de Millôr Fernandes, L&PM Editores.

As mãos

 

Naquela manhã, o jovem professor chegou à escola um tanto cabisbaixo. 

Problemas se somavam e pesavam sobre sua sensibilidade de jovem idealista. 

Estava difícil suportar. Foi então que, durante uma reunião de trabalho, ele não pode controlar as lágrimas que lhe escorreram pelo rosto, em abundância. 

Uma amiga, que o observava, em silêncio, estendeu as mãos e segurou as dele, num gesto de ternura. 

Foi uma atitude simples, mas significou muito para aquele jovem, pois ele sabia que a amiga tinha uma vida superatarefada, muitas atividades e preocupações com os filhos, marido, empresa, mas, mesmo assim, tinha tempo para dedicar aos amigos, para estender-lhe as mãos. 

Aquele gesto simples levou o jovem a escrever sobre a importância das mãos. 

O texto diz mais menos assim: 

As mãos podem muitas coisas: oferecer apoio no momento certo, estender-se para consolar, segurar firme para amparar. 

Mas o que mais podem as mãos? 

As mãos saúdam, as mãos sinalizam. As mãos envolvem, dão carinho. 

As mãos estabelecem limites. Escrevem, abençoam. 

As mãos desenham no ar o “adeus”, o “até logo”. 

As mãos agasalham. Curam feridas. 

Para o mundo a mão é o verbo. Para o idoso é a segurança. 

Para o irascível a mão erguida é ameaça. 

Não aguardemos pela iniciativa dos que nos cercam na realização do que a todos compete efetuar. 

Quem cruza os braços em função da inércia alheia, confunde-se na multidão dos que nada fazem. 

Responsabilizar os outros não produz nada de útil. 

Apontar equívocos alheios não nos autoriza a ignorar os nossos próprios. 

As mãos 

Há mãos que sustentam e mãos que abalam.

Mãos que limitam e mãos que ampliam.

Mãos que denunciam e mãos que escondem os denunciados.

Mãos que se abrem e mãos que se fecham. 

Há mãos que afagam e mãos que agridem.

Mãos que ferem e mãos que cuidam das feridas.

Mãos que destroem e mãos que edificam.

Mãos que batem e mãos que recebem as pancadas por outros. 

Há mãos que apontam e guiam e mãos que desciam.

Mãos que são temidas e mãos que são desejadas e queridas.

Mãos que dão arrogância e mãos que se escondem aos dar.

Mãos que escandalizam e mãos que apagam os escândalos.

Mãos puras e mãos que carregam censuras. 

Há mãos que escrevem para promover e mãos que escrevem para ferir.

Mãos que pesam e mãos que aliviam.

Mãos que operam e que curam e mãos que amarguram. 

Há mãos que se apertam por amizade e mãos que se empurram por ódio.

Mãos furtivas que traficam destruição e mãos amigas que desviam da ruína.

Mãos finas que provam dor e mãos rudes que espalham amor. 

Há mãos que se levantam pela verdade e mãos que encarnam a falsidade.

Mãos que oram e imploram e mãos que devoram.

Mãos de Caim que matam.

Mãos de Jacó que enganam.

Mãos de Judas que entregam.

Mas há também as mãos de Simão, que carregam a cruz,

e as mãos de Verônica, que enxugam o rosto de Jesus. 

Onde está a diferença?

Não está nas mãos, mas no coração

É na mente transformada que dirige a mão santificada, delicada.

É a mente agradecida que transforma as mãos em instrumentos de graça.

Mãos que se levantam para abençoar,

Mãos que baixam para levantar o caído,

Mãos que se estendem para amparar o cansado.

São como as mãos de Deus que criam, que guiam,

que salvam; que nunca faltam.

Existem mãos... e mãos... 

As tuas, quais são?

De quem são?

Para que são? 

(Autor desconhecido)

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

O significado das palavras

 (Perguntas que os garotos nos fazem.)

O garoto perguntou ao pai qual era a diferença entre potencialmente e realmente. O pai pensou um pouco e respondeu: 

- Filho, faça as seguintes perguntas e me traga as respostas. Primeiro, pergunte a sua mãe se por 100 mil reais ela faria amor com o Antônio Fagundes. Depois pergunte a sua irmã se por 100 mil reais ela faria amor com o Rodrigo Santoro. E, finalmente, pergunte a seu irmão se por 100 mil reais ele faria amor com o Tiago Lacerda. Depois me traga as respostas que eu te explico a diferença entre potencialmente e realmente. 

Horas depois, o filho voltou e descreveu ao pai as respostas de cada um dos três: 

- Mamãe falou que nunca pensou em te trair, mas que por 100 mil reais e com o Antônio Fagundes, ela não pensaria duas vezes. A Maninha respondeu que seriam dois sonhos realizados de uma só vez: transar com o Rodrigo Santoro e ainda ganhar uma grana. E, finalmente, meu irmão falou que por 100 mil reais faria amor até com o Didi dos Trapalhões, que dirá com cara boa pinta que nem o Tiago Lacerda. 

E responde o pai: 

- É isso aí: Potencialmente nossa família tem condições de ganhar 300 mil reais. Realmente, vivemos juntos com duas piranhas e uma bichona! 

§ § § 

Garoto pergunta ao pai o que significa a palavra compensação. O pai coça a cabeça, e faz o seguinte raciocínio com o filho. 

- Filho, suponhamos que você ainda não seja nascido. Eu tenho que fazer uma viagem de dois anos e ficar fora de casa por esse tempo. Ao retornar, sua mãe está com você, recém-nascido, nos braços e um carro novo na garagem. O que é que eu sou? 

- Você é corno, papai! Diz o garoto sem vacilar. 

Responde o pai com um sorriso irônico nos lábios: 

- Em compensação... você é um filho da ... 

Pequenos diálogos

 Jô Soares


Médico – O senhor não tem nada com que se preocupar. Eu já tive essa mesma doença e fiquei bonzinho.

Paciente – Eu sei, doutor. Só que o seu médico era outro. 

Mãe – Quem era aquele homem que estava ontem te agarrando na rua e te beijando na boca?

Filha – A que horas? 

Mulher – Será que você tem de ficar olhando pra toda moça que entra no restaurante?

Marido – Você diz isso por causa daquela loura de rabo-de-cavalo, minissaia verde, olhos azuis, brincos de marfim, unhas pintadas de vermelho sapatos de crocodilo e bolsa combinando?

Mulher – É!

Marido – Eu nem olhei pra ela. 

Homem (ao telefone) Doutor, eu estou com dor de estômago e minha mulher já está procurando o manual de primeiros socorros. Venha pra cá correndo!

Médico – Mas por que a pressa?

Homem – Eu tenho medo de que ela ache! 

Pai – Está vendo, meu filho, como eu sempre acordo bem cedo para trabalhar, hoje achei esta carteira cheia de dinheiro no meio da rua.

Filho – Me desculpe, pai, mas quem perdeu a carteira acordou ainda mais cedo do que você. 

Paciente – Doutor, socorro! Um cachorro mordeu minha perna!

Médico – Meu amigo, o senhor não sabe que eu só atendo das 14 às 18?

Paciente – Eu sei, quem não sabe é o cachorro. 

Atriz jovem – Eu decidi não me casar antes de fazer 25 anos.

Atriz velha – Eu decidi não fazer 25 anos antes de me casar. 

Mecânico – Meu tio é um craque. Resolveu construir um automóvel com motor Fiat, chassi Chevrolet, rodas Ford, pneus de jipe e ignição de Volkswagen.

Amigo – Que incrível! E o que é que ele conseguiu?

Mecânico – Três anos de prisão. 

Cavalheiro – Por favor, me leve até o vigésimo andar.

Ascensorista – Desculpe, cavalheiro, mas este prédio só tem dez andares.

Cavalheiro – Então me leve duas vezes até o décimo. 

Guarda – Minha senhora, é proibido tomar banho nesse lago.

Moça – E o senhor não podia ter me avisado antes de e tirar a roupa toda?

Guarda – É proibido tomar banho, não é proibido tirar a roupa. 

Amigo 1 – Como é que ensina uma garota a nadar?

Amigo 2 – Você a coloca gentilmente dentro d’água, passa o braço pela sua cintura com muito carinho, pede pra ela ir movendo os braços e vai aproveitando pra dar uns beijinhos na nuquinha dela.

Amigo 1 – Mas é a minha irmã!

Amigo 2 – Então joga ela na água.

 

O Grande Deserto

  

A mulher, no outro compartimento, afastada do marido e do filho, refazia a programação do seu robô doméstico. Ela desejava a limpeza do jardim de grama artificial, pois existiam muitas embalagens descartáveis jogadas no chão desde a noite anterior. 

O marido organizara uma reunião com o objetivo de criar o Comitê que iria até o “Grande Conselho” reivindicar direitos fundamentais, como o de poder opinar sobre a escolha de seus representantes, obter igualdade com as mulheres nas atividades profissionais e ter o direito de escolher o destino dos filhos:  se eles seriam operários ou dirigentes. 

A maior revolta da comunidade consistia na determinação do Grande Conselho de enviar um Engenheiro Genético até seus domos e administrar drogas que transformariam as aptidões natas de seus filhos, cuidados por eles com carinho extremos nas incubadoras. 

O homem e a criança despediram-se da mulher e saíram do domo, cada um com seu reservatório de oxigênio fixado à cintura por uma presilha magnética. De mãos dadas, caminhando lentamente para não sofrerem desgastes desnecessários, entraram no tubo transportador. 

- Pai, me mostra hoje o Grande Deserto. O senhor me prometeu! 

O homem ficou pensativo por alguns instantes e, depois, olhando para a criança, respondeu: 

- Filho, que ideia mais absurda. Não tem nada de bonito nele. Vamos olhar a Reserva Verde. Lá você poderá correr sem necessidade do reservatório de oxigênio. Você poderá até tocar em vegetais de verdade. 

Em vão, o homem tentava demover o filho. Finalmente, ante a obstinação da criança, contrariado, cedeu. Acomodaram-se no tubo transportador e, através do intercomunicador, solicitou a parada GD-Zero. No painel apareceram sinais luminosos referentes à programação que estava sendo desenvolvida na CDS (Central de Deslocamentos Subterrâneos). Assim que o tubo transportador venceu a inércia, seus corpos sofreram pressão sobre as poltronas. Ao mesmo tempo, apareceu no écran o valor da “taxa de transporte”, em números vermelhos. O homem colocou o polegar direito no orifício de identificação digital, para ser descontado de sua cota mensal de deslocamentos. 

Antes de saírem do tubo transportador, colocaram suas máscaras sobre o nariz e boca. Através de um comando existente na porção superior do reservatório, liberaram o oxigênio. 

Quando saíram do tubo transportador, receberam um impacto. Era a diferença da pressão e luminosidade do ambiente. Seus corpos ficaram pesados, seus passos lentos. A vastidão do terreno inóspito que passaram a contemplar, trouxe uma espécie de desânimo para eles. Agora, eles estavam fazendo parte do cenário da antevida, da grande solidão do nada. Pararam e giraram sobre si mesmos. 

A vista da cidade era bonita. Todos os domos mostravam suas cúpulas brilhantes e reticuladas. Faziam giros intermitentes, para acompanhar o próprio deslocamento solar, à procura de mais energia. As vias áreas estavam movimentadas. Mesmo daquela distância, eles podiam ver os passageiros sendo transportados por aerotréns impulsionados pelo laser. Embora a atmosfera fosse extremamente rarefeita, percebiam os ruídos da cidade. Os dois formavam uma minúscula ilha viva, cercada pelo Grande Deserto. 

- Pai, o que é aquela cúpula esverdeada entre os domos? 

- Aquilo  respondeu o pai  é uma construção muito antiga, que servia para os homens se protegerem da própria insegurança, da sua solidão face ao Universo e da falta de respostas que a ciência ainda não lhes podia proporcionar. Por isso, os antigos buscavam respostas na crença de seres intangíveis. Eles chamavam essa construção de Catedral. 

A criança ficou olhando para o pai, enquanto ele fazia descrições da construção em ruínas. O que mais chamou a atenção da criança foi o fato de os antigos usarem unidades chamadas tijolos. Afinal, era mais fácil preparar um domo.  Bastava escolher um local e inflar. 

O pai estendeu a mão para o filho e viraram-se em direção a outro monumento histórico. Era, também, uma construção de tijolos, que se erguia muito alta, vertical e cônica. 

- E isso aí, pai, para que servia? 

Quando o homem ia iniciar a explicação, ouviram o alarme colocado no pulso da criança. Era a hora da alimentação. Ele aguardou que o filho abrisse a pequena caixa plástica que havia tirado do bolso, afastasse por instantes a máscara, e colocasse o pequeno comprimido na boca. O pai esperou que o filho deglutisse seu alimento e continuou a falar: 

- Esse tubo, de algum modo, ajudava na obtenção de um gás. Os antigos convertiam esse gás em energia. A população recebia o gás através de condutos subterrâneos até suas casas e fábricas. Eles o queimavam para obterem calor. Agora, meu filho, nós obtemos a energia através de minúsculas pilhas atômicas colocadas nos domos.  Embora corramos algum perigo, custa pouco e, por isso, vale corrermos o risco, segundo afirma o Grande Conselho. 

Os dois ficaram olhando para a antiga construção por alguns instantes, até que a criança se manifestou. 

- Pai, estou cansado. Acho que caminhamos demais... 

O homem passou a mão sobre a cabeça do filho, num gesto de puro carinho. 

- Também penso a mesma coisa, meu filho. Ainda temos bastante oxigênio. Vamos abrir as válvulas dos reservatórios até atingirmos 760 mm de pressão. Isso irá nos reanimar um pouco mais. Ao mesmo tempo, acionaram as válvulas. 

- Pai, vamos mais para a direita. Eu quero olhar mais de perto aquela construção circular, lá adiante. 

- Era nessa construção que os antigos praticavam esportes. Isso era na época que o ar não era rarefeito e o corpo humano não possuía as limitações que temos hoje. Essa construção abrigava milhares de pessoas para assistirem a uma disputa. 

Ao final da descrição, de mãos dadas, os dois foram se afastando lentamente, até alcançarem as esteiras rolantes que os levariam até a estação do tubo transportador. Já na esteira, a criança fez mais uma indagação.  

- O que era tudo isso aqui, antes de se tornar o Grande Deserto? 

Enquanto se deixava levar pela esteira, o homem tentava estruturar seus pensamentos à procura de uma resposta. 

- Não sei. O melhor será consultarmos nosso terminal de dados lá no domo. 

Quando retornaram, a criança dirigiu-se rápido para o compartimento onde estava instalado o terminal e digitou: 

- Ajuda; 

- Dados Históricos; 

- Grande Deserto: Nome de origem. 

Passaram-se aproximadamente dois minutos e a resposta surgiu no centro do écran. 

RIO GUAÍBA. 

Do livro:

“O hidronauta e outros contos de ficção científica”,

de José Rafael Rosito Coiro.

domingo, 25 de setembro de 2022

8 coisas que as mulheres reparam em um homem

 

É muito natural nós, mulheres, percebermos que estamos sendo observadas por olhares masculinos. Muitas vezes os olhares não são assim tão bem vindos, porém, quando há reciprocidade, eles até podem agradar. 

Por outro lado, apesar de não ser tão comum e evidente, nós, mulheres, também acabamos tendo nossa atenção retirada por homens pelas ruas, ou até mesmo em situações onde acabamos de ser apresentados. 

Agora que falamos disso, queremos saber! Você realmente sabe o que nós, mulheres, notamos nos homens ao olhá-los pela primeira vez? Não? Então não se preocupe e, claro, não durma com a dúvida, dá uma olhadinha no que listamos aqui em baixo. 

1→ Os detalhes de seus traços 

Não tem jeito, tanto mulheres quanto homens estão fadados a sempre direcionar o seu primeiro olhar para o rosto e consequentemente traços de que vê pela primeira vez. 

Após essa primeira análise, que pode levar apenas segundos, uma mulher já está apta a dizer se se sentiu atraída ou não por aquela pessoa a qual observou. 

2 → Seu sorriso 

O sorriso também está englobado nos traços gerais do rosto, porém ele recebe uma atenção especial. Um homem com um sorriso atraente, por exemplo, mas que possui alguns traços não tão belos, pode acabar chamando a atenção de uma mulher, pelo fato desta característica ser muito valorizada. 

3 → Seus cabelos e barba 

Obviamente, cada mulher terá a sua preferência para cabelos e barba (ou até mesmo a ausência da mesma). Porém de ambas as formas, essas características também são avaliadas, mesmo que inconscientemente. 

4 → Sua postura e modo de andar 

Muitos homens não percebem o quanto a postura, por exemplo, pode ser importante na hora de causar a primeira impressão. Até porque um homem pode ser fisicamente muito atraente, e mesmo assim perder muitos pontos por ser muito desmazelado, sem postura ou desajeitado. 

5 → Como está vestido 

Eis uma característica que é bastante democrática. Visto que sim, um homem bem vestido chama muito mais a atenção de uma mulher, do que um homem que não sabe se vestir, e, por outro lado, essa característica pode ser adquirida, o que é bastante interessante. 

Lembrando que um homem não precisa usar roupas caras ou fazer verdadeiros investimentos para estar bem vestido, afinal, bom gosto é uma qualidade que não está relacionada a status ou classes sociais. 

6 → Como se comporta 

Você bate os olhos em um homem pela primeira vez, vocês estão no mesmo ambiente, e o que você reparou fisicamente nele até então de agradou. O próximo passo? Observar como ele se comporta por alguns instantes!

 Pode ser o modo como conversa no telefone, como trata as pessoas a sua volta e até mesmo como conversa com uma outra mulher. Os homens, geralmente, não sabem, mas simpatia e naturalidade são características muito observáveis e valiosas para as mulheres. 

7 → Seu corpo 

Se para os homens o corpo de uma mulher é uma das primeiras coisas a ser observada, para as mulheres pode ser que a conversa não seja muito diferente. 

Geralmente, esse fator não é essencial, mas um homem com um porte físico trabalhado pode acabar chamando a atenção do olhar feminino por isso. 

8 → Características específicas como tatuagens e afins 

Nem todas as mulheres se interessam por esse tipo de característica como a tatuagem, por exemplo, mas sempre existirá pequenas características físicas e pessoais que as mulheres em sua individualidade poderá adorar. Por isso, cada mulher procurará no homem que observa a característica que mais a agrada e chama atenção. 



sábado, 24 de setembro de 2022

Como compreender as mulheres

 

Homem e mulher conversando na cama: 

Homem: 

− O que você tem? 

Mulher: 

− Nada. 

Homem: 

− Foi alguma coisa que eu disse? 

Mulher: 

− Não. 

Homem: 

− Foi alguma coisa que eu não disse? 

Mulher: 

− Não. 

Homem: 

− Foi algo que eu fiz? 

Mulher: 

− Não. 

Homem: 

− Então algo eu devia ter feito? 

Mulher (pensando): 

Homem: 

− Foi alguma coisa que eu disse referente a algo que fiz, quando a coisa que fiz não deveria ter sido feita, ou pelo menos deveria ter sido feita de modo diferente, mais de acordo com seus sentimentos? 

Mulher: 

− Talvez... 

Homem: 

− Eu sabia!

Tô Voltando

 Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós 

A canção da volta dos Exilados ao Brasil

Uma música pode ser feita com um sentido e um propósito, mas quando ela sai para o mundo e ganha seu público, ela pode adquirir uma conotação bem diferente daquela imaginada por seu compositor. Tenho certeza que Milton Nascimento não esperava, por exemplo, que “Coração de Estudante” viraria um hino da redemocratização do país, em 1984. 

Uma das músicas que ganhou essa importância e repercussão foi “Tô Voltando”, de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós. A música, que é como uma carta do homem para sua mulher, ele está distante, viajou, e está pedindo que ela prepare a casa e se prepare para sua chegada. 

O Homem elenca uma série de coisas que ele gosta, desde o feijão preto, a cerveja Brahma, o chinelo na sala, a casa cheia de flor… 

Passa em seguida a dizer de que maneira gosta de sua mulher sensual, com camisola nova, crianças e empregadas longe, quer que ela pegue uma cor e arrume o cabelo só para ele despentear e esquecer de tudo. 

Na verdade, a música foi feita a partir de uma ideia de Maurício Tapajós, cansado das viagens depois de uma turnê de mais de um mês no Nordeste, que estava com saudade de casa, e começou o mote da canção “Tô voltando”. 

No entanto, na internet, muita gente acha que essa música, ou foi composta por Chico Buarque. Explico. 

O ano era 1979, e o Brasil estava na campanha de Anistia dos exilados políticos da ditadura. Anistia que acabou saindo. E adivinha que música os primeiros exilados cantaram quando chegaram em solo nacional? Tô voltando!!! E como muitos identificam canções de combate à ditadura com Chico Buarque, muitos pensam hoje que a música é dele. Paulo César conta isso no seu “História das minhas canções”. O vídeo vem na voz de Simone, que eternizou o sucesso. 

TÔ VOLTANDO 

Maurício (Tapajós) me ligou pra falar sobre uma ideia que tivera no caminho de volta. Cansado da tensão de palco (sem o hábito de cantar pra o público) e de tanta farra, bateu nele, já no finalzinho, uma saudade imensa de casa, da mulher, dos filhos, do Leblon, do Rio. E de Tapajós pra Tapajós ele dizia, às vésperas do retorno: 

– Nem acredito que eu tô voltando…

E esse mote não o abandonou mais. Só podia dar samba… Com o violão na mão e o fone preso entre o ombro e a orelha cantarolou pra mim rascunho da melodia em que se repetia o “tô voltando”. 

– Quê que você acha, parceiro?

− Acho ótimo, gordo. Tô indo pra aí. Ainda aguentas mais um uísque? 

Passamos o resto do dia dando a forma à composição. 

Na manhã seguinte, já em meu escritório, fui burilando a letra. Era simples e popular a canção e os versos foram fluindo. Eu, que já passara tanto por isso, tantas as viagens que fizera, enormes as saudades de casa, sabia bem do assunto que devia abordar. O papo era recorrente à nossa profissão. Toda a classe artística sentia profundamente essa ânsia de regresso depois de cada temporada. E todos queriam as mesmas coisas que eu rabiscava agora naquele samba. Ficou lindo o que agente fez, e cheio de empatia. Era cantar uma vez e na segunda todos acompanhavam.Virava logo coro. Fácil de decorar. Senti imediatamente cheiro de sucesso. 

(...) 

Agora vocês vejam como a arte tem seus mistérios… 

Pouco tempo depois, estava eu vendo o Jornal Nacional da TV Globo cujo tema central era o dia do retorno dos exilados políticos ao nosso país, tendo sido conquistado, com muita luta dos que ficaram encarando o regime militar, a anistia ampla, geral e irrestrita, quando, pra minha surpresa, no avião lotado por nossos companheiros, entre entrevistas e choros ao vivo, entoou-se, numa só voz, o “Tô voltando”. A cena foi uma pancada no meu coração. 

A emoção tomou conta de mim e as lágrimas correram no meu rosto. Minha voz embargou. Os pelos eriçaram. Estufavam as veias e os nervos retesavam. 

Tive que respirar fundo e sair da frente da tevê pra não enfartar. 

A música tinha tomado outra conotação a partir dali. Virara o Hino dos Exilados. E é assim que é vista até hoje, pra meu regozijo. E é assim que pensam que ela foi feita, pra minha satisfação. O que mostra que o destino das canções não está em nossas mãos. Elas são o que elas quiserem ser, acima dos motivos por que foram feitas. Que bom que ela tenha virado o que virou.

Ergo um brinde a isso. Sempre. 

(Do Blog Música em prosa) 

Pode ir armando o coreto e preparando aquele feijão preto,
Eu tô voltando.
Põe meia dúzia de Brahma pra gelar, muda a roupa de cama,
Eu tô voltando.

Leva o chinelo pra sala de jantar,
Que é lá mesmo que a mala eu vou largar,
Quero te abraçar,
Pode se perfumar, porque eu tô voltando.
 

Dá uma geral, faz um bom defumador,
Enche a casa de flor, que eu tô voltando.
Pegue uma praia, aproveita, tá calor,
Vai pegando uma cor que eu tô voltando.

Faz um cabelo bonito pra eu notar,
Que eu só quero mesmo é despentear,
Quero te agarrar,
Pode se preparar, porque eu tô voltando.
 

Põe pra tocar na vitrola aquele som,
Estreia uma camisola, tô voltando.
Dá folga pra empregada,
Manda a criançada pra casa da avó,
Que eu tô voltando.

Diz que eu só volto amanhã se alguém chamar,
Telefone não deixa nem tocar.

Quero lá, lá, lá, ia, lá, lá, lá, ia, lá, lá, lá, ia
Porque eu tô voltando...