domingo, 11 de julho de 2021

O ator esquecido

 

Há poucas coisas mais chatas neste mundo do que um cara sem talento querer fazer teatro. Em Porto Alegre, havia o Ambrósio, que vivia enchendo a paciência de todo mundo para conseguir um lugar nos grupos amadores. Mas ele era muito ruim. Um dia chega na cidade uma companhia profissional do Rio de Janeiro e o primeiro a aparecer nos bastidores durante os ensaios é o Ambrósio. Chega pro diretor e pede: 

− Por favor, arranja uma pontinha pra mim, moço. 

O diretor viu logo que o Ambrósio não ia dar certo e despachou-o. Todas as tardes, porém, ele ia lá encher o saco do pessoal. 

− Me arranja um pontinha na peça, moço! 

Tanto encheu que um dia adoeceu um ator e o diretor disse pro Ambrósio: 

− Meu filho, vou te dar uma chance. Tira toda a roupa e depois bota este terno preto sobre o corpo. Você vai entrar logo no princípio da peça. Tudo o que você tem a fazer é chegar no meio do palco, fazer uma reverência ao público, abrir os braços e gritar: “Eu sou o Nabucodonosor!” 

− Só isso? − pergunta o chato. 

− Só. Agora vai ensaiar. 

Nervosíssimo, o Ambrósio ensaia a sua fala a tarde inteira. Às nove da noite, bate-lhe o pânico. Aproxima-se do diretor um pouco antes do pano subir: 

− Olha, senhor diretor, eu não vou poder fazer. Estou muito nervoso. Talvez outro dia... 

Neste momento, o pano sobe e o diretor atira o Ambrósio pro meio do palco. Casa lotada, a luz dos refletores no rosto, ele abre os braços e grita: 

− Eu sou o Trabaco... Não, não, não, desculpem! Eu sou o Donozer! Não, não, não, eu queria dizer “Eu sou um Trumbico! Não, eu sou... eu sou... eu sou... eu sou um filha da puta!

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