Um domingo a Veja denuncia
que o governo teria pronto um plano para eliminar todos os ornitorrincos* do
território nacional.
À noite, o Fantástico, com uma reportagem cheia de detalhes, dando a impressão
que já a tinha preparada, rogando aos espectadores para que façam algo para
parar o extermínio. E, enquanto soa uma música dramática de fundo, diz que não
façam por cada um de nós, mas pelos ornitorrincos.
No dia seguinte, a Folha de S. Paulo intitula: “Feroz
investida do governo contra os ornitorrincos”. “Ameaça de extinção”.
Na terça, o Jô Soares coloca a pergunta: “Vão desaparecer os ornitorrincos?
Como os brasileiros não reagem frente à extinção dos ornitorrincos?”
Miriam
Leitão fala da escassez dos ornitorrincos, com seus reflexos na inflação e
na pressão para novo aumento da taxa de juros.
FHC escreve sobre a indiferença do Lula e a incompetência gerencial do governo para proteger a vida
de um animal que marcou tão profundamente a identidade nacional como o
ornitorrinco.
Aécio
Neves diz que está disposto a pôr em prática um choque de gestão, similar
ao que realizou em Minas, onde a reprodução dos ornitorrincos está assegurada.
Marina
Silva diz que a ameaça de extinção dos ornitorrincos é parte essencial do
plano do governo da Dilma de
extinção do meio ambiente. Que assim que terminar de conseguir as assinaturas
para ser candidata, vai apelar a organismos internacionais a que intervenham no
Brasil para evitar a extinção dos ornitorrincos.
Marcelo
Freixo denuncia que são milícias pagas pelo governo os que estão
executando, fria e sistematicamente, os ornitorrincos.
Em editorial, o Estadão afirma que o extermínio dos ornitorrincos faz parte do
plano de extinção da imprensa livre no Brasil e que convocará reunião
extraordinária da SIP para discutir o tema.
Um repórter do Jornal Nacional aborda o ministro da Agricultura, perguntando os
motivos pelos quais o governo decidiu terminar com os ornitorrincos, ao que o
ministro, depois de olhar o microfone, para saber se é do CQC, respondeu: Mas se aqui não há ornitorrincos! O repórter
comenta para a câmera: No governo não querem admitir a existência do plano de
extermínio dos ornitorrincos, que já está sendo posto em prática.
Começam a circular mensagens na Internet, que dizem: “Hoje todos somos
ornitorrincos” e “Se tocam em um ornitorrinco, tocam a todos nós”.
Heloisa
Helena declara que os ornitorrincos são só o princípio e que o governo não
tem limites na sua atuação criminosa, os coalas e os ursos pandas que se cuidem.
Uma ONG com sede em Washington lança uma campanha com o lema: “Fight
against Brazilian dictatorship! Save the ornitorrincs!”
O
Globo, Folha e o Estadão com a mesma manchete: “Sugestivo silêncio da presidente confirma culpabilidade”.
Colunista do UOL diz que, de fonte segura, lhe disseram que o governo, diante da
péssima repercussão do seu plano de exterminar os ornitorrincos, decidiu
retroceder.
Todos os jornais editorializam, no
final da semana, que os ornitorrincos do Brasil estão salvos, graças à heroica
campanha da imprensa livre.
(Este artigo é a
simples tradução e adaptação dos nomes para personagens locais, de um texto que corre
nas redes da Argentina. As coisas funcionam assim lá e aqui)
Postado por Emir
Sader
* O ornitorrinco (nome científico:
Ornithorhynchus anatinus, do grego: ornitho, ave + rhynchus, bico; e do latim:
anati, pato + inus, semelhante a: “com bico de ave, semelhante a pato”) é um mamífero
semiaquático natural da Austrália e Tasmânia.
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