sábado, 24 de julho de 2021

Alphonsus de Guimaraens

     

Mineiro de Ouro Preto, batizado Afonso Henriques da Costa Guimarães, rebatizado poeticamente como Alphonsus de Guimaraens, ele nasceu em 24 de julho de 1870. Morreu em 15 de julho de 1921, há cem anos. Expoente do simbolismo, fez da boêmia um tempo da sua vida por uma razão de coração: a morte da prima, a quem amava loucamente. Assim é que se falava. Ela era filha do escritor Bernardo Guimarães. Mesmo preferindo as noites, ele conseguiu se formar em direito. A poesia consumia o melhor dos seus esforços. Um bom nome para comemorar este dia do escritor, 25 de julho. Quem na escola não recitou “Ismália”? 

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
 

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
 

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
 

E como um anjo perdeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...  
 

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...       
 

Publicado no livro Pastoral aos crentes do amor e da morte: livro lírico do poeta Alphonsus de Guimaraens (1923). Poema integrante da série As Canções. 

Quem não se divertiu no colégio, enquanto o professor de literatura sorria fingindo não ouvir, com versos de “A catedral”? 

E o sino clama em lúgubres responsos:

“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” 

(...) 

Alfredo Bosi, professor das Universidade de São Paulo, falecido recentemente, resumiu, em “História Concisa da Literatura Brasileira”, a obsessão do pobre Alphonsus: “Foi poeta de um só tema: a morte da amada”. Dores de amor pareciam eternas. Chegavam a ser belas de tão tristes, ainda mais na pena de um grande. 

Hão de chorar por ela os cinamomos 

Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.
 

As estrelas dirão − “Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria...”
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.
 

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
 

Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: − “Por que não vieram juntos?”
 

Não é dolorosamente lindo? Pobre Alphonsus! Pobre Constança. O poeta tornou-se juiz, promotor, jornalista e casou-se com Zenaide. Tiveram 15 filhos. Vida que segue. Tudo passa. Fica a poesia.

           

(Do texto “Alphonsus de Guimaraens, poeta de julho”,

de Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo, 

24 de julho de 2021)

Resumo prático para professores de Literatura 

NOME: 

● Afonso Henriques da Costa Guimarães (1870 - 1921) Alphonsus de Guimaraens; 

● Nascimento: 1870, Ouro Preto; 

● Morte: 1921, Mariana; 

● Noivado com Constança, sua prima, filha de Bernardo Guimarães; 

● Pseudônimo: Alphonsus Guimaraens; 

● Epíteto: “O Solitário de Mariana”. 

OBRAS: 

● “Setenário das Dores de Nossa Senhora”, “Câmara Ardente”, “Dona Mística”; 

● “Kyriale”, “Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte”, “A Escada de Jacó”; 

● “Pulvis”, “Pauvre Lyre”. 

CARACTERÍSTICAS: 

● Religiosidade: título dos livros, ambientes e cenários, pseudônimo latinizante; 

● Amor e Morte: fusão de ambos, a amada morta (paralelo com a biografia − Constança - noiva precocemente falecida de tuberculose); 

● Traços formais: sonoridade, percepção sensorial da realidade; 

● Principais poemas: “A Catedral”, “Ismália”, “As Mãos da Morte”.

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