No dia 3 de fevereiro de 1934
O alívio do Maestro Nazareth
O alívio do Maestro Nazareth
“E finalmente, a fuga e o suicídio. A
morte que ele procurou, ainda talvez com uns requintes de beleza, nas águas
tumultuosas de uma cascata... Águas tumultuosas como a sua imaginação de
artista que sonhou a vida boa como a música, mas que teve que se vir despedaçar
entre as pedras de uma realidade triste que o encheu de humilhações, e que só
lhe deu a evasão da loucura e o alívio final da morte...”
Desaparecido desde o dia 1º de
fevereiro, após fugir da colônia psiquiátrica Juliano Moreira em Jacarepaguá, onde
estava internado em estado de insanidade mental, o Maestro Ernesto Nazareth, 70
anos, foi encontrado morto boiando na represa de um rio nas proximidades da
colônia. Devido ao avançado estado de putrefação de seu corpo, o laudo de óbito
do médico Armando Campos não precisou a data de sua morte, mas a sugeriu no dia
3 de fevereiro.
No final do século XIX, Ernesto
Nazareth ganhou notoriedade no cenário musical. Exímio pianista, ele
interpretava suas próprias composições, em concorridas apresentações em
cinemas, bailes e cerimônias sociais.
Influenciado pela obra de Chopin,
desenvolveu um gênero musical particular: uma mistura de valsa com choro que
chamou de 'tango brasileiro'. Compôs mais de 200 peças. Entre seus maiores
sucessos estão Brejeiro, Odeon e Sertaneja.
Tocou com sucesso até o início da
década de 30, quando começou a manifestar sinais de confusão mental que
motivariam em pouco tempo a necessidade de sua internação para tratamento
psiquiátrico.
O agravamento de seu quadro mental,
aliado a sua surdez progressiva, induziram-lhe à catatonia.
Era o início de seu isolamento. Era o fim de seu espetáculo.
Era o início de seu isolamento. Era o fim de seu espetáculo.
Há uma lenda segundo a qual ele teria sido
encontrado morto debaixo de uma cachoeira. A sua postura era impressionante.
Estava sentado, com a água lhe correndo por cima, com as mãos estendidas, como
se estivesse tocando algum choro novo, que nunca mais poderemos ouvir...
(Juvenal Fernandes, in Ernesto Nazareth, Antologia, Ed. Arthur Napoleão Ltda.
AN-2087/88). Dele, disse Villa-Lobos: “Suas tendências eram francamente para a
composição romântica, pois Nazareth era um fervoroso entusiasta de Chopin.” Querendo
compor à maneira do mestre polonês e não possuindo a capacidade necessária para
uma perfeita assimilação técnica, fez, sem o querer, coisa bem diferente e que
nada mais é do que o incontestável padrão rítmico da música social brasileira.
De qualquer maneira, Nazareth é uma das mais notáveis figuras da nossa música.
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