José Francisco
Lacerda, o Chico Diabo
Na história brasileira, ele é
tratado como herói. Em território paraguaio, no entanto, é vilão e assassino.
São visões distintas sobre o cabo José Francisco Lacerda, responsável pela
morte do ditador Solano López, em 1870, durante a Batalha de Cerro Corá, na
Guerra do Paraguai. Chico Diabo, como era conhecido, avançou sobre os inimigos
e desferiu um golpe fulminante de lança de Solano, encerrando o conflito, que
completa 150 anos.
José Francisco Lacerda nasceu em
Camaquã, em 1848. Ganhou o apelido de “diabinho” da própria mãe quando ainda
era adolescente. Aos 15 anos, teve de se mudar com os pais para Bagé, na região
da Campanha, no Rio Grande do Sul. Dois anos depois foi convidado pelo coronel
Joca Tavares para integrar o contingente dos “Voluntários da Pátria” que
lutariam na Guerra do Paraguai.
Assim começou a história mais conhecida de
Chico Diabo que, cinco anos mais tarde, já promovido a cabo, foi o responsável
por perseguir e matar Solano López, em março de 1870. Depois do golpe fatal de
lança, o soldado João Soares acertou um tiro no ditador. Segundo relatos
históricos, a última frase de Solano teria sido: “Morro pela minha pátria, com a espada na mão”.
Chico Diabo ficou com uma faca de
ouro e prata de Solano López. Por coincidência, a arma tinha as mesmas iniciais
do seu nome: FL. Como recompensa, recebeu cabeças de gado e teve seu nome
popularizado com a quadrinha “o cabo
Chico Diabo, do diabo Chico deu cabo”.
Casou-se com uma prima, teve
filhos e deixou descendentes em Bagé. “A lembrança que tenho é o que está
escrito na história, o que a gente cresceu ouvindo, né? Dizem que ele
atravessou com o cavalo no meio dos inimigos para matar o Solano”, conta ao G1 a
tataraneta Carmen Lacerda Vargas. Os restos mortais de Chico Diabo estão
sepultados no cemitério da cidade gaúcha.
Mesmo sendo tratado como símbolo
da Guerra do Paraguai, os próprios parentes têm dúvidas em relação às
consequências do fato. “Não vejo ele como herói. Pela história sabemos que
davam recompensa para quem capturasse Solano. Então, não acho que ele tenha
sido um herói. Acho que ele queria o dinheiro, na verdade. Mas também não acho
que ele tenha sido o vilão da história. Eram coisas da época”, reflete Carmen,
tataraneta de Chico Diabo.
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