segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Histórias de Esmeraldas


Everaldo parou num sinal. Logo chegou um pivete ao lado da janela do carro.

- Tio, me dá cinco real.

- Tenho cinco reais não, menino.

- Então me dá um real.

- Não tenho.

- Me dá uma moeda.

- Tenho moeda não.

E o garoto olhando o painel do carro:

- Deixa eu dar uma buzinada? 

Testemunha ocular 

Bafafá na zona de Luz. Uma puta foi esfaqueada. Diante do juiz, uma testemunha do ocorrido. O freguês acusado, de cabeça baixa, já estava calmo e de ressaca.

- A testemunha viu que o réu esfaqueou a prostituta?

- Vi, sim senhor. Ele enfiou a faca na quenga pelada.

- E a facada foi na refrega?

- Acho que foi entre o umbigo e a refrega da puta, seu juiz. 

Acreditando na galera 

Hélcio jogava no time do Campolina. Atuando na ponta direita, o lateral mandou-lhe a bola num passe de longa distância. Hélcio Canhão percebeu que seria impossível alcançá-la, mas, incentivado pela torcida, deu um pique sobre-humano e correu em direção à bola que cairia bem na pequena área do time adversário.

- Vai, Canhão, vai Canhão... – berrava os torcedores.

Hélcio dava tudo de si pra alcançar a bola. O goleiro saiu do gol chegando na bola antes do atacante do Campolina. Hélcio, que vinha a toda com gritos de “Vai, Canhão, vai Canhão”, chegou tarde e, ainda no pique, tropeçou e arrebentou o rosto contra o pau da baliza.

Sangrando, virou-se para a galera mostrando o rosto todo machucado:

- Olha aí o “vai, Canhão” docês!... 

Faz sentido 

Chico Clarião fez uma compra na venda de Pascoal e deu um cheque do banco do Brasil. O cheque foi devolvido. Pascoal foi cobrar de Chico.

- Chico, levei seu cheque no Banco e o banco disse que não tinha dinheiro.

Resposta de Chico.

- Ora, Pascoal, se o Banco do Brasil que é aquela potência, não tem dinheiro, eu é que vou ter? 

O viúvo 

O velho Geraldo Papa sofreu muito quando sua mulher morreu. No velório, ele ficou ao lado do caixão, acariciando a região pubiana da esposa e dizendo, choroso:

- Eu vou sentir muita falta dessa moita... Ô moita que já me deu prazer... 

Namoricos 

Namorado na roça pergunta pra moça:

- Maria, cê já viu ôio de onça no escuro?

- Vi, não.

- Se ocê vê, inté peida. 

Zona 

Sujeito vai à zona, dinheiro contado. Cheio de tesão, dá uma de galo e goza rapidinho. Insatisfeito, pergunta pra puta:

- Ô, dona, eu paguei tão caro e fui tão rapidinho.

- E a mulher:

- Cê não vai ficar no prejuízo, não. Cê gosta de chupar?

E o cara:

- Gosto, gosto!

- Então vou te dar quatro mangas. 

As Beatas 

Eram três velhas. Solteironas e muito religiosas. Com seus oitenta e tantos anos, todas as três ainda virgens. Como sempre acontece, viviam uma espezinhando a outra. Aquelas implicâncias e rabugices de velhotas. Nhanhá teve os grandes lábios colados, foi obrigada a fazer uma cirurgia. O médico lhe descolou os grandes lábios da vagina com o bisturi. Tempos depois, numa briga entre elas sobre quem era mai pura, casta e sem pecado, Nhanhá disse alguma coisa e veio o troco das irmãs:

- Você não pode falar nada. Você já foi experimentada! 

Cuidado com as palavras 

Encontro com Avelar e Aurélio no bar do Luciano. Os dois comentavam que a cidade estava muito violenta, muitos crimes e que havia muitos gays.

- No tempo que eu morei em Esmeraldas, a gente só tinha um ladrão, que era o Sô Hélio. Tinha até crachá de assaltante – lembrei. – Veados eram só quatro – acrescentei.

- Pois hoje só quatro é que não veados – brincou Avelar.

E Aurélio, sério:

- Temos que abrir o olho.

- Tem é que fechar o olho, senão vai ser um veado a mais. 

Apoio moral 

Peri, maestro da banda, foi visitar Jadir que estava pelas últimas. O amigo lembrou ao chefe da Euterpe Quiteriense:

- Peri, eu já te pedi. Quero a banda tocando no meu enterro. Você tá lembrado?

- Tô, inclusive nós já estamos ensaiando. 


 Do livro:

Chico Clarião fugiu com Cauby e outras histórias de Esmeraldas,

de Nani

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