Joel Silveira, Lagarto,
SE, 23 de
setembro de 1918
- Rio de
Janeiro,
15 de agosto de 2007, foi um jornalista
e escritor
brasileiro.
Þ Aborda-me na rua uma pessoa que não conheço:
- Você
é fulano?
Sem diminuir o
passo e já ansiosos para dobrar a esquina, respondo:
Þ
Na fila do cinema, exala a primeira dondoca para a segunda:
- É
como diz meu decorador: além de tomar espaço, livro mente muito.
Þ
O Brasil não foi descoberto. Foi achado.
Þ Ninguém pode dizer que
foi meu amigo de infância, pois infância nunca tive. Infância teve quem aos
quatro anos, cinco anos ganhou um velocípede. O que não aconteceu comigo.
Þ
Ouvido sem querer no barbeiro:
- Mulher para mim tem que
ser gordinha. Em mulher magra a mão da gente está sempre escorregando.
Þ
-
Fulano não gosta de você.
-
Então já são dois.
- Quem
é o outro?
- Eu.
Þ
-
No meu tempo era melhor...
-
Errado. No seu tempo você é que era melhor.
Þ
De Henry Miller: “Como me enfadam os homens de princípios”.
Þ
Pessoa que conheço tem uma teoria no mínimo questionável. Diz ele:
-
Antes de elogiar alguém, conto até dez. Já para falar mal, só conto até cinco.
E concluiu:
- No
primeiro caso, quase sempre me arrependo.
Þ
Podem acreditar: já fui mais velho do que sou hoje.
Þ O cúmulo do ridículo,
beirando o grotesco: um marmanjo já madurão, gordo e barrigudo, tocando
cavaquinho.
Þ
Quando na praia ela me comunica que acaba de casar pela quinta vez, brinco:
- Como
você gosta de homem!
Sorrindo, num
esplendor de dentes e brilho nos olhos, ela corrige:
- De
homem até que não gosto tanto assim. Do que gosto mesmo é de marido.
Þ
Faço mais um aniversário, e J. me telefona:
- Você
já viveu demais. Começa a dar na vista.
Þ Quando eu era Secretário
da Cultura, em Sergipe, sempre que a moça do palácio me telefonava lembrando o
“despacho com o governador”, me dava uma vontade doida de perguntar:
-
Despacho? Em que encruzilhada?
Þ
Do compadre:
- Comigo não tem essa de
matar a cobra e mostrar o pau. Comigo é matar a cobra e mostra a cobra.
Þ “Grande, muito grande é a
Ilha Grande”, versejou o nosso D. Pedro II, num dos seus deploráveis impulsos
poéticos.
Þ Do compadre:
- É melhor uma pátria de
chuteiras do que uma pátria de coturno.
Þ Lá vem a Excelência:
- Pensei em deixar o cargo.
Conversa fiada. Ministro só pensa em
deixar o cargo quando sabe que já está sendo deixado.
Þ Quando, em fases
alternadas, eu trabalhava com Samuel Wainer, e o procurava com uma sugestão,
ele me escutava calado, os óculos na testa, para finalmente dizer:
- É, eu sei. Já pensei
nisso.
Um sabichão, o Samuca.
Þ - Fale-me dela.
- Do quê? De suas prendas e
virtudes?
- Não, do resto.
Þ - Quantos anos você me dá?
- Nenhum. Você já os tem
demais.
Þ O travesti na televisão:
- Na vida só tenho medo de
duas coisas: de navalhada no rosto e câncer de mama.
Þ Falar mal do diabo, eu?
Jamais lhe darei essa alegria.
Þ - Você sabe por que baiano
fala devagar quase parando, como que se espreguiça?
- Não.
- Para esticar o máximo
possível a falta de assunto.
Þ - Por que você nunca fala
bem de fulano?
- Quem é ele?
- Pronto já começou.
Þ No jornal: “ratos e
escorpiões invadem Brasília”.
E muitos reeleitos.
Þ - Fulano de tal está com um
pé no Ministério. Só falta botar os outros três.
Þ Casou três vezes e teve
umas cinco amantes. Mas, coitado, nunca teve uma namorada.
Þ Quando nasci, meu Anjo da
Guarda deve ter dito:
- Agora te vira!
Þ Declara na televisão a
cintilante “socialite”:
- Já fui a Paris mais de
duzentas vezes.
O que me dá vontade de perguntar:
- E ao Louvre, quantas?
Þ Vulcão e mulher nunca
estão definitivamente extintos.
Þ Do compadre:
- Deus faz, a família
desfaz.
Þ Meu amigo vai à Itália
pela primeira vez. Me pergunta:
- Quanto tempo você acha
que vou gastar para conhecer Florença?
Respondo.
- A vida inteira.
Þ Num dos noticiários da
televisão, o repórter, um olho no entrevistado, outro no relógio, indaga:
- E que o senhor tem a
dizer a respeito desse problema?
O entrevistado pigarreia, vai responder:
- Veja bem, a questão é
que...
- Muito obrigado pela sua
presença. É com você, Priscila.
Þ Do compadre:
- Para ajudar o homem,
basta Deus. Já para desajudar não é preciso nem o diabo. O próprio homem se
desajuda.
Þ Se um dia alguém tentar
escrever a biografia daquele figurão, pode resumi-la nestas poucas palavras:
nasceu por injusta e morreu por justa causa.
Þ -Você acredita em céu e
inferno?
- Em céu, não.
Þ Me diz o baiano:
- Pimenta só não combina
com leite.
Já eu acho que pimenta só combina com
baiano.
Þ Muitas vezes dizer nada é
dizer demais.
Þ É nos velórios que se
contam as piadas mais cabeludas. Só o defunto leva o velório a sério.
Þ - Me diga, o que lhe trouxe
o Ano Novo?
- As mesmas velharias de
sempre.
Þ Manchetinha no caderno
feminino do “Jornal do Brasil”: “Em busca do bumbum ideal”.
Ideal para quê?
Þ Me dizia o velho
sertanejo da margem do São Francisco, já chegando aos noventas anos:
- A gente sente que está envelhecendo,
quando começa a gostar mais de carne-de-sol do que de mulher.
Þ Ninguém joga a vida fora.
A vida é que nos joga fora.
Þ Os médicos brasileiros já
não dizem de um paciente que ele é um alcoólatra,
mas um alcoolista. Mas a cirrose
continua a mesma.
Þ Melhor do que ser culto é
ser cultuado.
Þ O que me conforta é saber
que quando eu for para o céu lá não encontrarei nenhum desses furiosos e
vorazes pastores evangélicos.
Þ Nunca li nenhum livro
deles, mas não dever ser boa leitura um livro que é dedicado “aos meus queridos
pais” “ou “à minha amada esposa”.
Joel Silveira e os literatos
- E então, Rui Barbosa encarou a plateia
internacional, lá em Haia, e indagou: “Em que idioma os senhores querem que eu
discurse?”
Todo mundo sabe que o fato não
aconteceu, ao menos como o descreve a gabolice baiana, mas se realmente tivesse
havido aquela sessão da Conferência de Haia e à mesma eu tivesse presente, não
tenham dívida. Logo tivesse escutado Rui Barbosa indagar dos demais delegados
em que língua preferiam escutá-lo, eu teria gritado á do fundo da sala:
- Em
chinês!
Só para ver
o baiano perder o rebolado.
Vez por outra me lembro do conselho
que um dia me deu Graciliano Ramos:
- Fuja do gerúndio como o
diabo da cruz.
Para ele era fácil. Creio mesmo que o
gerúndio é que fugia dele.
Impossível imaginar Machado de Assis fazendo amor com Dona
Carolina.
No final de cada romance de Jorge Amado devia constar a seguinte
advertência: “Este livro, continuação do anterior, continua no próximo”.
Historinha contada por José Cândido de Carvalho, com quem eu
adorava conversar, particularmente quando a conversa era sem assunto, o que
sempre acontecia:
“Ao assumir a Prefeitura de Cipó dos
Índios, todo de preto e de óculos, Cupertino Varjão deu socos na mesa e falou:
- Cuidado comigo! Vou
limpar a administração.
Limpou. Deu um desfalque de deixar a
Prefeitura de Cio dos Índios desfalecida por vinte anos”.
Perguntaram ao poeta Murilo Mendes, católico praticante:
- Afinal, Deus existe ou
não?
- Existe, mas não funciona.
De Albert Einstein: “Se for provado que a minha Teoria da Relatividade
está certa, os alemães me chamarão de alemão, os suíços de cidadão suíço e os
franceses de grande cientista. Caso contrário, os franceses me chamarão de
suíço, os suíços de alemão e os alemães de judeu.
Outra de Guilherme Figueiredo:
Ouvi um jovem dizer ao pai: “Você tem
obrigação de me sustentar. Não nasci porque quis, mas porque você me botou no
mundo!”. O pai desmanchava-se em lágrimas de humilhação. Falei ao moço: “meu
caro, você não nasceu porque quis. Você é um espermatozoide que ganhou uma
corrida apostada com uns quatrocentos milhões de irmãos seus! Se já não está
satisfeito com a maratona, suicide-se!”
Ensinava o Barão de Itararé:
- A
mulher deve casar. O homem, não.
Nunca li nenhum livro deles, mas não
dever ser boa leitura um livro que é dedicado “aos meus queridos pais” “ou “à
minha amada esposa”.