terça-feira, 6 de setembro de 2022

Um soneto de Gregório de Matos

 

Gregório de Matos Guerra (1636-1696) é um dos grandes nomes da literatura em língua portuguesa. Luso-brasileiro, ele nasceu em Salvador, na Bahia, e é considerado o maior representante do Barroco no Brasil. Crítico e sarcástico diante dos desmandos e hipocrisias de políticos e de membros do clero católico, foi chamado de “Boca do Inferno”. Chocou a sociedade colonial com seus poemas eróticos, mas, perto do final da vida, manifestou arrependimento quanto à sua relação turbulenta com a Igreja e passou a refletir, nas suas obras, sobre a insignificância do homem perante Deus, consciente do pecado e em busca de perdão. 

Um de seus poemas, que reproduzimos abaixo e que é considerado de difícil entendimento, pode ser interpretado como em referência à Presença Real de Jesus na Eucaristia: Ele está inteiro na Eucaristia, está inteiro em cada parte da hóstia consagrada, e, portanto, cada pedaço da hóstia é Jesus inteiro, é Deus inteiro, indivisível. 

(Do Blog Aleteia) 

Ao braço do mesmo menino Jesus quando apareceu 

O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.
 

Em todo o sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
 

O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
 

Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo. 

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