sexta-feira, 16 de setembro de 2022

O Escravo e o Filósofo

 

Estava um paxá cruzando o oceano num leve navio, quando desabou uma terrível tempestade. Um de seus escravos persas, que nunca antes estivera no mar, começou a chorar e gemer, gritando com tanto terror que ninguém conseguia consolá-lo. 

Por fim o paxá berrou irritado: 

− Não existe ninguém a bordo que possa acalmar este covarde? 

Um filósofo, que por acaso se encontrava no navio, disse: 

− Com vossa licença, senhor, penso que poderia acalmar este homem. 

− Pois tenta – disse o paxá. 

O filósofo observou o trêmulo escravo e convocou alguns marinheiros: 

− Atirai-o na água. 

Jogaram o escravo no mar. E ele começou a se afogar, e se debatia desesperadamente, e seus gritos eram terríveis. 

− Agora o içai para bordo – disse o filósofo. 

Os marinheiros puxaram o escravo de volta para o navio. Ele se agarrou ao convés, ofegante e assustado, mas silencioso. O paxá, impressionado e surpreso, perguntou ao filósofo: 

− Como explicas isto? 

Ao que o sábio respondeu: 

− Antes de ter uma mostra de afogamento, ele não poderia apreciar a abençoada segurança de um navio. 

Para os anjos do Paraíso, o Purgatório é inferno; mas para os condenados do Inferno, o Purgatório é Paraíso. 

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