sábado, 31 de julho de 2021

Frases que ninguém gosta de ouvir

 

Aceita ticket?

Bem, amigos da Rede Globo.

Bom dia, estamos entrando em contato para verificar se o senhor não vai estar querendo...

Cabe mais um?

Como você cresceu?!

Compre já o seu carro ou casa pagando apenas 50 reais por dia!

Domingo, domingo, Legal!

Espera aí que vou ver se consigo troco.

Está lotado!

Estou grávida!

Gasolina sobe... % amanhã (Vale pra gás, luz, água, telefone...)

Hoje não estou a fim.

Já estamos fechando. (Quando se está seco para tomar a saideira)

Mais três dias internado e você ficará novo!

Me busca na rodoviária sábado, às 23h50min.

Me empresta 100 mangos até semana que vem?

Me liga outro dia, tá?

Meu filho pode ficar na sua casa por uma semana?

Minha família quer te conhecer.

Muito querido na vida pessoal, tanto quanto na profissional.

Não aceitamos cheques.

Não posso sair com você hoje, tenho um compromisso.

Você  votaria de novo no “Mito”?

O HD do seu computador queimou, mas acho que não foi só ele.

O Jornal Nacional será interrompido por 20 minutos para o Horário Eleitoral Gratuito.

Obrigado pela licença que você nos concede em entrar na sua casa. 

Ô loco, meu!

Paga hoje que na próxima eu compenso. 

Pode ir lá em casa de dois em dois dias alimentar o meu cão e os peixes?

Pode ligar daqui a 10 minutos? (Em dez minutos ninguém atenderá)

Posso passar na sua frente, é só um volume?

Posso te dar o troco em balas?

Posso tomar conta do carro, doutor?

Segura o cheque mais 30 dias? Os juros te pago depois.

Seu cartão não foi aceito. (Na frente de amigos ou namorada.)

Seu pneu está murcho. (Antes de um pé d'água.)

Seu saldo é insuficiente.

Seus créditos são insuficientes para completar essa ligação.

Só estou dando uma olhadinha. (Pobre na loja...)

Só quero ser sua amiga. (E você de olho na gostosona...)

Só tem Skol. 

Só tenho cinco paus. (na hora de rachar a conta de 100,00).

Sou muito amiga da sua irmã. (Gostosona que não pode saber que você é noivo)

Tá ligado?

Tá sozinho aí, posso sentar contigo? 

Tem troco pra 200,00?

Tenham todos um ótimo final de domingo.

Tô precisando de um favor seu!

Vende fiado?

Você bebe, hein?

Você engordou? (Amigo mala que não te vê há muito tempo.)

Você poderia ser o padrinho de uma das crianças da LBV?

Vou tomar só um copinho da sua cerveja, posso?

Nada igual ao pai

 Rafael Lovato*

Mais uma vez, Balian estava no lado de sua mãe cruzando através da vizinhança “Garotada Feliz”, como ele a apelidou. Toda vez que passavam por ela, de certa distância, Balian podia ver a garotada brincando nas margens da baía amarela, correndo e deslizando em suas areias macias. Balian sempre se perguntou como seria brincar naquelas areias douradas, livre para fazer estripulias? Deixar o vento e o sol brincar com sua pele nua? Ele se tornaria completo? 

− Por favor, mãe, você poderia parar por um momento? 

− O que é desta vez, querido? 

− Eu quero vê-los brincar por alguns segundos. Por favor, – disse Balian. 

− Somente por um momento. 

− Está bem. 

Observar a garotada aproveitando a praia ensolarada com suas famílias azedava ainda mais o sabor da solidão na boca de Balian. Ele era o único jovem de sua família. Nenhum dos adultos brincava com ele. Nunca. 

Por que ele não possuía irmãos? Por que ele deveria desperdiçar sua juventude trancado longe de diversão e jogos? 

− Por que não posso ir lá, mãe? 

− Você sabe que esta é uma zona muito perigosa. A família Orsini a controla. 

− Sim, mas eles não têm nenhum problema com a gente. 

− Por ora, não, mas nunca sabe. Eles são imprevisíveis. 

− Nós também somos uma família poderosa. Poderíamos lutar contra eles – disse Balian. 

− Confrontação não é nosso ponto forte. Nós temos poder, sim, mas nos faltam as ferramentas. Os Orsini nos comeriam vivos. 

− Você está exagerando. 

− Não, não estou. 

− Perigo há por todo lado, inclusive em casa – disse Balian. – Você quase não me deixa sair, nem mesmo para respirar um pouco de ar fresco. 

− Nós perdemos seu pai dessa maneira. Não arriscarei perder você também. 

− Podemos pedir para eles virem até a nossa casa para brincar comigo, então? 

− Não funciona assim. A vida deles é bastante diferente da nossa. 

− De que maneira? 

− Eles não se encaixam no nosso mundo e vice-versa. 

− Por quê? – Balian perguntou. 

− É um direito de nascença. Nós somos apenas... diferentes. 

− Eu queria ser um deles. 

− Não diga isso. Você é muito afortunado pela vida que você tem. 

− Em qual sentido? – Perguntou Balian. 

− Você não conhece fome, nem acorda todas as manhãs desejando simplesmente permanecer vivo. Você tem uma família que ama e protege você. 

− Eu não tenho o sol. 

− Nenhum de nós tem. Com o tempo, você vai se acostumar com isso. 

− Papai não se acostumou. Ele estava procurando pelo sol quando… 

− Você não sabe se isso é verdade. 

− E se eu escolher ser como eles? 

− Por que você diz essas coisas? Você sente falta do seu pai, é isso? 

− Eu sou... vazio, – disse Balian. 

− Você é o que você é. Não há nada que você possa fazer sobre isso. 

− O que eu sou? 

− Ok, querido, ficamos tempo suficiente aqui. É hora de ir. 

− Sim, mãe, é realmente minha hora de ir. 

Balian olhou para as outras baleias azuis ao seu redor. Ele era filho de seu pai. Levantando suas nadadeiras caudais, ​​ele nadou diretamente para a praia dourada com suas areias macias repletas de leões marinhos felizes. Ele carregava o sol em seus olhos. 

****** 

*O que sempre foi uma paixão de Rafael Lovato, a literatura, agora também ganha reconhecimento internacional. O escritor que é natural de Venâncio Aires, RS, recebeu o primeiro lugar em um prêmio de contos realizado nos Estados Unidos, com a obra intitulada Flukes of destiny, que significa Acasos do destino. Denominado “Flash Fiction Contest: Grifts”, o prêmio foi uma realização do site ‘Asymmetry – short speculative fiction’, do estado americano de Óregon, USA.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Um Jovem Guerreiro

 (Stu Weber)

Qual é a aparência de um homem de bem com a vida? Não posso deixar de me lembrar da afirmação de um jovem que mora perto de nós − um rapaz de 16 anos, que cursa o segundo ano do curso médio. Seus pais se divorciaram quando ele tinha oito anos. O pai saiu de casa e nunca mais voltou. O padrasto, um homem cruel e desumano, trata-o muito mal. Ordena que ele “cale a boca” o tempo todo. Diz que ele é inútil, idiota e que nunca será nada na vida. 

Mas, quando alguém pergunta ao jovem qual é o seu sonho, seus olhos adquirem um brilho especial. Veja só qual é a resposta dele: 

− Eu gostaria de descobrir onde meu pai verdadeiro mora. E gostaria de me mudar para a casa vizinha à dele, sem que ele soubesse quem eu sou. Gostaria, também, de ser seu amigo. Já fui amigo dele um dia, e talvez fosse bom continuarmos a amizade. 

Esse mesmo jovem, que tem tido todos os tipos de dificuldade na vida, recebeu o convite para escrever um ensaio sobre o tema “O que é um homem?” 

O breve ensaio está reproduzido a seguir - escrito por um jovem que nunca contou com a presença de um homem na vida, um homem verdadeiro, no sentido exato da palavra. Penso que existem coisas tão inerentes, tão enraizadas, tão intrínsecas, tão fundamentais que até mesmo um jovem, que nunca teve na vida o exemplo de um homem para seguir, é capaz de colocá-las em palavras. Aqui está o que ele escreveu: 

− O homem verdadeiro é bondoso.

− O homem verdadeiro é zeloso.

− O homem verdadeiro afasta-se das brigas provocadas por machos idiotas.

− O homem verdadeiro ajuda sua esposa.

− O homem verdadeiro cuida dos filhos quando eles estão doentes.

− O homem verdadeiro não foge dos problemas.

− O homem verdadeiro mantém sua palavra e cumpre suas promessas.

− O homem verdadeiro é honesto.

− O homem verdadeiro não infringe as leis. 

Esta é a visão que um jovem solitário tem de um homem verdadeiro. Um homem que tem autoridade e vive sob a autoridade. 

Esta é a visão de um Jovem Guerreiro.

(Algumas) Gírias futebolísticas

 

Alçapão → qualifica o estádio pequeno, ou acanhado com gramado de dimensões reduzidas, onde grandes clubes são obrigados a jogar. 

Amarelar → na rica e imaginosa terminologia das arquibancadas, ganhou sentido de ter medo ou tremer diante de um adversário, seja em função da partida, da pressão da torcida ou da violência empregada pela equipe contrária. 

Apagar da luzes → criada pelos locutores, a expressão procura identificar, com certa dose de dramaticidade, tudo o que ocorre nos instantes finais de uma partida de futebol. 

Armandinho → qualificativo pejorativo que costuma designar jogador de meio campo que nem ataca nem defende. 

Arquibaldo → termo criado pelo comentarista Washington Rodrigues (Rádio Globo, do Rio) para designar o torcedor que frequenta as arquibancadas dos estádios. 

Arranca-toco → time ruim, integrado por jogadores medíocres. 

Balançar a rede → ato ou efeito de marcar um gol, embora nem sempre a bola efetivamente toque ou balance a rede. 

Banheira → o mesmo que impedimento. 

Banho de cuia → lençol, chapéu ou qualquer jogada em que um integrante de uma equipe dribla o adversário, passando-lhe a bola por sobre a cabeça. No Sul é balãozinho. 

Bate-pronto → ato ou efeito de chutar a bola no justo instante em que ela toca o gramado. 

Bola cheia → jogador que está bem, vem fazendo boa temporada e ganhando dinheiro, além de ter cartaz com a torcida. 

Bola murcha → jogador em decadência, eventual ou definitiva, barrado do time, esquecido pelo treinador abandonado pelos dirigentes. 

Cabeça-de-bagre → jogador ruim, perna-de-pau. 

Cabeça-inchada → sentimento de frustração absoluta em razão de uma derrota do clube pelo qual se torce. 

Caneco → tratamento íntimo e informal que o torcedor dá a taça e troféus. 

Caneta → passar a bola entre as pernas do adversário. 

Carregador de piano → designa, geralmente, o jogador que não tem talento, mas esbanja fôlego na tarefa de fazer a ligação entre a defesa e o ataque. 

Chapéu → lençol, banho de cuia, quando um jogador passa a bola por cima da cabeça do adversário. No Sul é dar um balãozinho. 

Charanga → facção da torcida organizada que leva instrumentos musicais para os estádios. 

Chupa-sangue → jogador que não se esforça e não sua a camisa em defesa do time. 

Chuveirinho → centro a esmo em direção à área. 

Cintura-dura → zagueiro ou marcador de pouca habilidade, sem velocidade e capacidade de recuperação. 

Ciscador → jogador, firuleiro, useiro e vezeiro em aplicar dribles inúteis. Aquele que não dá prosseguimento às jogadas. 

Cobra → jogador que é craque. 

Dente-de-leite → categoria que reúne apenas equipes integradas por meninos iniciantes no futebol. 

Drible da vaca → ocorre quando o jogador dribla o seu adversário tocando a bola por um lado e passando por ele pelo outro. No Sul é dar uma meia-lua no adversário.

Embaixada → ato ou efeito de controlar a bola com os pés (coxas ou cabeça) sem deixar que ela toque no chão. No Sul é fazer balãozinho com a bola. 

Entregar o ouro → expressão empregada para caracterizar derrota sofrida de maneira inesperada e sem reação. 

Estufar a rede → marcar um gol. 

Feijão-com-arroz → futebol medíocre e sem criatividade. 

Filó → o mesmo que rede, barbante ou véu da noiva. 

Finta → o mesmo que drible. 

Fominha → jogador que procura resolver tudo sozinho e não passa a bola para os companheiros. 

Frango → trata-se, sem dúvida, de um dos mais curiosos termos surgidos no futebol. A expressão era cercar um frango, pois a posição do goleiro abaixado e deixando a bola entrar, passava ideia de um cidadão tentando capturar um frango que lhe escapava entre as pernas. 

Frangueiro → goleiro ruim, desastrado, que costuma engolir frangos. 

Freguês de caderno → Time que através da história, tem mais derrotas do que vitórias em relação a determinado adversário. 

Galera → O termo foi tomado emprestado do teatro, onde o público pode se acomodar nas galerias. Por galera, hoje se estende à torcida, de maneira geral. 

Gol de placa → gol marcado de maneira extraordinária ou inusitada. No Maracanã, há uma placa comemorativa de um gol assim de Pelé contra o Fluminense, pelo Torneio Rio-São Paulo de 1961. 

Homem-a-homem → esquema de marcação em que cada jogador tem um determinado adversário para marcar, troque ele de posição ou não. 

Lanterna → lugar ocupado pelo último colocado num campeonato. Dá ideia que o clube está tão distante dos outros que precisa de uma lanterna para iluminar-lhe o caminho. 

Lençol → o mesmo que chapéu, passar a bola por cima do adversário. 

Macário → cada uma das pessoas que têm a missão de levar de maca os jogadores para fora de campo. 

Marca da cal → a marca do pênalti. 

Marmelada → resultado combinado ou acertado entres duas equipes. O mesmo que mutreta. 

Mascarado → jogador que muda de personalidade ao subir os primeiros degraus da fama. 

Matar a bola → ato ou efeito de dominar a bola, demonstrando habilidade. 

Montinho artilheiro → tragédia dos goleiros e glória dos atacantes, é uma traiçoeira irregularidade do gramado, quase sempre dentro da pequena área, que desvia a direção da bola. 

Olheiro → figura do futebol brasileiro, cuja missão principal era de descobrir, para os clubes, jogadores de talento nos campos do subúrbio ou do interior. 

Oportunista → atacante inteligente e sutil, especialista em aproveitar qualquer falha da defesa ou do goleiro para marcar um gol. 

Paredão → goleiro em boa forma, que não deixa passar nada. 

Patada → chute forte, bomba, canhão. 

Pé-frio → jogador, técnico ou torcedor que não dá sorte a seu clube. 

Pegar na veia → acertar um chute perfeito, batendo, como dizem os jogadores, na cara da bola. 

Peito e na raça → expressão que procura traduzir uma vitória ou êxito obtido com esforço, luta ou garra, mais na base do coração do que do talento. 

Perna-de-pau → jogador ruim, sem qualquer habilidade técnica. 

Pisar na bola → literalmente, é uma jogada errada. 

Puxeta → jogada ofensiva (ou defensiva) realizada com o jogador de costas para o gol ou campo do adversário. 

Retranca → sistema de jogo fechado, que acumula jogadores com função estritamente defensivas. 

Retranqueiro → diz-se do técnico ou treinador que é adepto fervoroso de sistemas defensivos. 

Rosca → chute de efeito. 

Salto alto → pejorativo. Qualifica a equipe que, por excesso de elogios ou por exagerada autoconfiança, entra em campo para se exibir, esquecendo-se de que futebol é competição. 

Secar → torcer contra, de maneira ardilosa ou silenciosa, para que dê errado para um determinado time ou clube. 

Sem-pulo → jogada de habilidade que o chute é emendado de primeira, sem que a bola toque no chão. 

Suar a camisa → demonstrar esforço, garra e luta para conquistar uma vitória ou amenizar uma derrota. 

Tabelinha → toques curtos e rápidos entre dois atacantes, com o intuito de iludir os zagueiros contrários. 

Tapetão → apelido dado ao tribunal da federação, onde algumas partidas têm seus resultados confirmados, anulados ou alterados. 

Tocar de primeira → estilo de jogo que consiste em passar a bola ao companheiro, evitando dribles desnecessários, com o intuito de dar velocidade às jogadas. 

Trombador → diz-se, geralmente, do centroavante grosso, sem habilidade, que vive dando trombadas nos zagueiros adversários. 

Urucubaca → falta de sorte, azar de um time sempre que enfrenta o outro. 

Vareio → baile, passeio, chocolate de um time bom dá num time mais fraco. 

Xerife → jogador, geralmente da defesa, que comanda os companheiros. 

Zebra → termo criado pelo antigo técnico Gentil Cardoso para explicar um resultado inesperado, baseado no jogo do bicho, do qual a zebra não consta. 

Zona do agrião → expressão criada por João Saldanha, com a intenção de caracterizar a grande área, onde as partidas são decididas. 

(Do livro “Gírias & Verbetes futebolísticos, da Rede Globo)


domingo, 25 de julho de 2021

Seu corpo

 Paul Auster*

Seu corpo em aposentos pequenos e grandes, seu corpo subindo e descendo escadas, seu corpo nadando em lagoas, lagos, rios e oceanos, seu corpo atravessando terrenos enlameados, seu corpo deitado no capim alto de um prado vazio, seu corpo caminhando pelas ruas de uma cidade, seu corpo subindo morros e montanhas, seu corpo sentado em cadeiras, deitado em camas, estirado em praias, percorrendo estradas do interior de bicicleta, atravessando florestas, pastos e desertos, correndo em pistas de atletismo, pulando em assoalhos de tábua corrida, lavando-se em boxes de chuveiros, entrando em banheiras de água quente, sentado em vasos sanitários, esperando em aeroportos e estações ferroviárias, subindo e descendo em elevadores, espremido em bancos de carros e ônibus, caminhando na chuva sem guarda-chuva, sentado em salas de aula, perambulando por livrarias e lojas de discos (que Deus as tenha), sentado em auditórios, cinemas e salas de concerto, dançando com garotas em ginásios de colégios, remando em canoas em rios e lagos, comendo em mesas de cozinha, comendo em mesas de salas de jantar, comendo em restaurantes, fazendo compras em lojas de departamentos, lojas de artigos eletrônicos, lojas de móveis, lojas de ferragens, lojas de roupas, sapatarias e mercearias, em filas para tirar passaporte e carteira de motorista, reclinado em cadeiras com as pernas apoiadas em escrivaninhas e mesas enquanto você escreve em cadernos, debruçado sobre máquinas de escrever, caminhando no meio de nevascas sem chapéu, entrando em sinagogas e igrejas, vestindo-se e despindo-se em quartos de residências, quartos de hotéis e vestiários de academias, subindo escadas rolantes, deitado em leitos hospitalares, sentado em mesas de exame médico, em cadeiras de barbeiros e dentistas, dando saltos-mortais na grama, plantando bananeira na grama, pulando dentro de piscinas, caminhando lentamente em museus, jogando basquete em playgrounds, lançando bolas de beisebol ou futebol americano em parques públicos, experimentando as diferentes sensações de caminhar em pisos de madeira, cimento, ladrilhos e pedra, as diferentes sensações de pôr os pés na areia, na terra e na grama, mas acima de tudo a sensação de pisar em calçadas, pois é assim que você se vê sempre que para para pensar em quem você é: um homem que caminha, um homem que passou a vida caminhando por ruas de cidades. 

****** 

*Do livro “Diário de inverno”, tradução de Paulo Henriques Britto (Companhia das Letras, páginas 214, 216)

Na porta do céu

 

Um rapaz está no portão do céu, esperando para ser admitido, enquanto São Pedro folheia o livro sagrado, checando toda a vida dele para ver se ele foi um garoto de valor. Depois de um bom tempo, São Pedro olha severamente para ele e diz: 

- Não vejo nada que seja realmente ruim em sua vida, mas também não há nada que seja realmente bom. Se você me provar que fez algo REALMENTE bom, você está dentro. 

O garoto pensa por alguns instantes e diz: 

- Ah..., teve uma vez que eu estava indo pela estrada quando vi uma gang gigante de motoqueiros mexendo com uma garotinha indefesa. Diminui a velocidade para ter certeza do que estava acontecendo. Vi uns 50 deles tentando tirar as roupas da mocinha. Parei meu carro, peguei um bastão de baseball e fui em direção ao líder da gang, um cara barbudo com uma jaqueta de couro com uma estampa de tigre. Ele tinha uma corrente amarrada da orelha esquerda até o nariz. Enquanto me aproximava dele, os membros da gang foram fazendo uma roda em volta de mim. Arranquei a correntinha da cara dele e dei-lhe uma pancada com meu bastão. O cara foi pro chão com um só golpe. Depois disso eu virei para todos eles e disse: “Deixem esta garota em paz. vocês não passam de um bando de bostas! Voltem para suas casas antes que eu perca a paciência e acabe com suas raças, seus animais estúpidos! 

São Pedro, realmente impressionado, perguntou:

- E quando foi que isso aconteceu?

- Ah, faz uns dez minutos...

sábado, 24 de julho de 2021

Alphonsus de Guimaraens

     

Mineiro de Ouro Preto, batizado Afonso Henriques da Costa Guimarães, rebatizado poeticamente como Alphonsus de Guimaraens, ele nasceu em 24 de julho de 1870. Morreu em 15 de julho de 1921, há cem anos. Expoente do simbolismo, fez da boêmia um tempo da sua vida por uma razão de coração: a morte da prima, a quem amava loucamente. Assim é que se falava. Ela era filha do escritor Bernardo Guimarães. Mesmo preferindo as noites, ele conseguiu se formar em direito. A poesia consumia o melhor dos seus esforços. Um bom nome para comemorar este dia do escritor, 25 de julho. Quem na escola não recitou “Ismália”? 

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
 

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
 

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
 

E como um anjo perdeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...  
 

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...       
 

Publicado no livro Pastoral aos crentes do amor e da morte: livro lírico do poeta Alphonsus de Guimaraens (1923). Poema integrante da série As Canções. 

Quem não se divertiu no colégio, enquanto o professor de literatura sorria fingindo não ouvir, com versos de “A catedral”? 

E o sino clama em lúgubres responsos:

“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” 

(...) 

Alfredo Bosi, professor das Universidade de São Paulo, falecido recentemente, resumiu, em “História Concisa da Literatura Brasileira”, a obsessão do pobre Alphonsus: “Foi poeta de um só tema: a morte da amada”. Dores de amor pareciam eternas. Chegavam a ser belas de tão tristes, ainda mais na pena de um grande. 

Hão de chorar por ela os cinamomos 

Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.
 

As estrelas dirão − “Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria...”
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.
 

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
 

Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: − “Por que não vieram juntos?”
 

Não é dolorosamente lindo? Pobre Alphonsus! Pobre Constança. O poeta tornou-se juiz, promotor, jornalista e casou-se com Zenaide. Tiveram 15 filhos. Vida que segue. Tudo passa. Fica a poesia.

           

(Do texto “Alphonsus de Guimaraens, poeta de julho”,

de Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo, 

24 de julho de 2021)

Resumo prático para professores de Literatura 

NOME: 

● Afonso Henriques da Costa Guimarães (1870 - 1921) Alphonsus de Guimaraens; 

● Nascimento: 1870, Ouro Preto; 

● Morte: 1921, Mariana; 

● Noivado com Constança, sua prima, filha de Bernardo Guimarães; 

● Pseudônimo: Alphonsus Guimaraens; 

● Epíteto: “O Solitário de Mariana”. 

OBRAS: 

● “Setenário das Dores de Nossa Senhora”, “Câmara Ardente”, “Dona Mística”; 

● “Kyriale”, “Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte”, “A Escada de Jacó”; 

● “Pulvis”, “Pauvre Lyre”. 

CARACTERÍSTICAS: 

● Religiosidade: título dos livros, ambientes e cenários, pseudônimo latinizante; 

● Amor e Morte: fusão de ambos, a amada morta (paralelo com a biografia − Constança - noiva precocemente falecida de tuberculose); 

● Traços formais: sonoridade, percepção sensorial da realidade; 

● Principais poemas: “A Catedral”, “Ismália”, “As Mãos da Morte”.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

De cair o queixo e a cabeça

 

A comissão de frente da Unidos da Tijuca exibiu uma mistura de ilusionismo e muito ensaio – quatro meses, com os mesmos bailarinos da comissão de 2010. Os coreógrafos são os bailarinos Rodrigo Negri e Priscilla Mota, que trabalham na Tijuca desde 2008. 

- O resultado foi maravilhoso. Algumas pessoas ficaram com medo; outras, espantadas – comentou Negri por telefone. 

O coreógrafo explica os truques 

No primeiro movimento, em que as cabeças parecem se desprender, foi utilizada uma estrutura dentro da roupa dos integrantes. Eles se agacham e projetam a cabeça à frente para dar o efeito de ilusão (como mostrado nos desenhos abaixo). O segundo truque utiliza dois corpos falsos. 

O mágico gaúcho Kronus elogia: 

- O head drop (o primeiro truque) é um número clássico, popularizado por um japonês. É muito fácil de fazer mal feito, o difícil é fazer sem o corpo aparecer. E eles executaram muito bem. 

Em vermelho, o corpo do elemento que está dentro da roupa. A roupa tem uma estrutura rígida, o elemento se abaixa até onde já estão as suas mãos que vão segurar a cabeça “para que ela não caia até o solo”.

Charada matemática

 

Quantos algarismos nove (9) tem de 0 a 100?

 18 (  )   19 (  )   20 (  )   21 (  )   22 (  ) 

Vamos contar? 

Ele está contido no: 

09

 

19

 

29

 

39

 

49

 

59

 

69

 

79

 

89

 

90

 

91

 

92

 

93

 

94

 

95

 

96

 

97

 

98

 

99 

Se você contou 19, você errou! Lembre-se que no 99 há dois noves. Portanto são 20 noves!

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Falando inglês em português

 Por Fábio Prikladnicki*

Bem que tento posar de moderninho, mas basta ler uma palavra em inglês no lugar em que caberia uma equivalente em português que já viro um ancião iludido com o tempo em que, ah, naquele tempo sim se falava português no Brasil. 

Pense em vitrine com uma chamativa sale no lugar de uma “promoção”, com 50% off em vez de “50% de desconto”. É disso que estou falando. 

Não perca tempo argumentando que a nossa língua − quero dizer, a língua que foi imposta aos indígenas pelos portugueses − sempre recebeu influência de diferentes idiomas. Embora simpatize com Policarpo Quaresma, não nego a realidade. 

Nada contra os americanos, que nos deram o jazz e o Google. Nem contra os ingleses, que nos presentearam com o football e nos fizeram vibrar com o primeiro goal. Seria um tanto chavão enumerar aqui os escritores, músicos, artistas e pensadores anglófonos que venero, sempre que possível, em sua própria língua. 

Prova disso é que, às vezes, uma simples maquiagem no estrangeirismo já me contenta. 

Em minhas mãos, surf vira “surfe”, e golf − surpresa! −, “golfe”. Deck, claro fica “deque”, e drink, “drinque”, mesmo que pareça menos chique. Mas também não sou um sem-noção. Jamais permitiria que rock fosse “roque”, porque tudo tem limite. Agora, quem toca rock é “roqueiro”, não quero nem saber − de qualquer forma, roqueiro que se preze nunca se define dessa forma. 

Alguns estrangeirismos servem para dar uma suavizada. É o caso de fake news, esse conceito quase filosófico que, usado na íngua portuguesa, parece menos perigoso do que “notícia falsa”. Ou outsourcing, que soa menos grave do que “terceirização”. Até feedback fica agradável quando não é uma “avaliação”. Coloque um pouco de glamour na sua sofrência. 

Agora: tem estrangeirismo que nos salva do sufoco da falta de uma boa alternativa em português? Tem sim. Mesmo no país do jeitinho e da malandragem, ninguém pratica dumping em português. Seria necessário um brainstorm para descobrir outra maneira de fazer um brainstorm. E já temos uma tradição nacional em talk show e stand-up. Veja bem, se nem os franceses resistem a um weekend depois de uma longa semaine de trabalho, o que sobrará para nós? 

Sinto que estou causando desgosto ao meu professor de linguística da época da faculdade. Foi ele quem me ensinou que a língua é um fenômeno vivo, que está em constante transformação. E eu não mereço ser chamado de reacionário, do que já senti que vocês, caros leitores, estavam prontos para me xingar no Twiter. Não levem a sério esse texto irônico, estou apenas exercitando o humour. 

Talvez seja a hora de abraçar o futuro. Startar uma nova vida. Linkar tudo que falamos com um novo mindset, mudar o approach. Quem não quer ser lembrado como um case de sucesso antes que budget termine ou que o deadline divino faça seu job? 

*(Em Zero Hora, julho de 2021) 

terça-feira, 20 de julho de 2021

Poemas de Bráulio Bessa*

Bráulio Bessa (1985) é um poeta e cordelista brasileiro, nascido no Ceará, que se tornou extremamente popular nos últimos anos. Seus versos refletem as origens nordestinas e inspiram os leitores, transmitindo mensagens de humildade, coragem e resiliência. 

Confira, abaixo, os melhores trechos e poemas completos do autor que vão inspirar e motivar você em várias fases da vida: 

1 

Na corrida dessa vida
é preciso entender
que você vai rastejar,
que vai cair, vai sofrer
e a vida vai lhe ensinar
que se aprende a caminhar
e só depois a correr.

A vida é uma corrida
que não se corre sozinho.
E vencer não é chegar,
é aproveitar o caminho
sentindo o cheiro das flores
e aprendendo com as dores
causadas por cada espinho.

Aprenda com cada dor,
com cada decepção,
com cada vez que alguém
lhe partir o coração.
O futuro é obscuro
e às vezes é no escuro
que se enxerga a direção.
 

Nestes versos emocionantes, o poeta relembra os seus leitores que a vida é uma grande sucessão de altos e baixos. 

Para completarmos a nossa jornada, precisamos nos rodear de amigos e aprender a retirar lições até dos momentos mais difíceis, valorizando cada minuto que passamos neste mundo. 

2 

Quando a vida bater forte
e sua alma sangrar,
quando esse mundo pesado
lhe ferir, lhe esmagar...
É hora do recomeço.

Recomece a LUTAR. 

Quando tudo for escuro
e nada iluminar,
quando tudo for incerto
e você só duvidar...
É hora do recomeço.

Recomece a ACREDITAR. 

Quando a estrada for longa
e seu corpo fraquejar,
quando não houver caminho
nem um lugar pra chegar...
É hora do recomeço.

Recomece a CAMINHAR. 

3 

E se for tarde demais?
E se o tempo passar?
E se o relógio da vida, do nada se adiantar?
E se eu avistar o fim, chegando perto de mim?
Impiedoso e veloz!
sem poder retroceder, me fazendo perceber, que o SE, foi meu algoz.

E se eu pudesse voltar?
Se o SE, fosse diferente?
Se eu dissesse pra mim mesmo: Se renove, siga em frente.
Se arrisque, se prepare, se cair, jamais pare. Se levante, se refaça.
Se entenda, se conheça.
E se chorar, agradeça cada vez que achou graça.
Se desfaça da preguiça, do medo, da covardia.
Se encante pela chance de viver um novo dia.
Se ame, e seja amor.
Se apaixone, por favor!
Se queira, e queira bem!
 

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Plano de 10 etapas para se alimentar bem

 

01 − Comer devagar. Comer muito rápido faz comer mais. O estômago demora cerca de 20 minutos para mandar um sinal para o cérebro. Comendo devagar, o cérebro tem tempo de receber a mensagem de que seu corpo está satisfeito. 

02 − Garfadas menores. O paladar está na superfície da língua. Se a sua boca está cheia de comida, você nem sente o gosto. 

03 − Concentre-se na comida. Comer em frente à TV ou no carro faz o momento se tornar irrelevante. A falta de atenção faz com que se coma demais. 

04 − Apoie o garfo no prato. Se ainda tem comida na sua boca coloque o garfo no prato. Não o encha novamente até que tenha engolido. 

05 − Sirva a comida em pratos pequenos. Isso resolve dois problemas de uma só vez: o de lavar a louça e o fato de você comer com os olhos. 

06 − Comida sem gordura engorda. Comidas sem gordura não satisfazem e contêm mais açúcares. 

07 − Se não for comida, não coma. Nosso corpo sabe o que é comida de verdade: carnes, frutas, verduras. Invenções como coca-cola causam problemas de saúde e de sobrepeso. 

08 − Coma em etapas. Coma a salada primeiro. Isso ajuda a ganhar tempo à mesa e previne que você coma rápido e em grande quantidade. 

09 − Gordura é necessária na dieta. Seu corpo e cérebro necessitam de gordura para serem saudáveis. Você come uma quantidade normal de gordura quando come alimentos de verdade, como manteiga, azeite, ovos, castanhas e queijos. 

10 − Alta qualidade da comida leva a comer menos quantidade. 

Alimentos que se deve ter em casa:

Peixes (salmão, sardinha, atum);

Grãos (granola, aveia, arroz);

Hortaliças (feijões, cebola, batata, abóbora, tomate);

Óleos e vinagres (azeite de oliva, óleo 100% vegetal, vinagre);

Produtos de padaria (farinha, ervas, temperos, açúcar branco ou mascavo, pimenta, sal);

Lanches (frutas desidratadas, biscoitos não-hidrogenados, nozes, azeitona);

Condimentos (mostarda, maionese de verdade);

Lacticínios (manteiga, queijo, ovos, leite, iogurte);

Bebidas (café, cerveja, suco de fruta, chá, água, vinho). 

Efervescência coletiva*

 

No início do século 20, o sociólogo Émile Durkheim criou um conceito que ajuda a entender o que estava acontecendo ali; “efervescência coletiva”. Sabe aquela alegria que a gente sente quando está em volta de uma mesa com os amigos? Ou com os colegas de trabalho criando um projeto novo? Ou em um estádio comemorando um gol? Efervescência coletiva. 

Na alegria e na tristeza, emoções são contagiosas e poucas coisas nos trazem mais contentamento do que compartilhar um sentimento, uma vibração, um estado de espírito. Foi isso que a pandemia roubou de todos nós. E é isso que, aos poucos, vai trazer a vida de volta ao mais ou menos normal. 

Parte de uma crônica de Cláudia Laitano, em Zero Hora,

julho de 2021.


O sexo dos computadores

 

Segundo uma teoria, os computadores são do sexo feminino.

Aqui, as evidências: 

1. Assim que se arranja um(a), aparece outro(a), e o modelo novo é sempre melhor. 

2. Ninguém, além do criador, é capaz de entender sua lógica interna. 

3. Mesmo os menores errinhos que você comete são guardados na memória para futuras referências. 

4. A linguagem nativa usada na comunicação entre essas máquinas é incompreensível para qualquer outra espécie. 

5. Assim que você opta por outro modelo, qualquer que seja, logo estará gastando tudo o que ganha em acessórios para ele. 

6. Processa informações com muita rapidez, mas não pensa. 

Mas há quem afirme que os computadores são homens.

Pelas seguintes razões: 

1. Funcionam melhor depois de aquecidos o suficiente. Nesse estado, são muito dóceis. 

2. Carecem de sentimentos. 

3. Quando esquentam muito, são incapazes de trabalhar adequadamente. 

4. Geralmente são quadrados. 

5. São facilmente abordáveis por pessoas diferentes de sua dona. 

6. Adoram funcionar em turma.

domingo, 18 de julho de 2021

Os chatos necessários*

 Martha Medeiros

(...) 

Se os abolicionistas não fossem “chatos”, a escravidão não teria fim. Se as sufragistas não fossem “chatas”, mulheres ainda não poderiam votar. Se as feministas não fossem “chatas”, o mercado de trabalho continuaria sendo um reduto masculino e os feminicídios ficariam impunes. 

Não acredito em mundo ideal, mas acredito em um mundo melhor em um mundo, e ele só melhora graças àqueles que não se acomodam, que insistem na busca por igualdade, justiça, evolução, tudo aquilo que os desinformados chamam de mimimi, fechando suas portas para a realidade não entrar. Optam pela alienação, que exige pouco dos neurônios. E é bem mais simpática. 

O assunto merecia ser estendido, mas o espaço está acabando e não sinto nenhum prazer em chatear você. Então concluo: é um privilégio estar viva nesta época histórica em que questões identitárias estão presentes nos debates, nos livros, nas lives, nas entrevistas, a fim de avançarmos, mesmo que lentamente, para uma sociedade em que possamos não apenas assistir a pessoas gays e pretas nos palcos e estádios, mas conviver diariamente com elas dentro da família, e ainda ser tratadas por elas nos hospitais, aprender com elas em salas de aulas, ser defendidas por elas nos tribunais, viajar em aviões pilotados por elas e vê-las receber o mesmo tratamento da polícia. Tire os chatos de cena e adivinhe quando chegaremos lá. 

*Parte de uma crônica de Martha Medeiros, no jornal Zero Hora, julho de 2021.


sábado, 17 de julho de 2021

Brava gente

 

Mulheres,
sois perigosas
guerrilheiras desarmadas.
 

De noite, agitais o sono-
pesadelo dos tiranos,
de dia, agitais o lenço
de paz pelos torturados.
 

De onde tirais a força
para lutar, com palavras
e fé, contra as ditaduras?
 

Por certo de vosso ventre,
onde se gera a criança
livre que o mundo terá.
 

Quando não houver exílios
nem prisioneiros de ideias,
algozes espancadores,
espiões da violência,
exploradores de homens
Que fareis, bravas mulheres?
 

Descansareis da guerrilha
pela Anistia no mundo,

embalando em vossos braços

os Filhos da Liberdade. 

(Glênio Peres)


Biografia resumida de Carl Sagan

 

● Carl Edward Sagan nasceu em 9 de novembro de 1934, filho Rachel e Samuel Sagan (um alfaiate russo, emigrante da União Soviética), em New York, nos Estados Unidos.

● Aos 12 anos teve seu interesse irreversivelmente atraído pela astronomia.

● Em 1954 formou-se em física na Universidade de Chicago, onde, em 1955 bacharelou-se, em 1956 completou o mestrado e em 1960 completou também seu Doutorado em Astronomia e Astrofísica.

● Entre 1960 e 1968 Carl Sagan lecionou em algumas das principais universidades norte-americanas: Harvard, Stanford e Cornell.

● Nessa última, onde lecionou a partir de 1968, fundou e dirigiu o Laboratório de Estudos Planetários.

● Foi colaborador da NASA, como consultor e conselheiro, desde os anos 50, e em diversos projetos de grande envergadura, tendo participado de forma decisiva na preparação e planejamento das missões Apolo (à Lua), Mariner e Viking (a Marte), Voyager (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) e Galileo.

● Junto com outros pesquisadores e nomes de peso no cenário artístico americano (Paul Newman, etc.), fundou e dirigiu a The Planetary Society.

●Recebeu 22 títulos de honra concedidos por instituições de ensino superior dos Estados Unidos.

● Sagan teve participação decisiva na explicação do efeito estufa na atmosfera de Vênus. Também ajudou a explicar as mudanças sazonais na atmosfera de Marte e o efeito de moléculas orgânicas complexas na atmosfera de Titan, satélite de Saturno.

● Além de inúmeros artigos em boletins e revistas especializadas, em revistas de divulgação e em revistas para o grande público, Sagan publicou vários livros. Alguns técnicos e outros de divulgação científica.

● Recebeu o prêmio Pulitzer de literatura, em 1978, por seu fascinante livro, Os Dragões do Éden.

● Recebeu 3 prêmios Emmy (o “Oscar” da TV) por sua série para TV, Cosmos. Estima-se que Cosmos tenha sido assistida por mais de 500 milhões de pessoas em mais de 60 países.  Seu livro, de mesmo nome, permaneceu por mais de 70 semanas na lista dos mais vendidos do New York Times.

● Em seus últimos anos, vivia em Ithaca, New York.

● Com 62 anos, foi acometido de uma forte pneumonia, adquirida devido à fragilização causada em seu organismo pela mielodisplasia — doença da medula, perniciosa como o câncer, que o acompanhava há cerca de dois anos.

● Em 20 de dezembro de 1996, Carl Sagan deixou finalmente seu planeta natal. Deixou-nos e rumou, sozinho, para as estrelas.