sábado, 31 de dezembro de 2022

O último dia do ano de 2022

 

Hoje estamos vivendo o último dia do ano de 2022...
E depois da meia-noite, virá o Ano Novo...
O engraçado é que − teoricamente − continua tudo igual...
Ainda seremos os mesmos...
Ainda teremos os mesmos amigos...
Alguns o mesmo emprego...
A mesma parceira...

As mesmas dívidas (emocionais e/ou financeiras).
Ainda seremos fruto das escolhas que fizemos durante a vida.
Ainda seremos as mesmas pessoas que fomos este ano...

A diferença, a sutil diferença, é que daqui a pouco,

Quando o relógio nos avisar que é meia-noite,

Teremos um ano inteirinho pela frente!
Um ano novinho em folha!
Como uma página de papel em branco,

Esperando pelo que iremos escrever.
Um ano para começarmos o que ainda não tivemos força de vontade,

Coragem ou fé...
Um ano para perdoarmos os erros de quem errou conosco,

Um ano para sermos perdoados dos nossos...
365 dias para fazermos aquilo que quisermos...
Ou para deixarmos que façam o que quiserem conosco...
Sempre é uma escolha...

Nossa escolha!

E, exatamente por isso,

Eu desejo que você faça as melhores escolhas que puder.
Desejo que sorria o máximo que puder,
Ame mais.
Abrace bem apertado.
Agradeça por estar vivo,

E ter sempre mais chances para recomeçar.

Agradeça as suas escolhas,

Pois certas ou não, elas são suas.
E ninguém pode ou deve questioná-las.

Eu gostaria de agradecer aos amigos que tenho.
Aos que me acompanham há muito tempo.
Aos que eu fiz este ano.
Aos que eu escrevo pouco, mas lembro muito.
Aos que eu escrevo muito e falo pouco.
Aos que moram longe e não vejo tanto quanto gostaria.
Aos que moram perto e eu vejo sempre.
Aos que me seguram, quando penso que vou cair.
Aos que eu dou a mão, q
uando me pedem

Ou quando me parecem um pouco perdidos.
Aos que ganham e perdem.
Aos que me parecem fortes

E aos que realmente são.
Obrigado por fazerem parte da minha história.

Desejo a você 365 dias de felicidade;
52 semanas de saúde e prosperidade;
12 meses de amor e carinho;
8.760 horas de paz e harmonia;
E que neste novo ano você tenha 2023 motivos para sorrir...

(Apesar dos falsos e dos mentirosos que iremos encontrar pelo caminho) 



sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Irapuru: o canto que encanta

 

Certo jovem, não muito belo, era admirado e desejado por todas as moças de sua tribo por tocar flauta maravilhosamente bem. Deram-lhe então o nome de Catuboré, flauta encantada. Entre as moças, a bela Mainá conseguiu o seu amor; casar-se-iam durante a primavera. 

Certo dia, já próximo do grande dia, Catuboré foi à pesca e de lá não mais voltou. 

Saindo a tribo inteiro à sua procura, encontraram-no sem vida, à sombra de uma árvore, mordido por uma cobra venenosa. Sepultaram-no no próprio local. 

Mainá, desconsolada, passava várias horas a chorar sua grande perda. A alma de Catuboré, sentindo o sofrimento de sua noiva, lamentava-se profundamente pelo seu infortúnio. Não podendo encontrar a paz, pediu ajuda ao deus Tupã. Este, então, transformou a alma do jovem no pássaro irapuru, que, mesmo com escassa beleza, possui um canto maravilhoso, semelhante ao som da flauta, para alegrar a alma de Mainá. 

O cantor do irapuru ainda hoje contagia com seu amor os outros pássaros e todos os seres da natureza. 

******* 

Waldemar de Andrade e Silva. “Lendas e mitos dos índios brasileiros”:  São Paulo: FTD, 1999. 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

O Ano Novo

 Leon Eliachar

Acaba de ser lançado no mercado mais um ano novo, com as mesmas características dos outros anos novos: 

Chega pontualmente no dia 1° de janeiro e vem cheio de promessas e esperanças. 

Tem o mesmo comprimento e a mesma largura: 365 x 12, salvo modificações durante o período ‒ coisa que não acontece a centenas de anos. 

Vem como todos os outros, com os mesmos defeitos de fabricação: apenas um domingo por semana. 

Sem contar a maioria dos feriados, colocados levianamente bem no meio das semanas ‒ e não se aceita reclamações. 

Apesar de tudo, tem exatamente um ano de garantia, as vezes parece mais, as vezes, menos. 

É um ano bastante acolhedor, com a capacidade de abrigar toda a população do mundo, inclusive a que vai nascer. 

Seu slogan para o consumo é o mesmo que vem sendo utilizado com sucesso desde o início: 

¨Feliz Ano Novo¨, e, se não der certo, vem outro aí! 

(O Homem ao Meio, página 239) 

Fora do tempo

 Fabrício Carpinejar

Não deixo o tempo perdoar em meu lugar. Não darei a ele os créditos de minhas dores. 

Assumo minhas falhas e eu mesmo peço desculpa. Minha soberba é menor do que a minha inteligência, e posso garantir que é bem menor do que o meu coração. Ainda que seja um coração tolo, crédulo, facilmente influenciável. 

Não tenho nenhum problema em perder uma briga, mas tenho todos os medos na hora de perder um amor. 

Não permito o tempo resolver o que não resolvi, ajeitar o que não ajeitei, concluir o que abandonei, sugerir o que silenciei, falar por mim. 

Não assinarei uma procuração no cartório para que ele defina minha situação. 

A franqueza tem que ser paga à vista. O tempo apenas acumula juros e distorções do nosso valor. 

Não são os dias, os meses, os anos afastado daquele que amamos que nos trarão clareza. Até porque a saudade torna todos os dias iguais, não faz nenhum sentido aguardar o que já se sabe. 

Há o hábito de sumir e desaparecer quando os dilemas aparecem na vida amorosa. Eu me comprometo até o fim. Se não tem saída, aproveito para ficar junto. 

Sou adepto de permanecer na tempestade a dois ‒ nenhum dilúvio é para sempre. Sou possessivo com as minhas lembranças, arrumo a bagunça que criei, explico minhas crises, não transfiro ao tempo o que é de minha responsabilidade. 

Não considero justo o tempo dizer que eu estava certo ou errado. Isso é confortável, e não existe tranquilidade que substitua a sinceridade. Melhor errar assinando a página do que acertar anonimamente. 

O tempo organiza, mas não define. 

O tempo esfria, mas não cura. 

O tempo estanca a hemorragia, mas não cicatriza. 

O tempo elimina a carência, mas apaga o desejo. 

O tempo acalma, mas não garante o entendimento. 

O tempo adia as dúvidas, mas não consolida as certezas. 

O tempo finge que avançamos, mas não saímos do lugar. 

O tempo serve para diminuirmos a importância das ofensas, mas não resgata os elogios que não serão feitos. 

O tempo é o senhor da razão, só que sempre escolho a fé, senhora da ação. 

A fé cria seu próprio tempo. O tempo de amar é agora. 

******* 

Publicado no jornal Zero Hora

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Pedregulhos no meio da avenida

 Celito Brugnara

No meio do caminho tinha uma pedra

‒ tinha pedras no meio da avenida,

várias pedras pelo meu caminho,

pelos nossos caminhos.

Tinha ao longo da avenida,

espalhadas pedras e pedregulhos.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de meus andares dispersos

e tão desesperançados;

nunca esquecerei que,

no meio da avenida,

muitos pedregulhos atravancavam o caminho;

tinha cunhas, blocos, tachões, hastes,

seriam as pedras jogadas na Geni?

Maldita Geni!

No meio do caminho

me encontrei com pedregulhos alinhados

‒ fossem alpondras* ‒

no meio dos caminhos muitas pedras

atrapalhando o público:

tinha pedras na contramão atrapalhando o tráfego.

 *******

(Apoiado principalmente em Carlos Drummond de Andrade, Chico e até Dante) 

22.01.2021 

O verbo “ter” quando no sentido de “existir” é impessoal e ficará na 3ª pessoa do singular. Por esse motivo, é errado dizer: Tinham muitas coisas para fazer. O certo é: Tinha muitas pessoas no clube, Tinha possibilidades de você permanecer?  Tinha muitas pessoas no clube. Tinha pedras no meio do caminho... 

Pedras, colocadas, de margem a margem, num regato ou rio, para dar passagem. 

No meio do caminho 

Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra. 

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra.

 *******

As pedras mencionadas nesta poesia podem ser classificadas como obstáculos ou problemas que as pessoas encontram na vida, descrita neste caso como um “caminho”. Essas pedras podem impedir a pessoa de seguir o seu percurso, ou seja, os problemas podem impedir de avançar na vida. 

Os versos “nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas” transmitem uma sensação de cansaço por parte do autor, e do acontecimento que ficará sempre na memória do poeta. Assim, as pedras mencionadas também podem indicar um acontecimento relevante e marcante para a vida de uma pessoa. 

(Do blog Cultura Genial)

O poeta da roça

 Patativa do Assaré

Sou fio das mata, cantô da mão grossa,

Trabaio na roça, de inverno e de estio.

A minha chupana é tapada de barro

Só fumo cigarro de paia de mio. 

Sou poeta das brenha, não faço o papé

De argum menestré, ou errante cantô

Que veve vagando, com sua viola,

Cantando, pachola, à percura de amô. 

Não tenho sabença, pois nunca estudei,

Apenas eu sei o meu nome assiná.

Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,

E o fio do pobre não pode estudá. 

Meu verso rastero, singelo e sem graça,

Não entra na praça, no rico salão,

Meu verso só entra no campo, na roça

Nas pobre paióça, da serra ao sertão. 

Só canto o buliço da vida apertada,

Da lida pesada, das roça e dos e dos eito.

E às veiz, recordando feliz mocidade,

Canto uma sodade que mora em meu peito. 

Eu canto o cabôco com suas caçada,

Nas noite assombrada que tudo apavora,

Por dentro das mata, com tanta corage

Topando as visage chamada caipora. 

Eu canto o vaquêro vestido de coro,

Brigando com o tôro no mato fechado,

Que pega na ponta do brabo novio

Ganhando lugio do dono do gado. 

Eu canto o mendigo de sujo farrapo,

Coberto de trapo e mochila na mão,

Que chora pedindo socorro dos home,

E tomba de fome, sem casa e sem pão. 

E assim, sem cobiça dos cofre luzente,

Eu vivo contente e feliz com a sorte,

Morando no campo, sem vê a cidade,

Cantando as verdade das coisa do Norte. 

Bronquinhas e protestos em família

 

‒ Para de ficar horas pendurada nesse telefone! Dá uma chance para os outros! 

‒ Dá para diminuir o som? 

‒ Na sua idade eu era estudioso, disciplinado, bem-educado e nunca levantava a voz com meu pai... 

‒ Você ainda não tem idade para isso! 

‒ Desta vez você passou dos limites! 

‒ Chega de invadir todos os espaços com suas coisas! A casa não é só sua! 

‒ Para de bisbilhotar minhas coisas! 

‒ Toda hora estão mandando eu fazer alguma coisa. Não tenho um minuto de sossego. 

‒ Ele nunca escuta o que eu falo, está sempre lendo o jornal. 

‒ Toda vez que eu quero sair vocês fazem mil perguntas... não vejo a hora de ser independente! 

‒ Você quis o gato e agora quer que eu cuide dele! 

‒ Mãe, você vive prometendo... mas cumprir que é bom... 

‒ Juro que eu sei que as notas são ruins... mas não quero ouvir tudo de novo!

Liliana Iacocca;  Michele Iacocca. O livro do adolescente. São Paulo: Ática, 2005.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Monólogo da noite

 Ribeiro Couto

Esta noite estou triste e não sei a razão.
Vou, para espairecer minha melancolia,
Ouvir o mar, que o mar é uma consolação.
Paro junto do cais olhando a água sombria.
Intermitente, sob o véu da cerração,
Vejo uma luz vermelha a acenar-me... “Confia!”
Obrigado, farol que és como um coração...

A água negra, noturna, a bater contra o cais,
Ilude a minha dor fútil de vagabundo.
E o farol a acenar de longe... “Espera mais!”
Recordo... “Antônio, que o paquete fosse ao fundo!”
Depois, fico a pensar nos que foram leais,
Nos que tiveram a coragem de ir do mundo
E numa noite assim se atiraram do cais.

Água eterna... água terrível... água imortal...
Apavora-me a sua aparência sombria.
Se eu pudesse acabar de uma vez o meu mal!
Mas tenho medo. “Não... A água está muito fria.
Além de fria é funda e tem gosto de sal.”
E surpreendo-me, a chorar de covardia,
Dizendo ao vento esse monólogo banal.
 

******* 

Publicado no livro Poemetos de Ternura e de Melancolia, 1920/1922 (1924). In: Ribeiro Couto. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960. pág.8

domingo, 25 de dezembro de 2022

Stella Maris

 

Ó Estrela do Mar, Mãe de Deus;

tendo concebido pela divina mensagem de Gabriel

‒ Virgem eras e sempre serás ‒

de Ti nasceu Aquele provedor de todos os dons; 

Ilumina os cegos, aparta os males

e nos alcances todos os bens:

Mostra que és nossa Mãe. 

Orienta nossa vida por um caminho seguro,

Desça dos céus Aquele por Ti nascido por nós,

Preserva-nos do pecado, torna-nos mansos e puros. 

A Ti suplicamos, Santa Mãe de Deus,

em toda a parte e sempre por teu suave favor. 

Obtém, por tuas santas preces,

ao Teu Filho Rei, dádivas duráveis

e paz eterna nos céus. 

******* 

Adaptação dos poemas, como oração, recortados das páginas 30-32 do “Bela como a Lua”, livro que resgata a devoção a Maria, pelos tempos do poeta Armindo Trevisan. 

Celito Brugnara, em 11.11.2022


sábado, 24 de dezembro de 2022

Pelas ruas de dezembro

 

Sinto o Natal
quando aperto
as mãos marceneiras de José.

(Ele faz mesas
para a Santa Ceia
de todos os dias).

Natal, para mim,
é o humilde louvor
dos animais
ruminando nos estábulos
o verde feno dos séculos.

Natal, são os Reis Magos
trazendo nas mãos
a oferenda doirada
dos frutos da terra.

Jesus não carece belonaves.

O burrico
lhe serve de trono e viagem
na travessia de nossos desertos
interiores.
Natal é Maria.

Como todas as mães
ela tem uma estrela
a iluminar o caminho de seu Filho.

E o seu Menino
vem pelas ruidosas ruas
de dezembro
renovando no mundo
o grande sonho da fraternidade.
 

Luiz Coronel

O tropeço das palavras

 

→ apropriado 

→ auscultar 

→ a cólera (ira ou doença) 

→ curinga (não coringa) 

→ destoar 

→ dissensão 

→ encapuzado (não encapuçado) 

→ exceção 

→ exprobrar (censurar) (menos “exprobar ‒ do latim exprobrare) 

→ figadal (não fidagal) 

→ flagrante 

→ fragrância 

→ frustração 

→ obsessão 

→ opróbrio (menos usado “opróbio” do latim opprobrium) 

→ perturbar 

→ perspectiva 

→ problema 

→ recorde (pronuncia-se “recórde” ‒ não “récorde” nem “recór”) 

→ Rubrica (brí) ( não rúbrica) 

Expressões de grafia duvidosa 

→ à custa de (não “às custas de”) 

→ a meu ver (não “ao meu ver”) 

→ à vista de (não “às vistas de”) 

→ chamar a atenção (não “chamar atenção”) 

→ dar-se ao direito (preferível a “dar-se o direito”) 

→ dar-se ao luxo (preferível a “dar-se o luxo”) 

→ dar-se ao trabalho (preferível a dar-se o trabalho”) 

→ defronte de (não “defronte ao”) 

→ em cores ‒ TV, revista, impressão (não “a cores”) 

→ em frente de/diante de (não “frente a”) 

→ em via de (não “em vias de”) 

No princípio, o verbo 

Pôr e Querer: apenas “S”. Nenhuma das formas desses verbos leva “Z”: Portanto, quis, quiseste, pus, puseste etc. 

(Texto da revista “Língua Portuguesa”, 

número 3, dezembro de 2005)

As coisas não são o que parecem...

Quando estive na Inglaterra, em Londres, tive a honra de conhecer a rainha e lhe dar um leve toque. Fiquei até muito emocionado ao sair do Museu de Cera... 

Fui o shoping Iguatemi, de terno e gravata, e quatro mulheres me pediram para sair... é que entrei, por engano, no banheiro feminino... 

*******

Quem diz que eu sou relapso, é por que não conhece o prefeito da minha cidade. 

Há coisas que parecem mentiras, mas, verdadeiramente, são. 

Não concordo nem discordo com você, mas muito antes pelo contrário. 

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa completamente diferente da coisa que você pensou. 

Um navio desse tamanho com muitos passageiros a bordo, com barcos e coletes salva-vidas insuficientes, chamado Titanic, com certeza vai afundar. Aí o pessoal se revoltou e expulsou meu avô do cinema. 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Verde em 5 minutos

 

Não tem desculpa! Colaborar com o desenvolvimento sustentável do planeta pode ser rápido e fácil. Confira as dicas para se tornar ecologicamente correto (mas não ecofanático): 

→ Antes de abrir a geladeira pare e pense no que vai pegar. “Abrir a geladeira toda hora, e por tempo prolongado, aumenta o consumo de energia, pois há troca de calor entre o ambiente externo e o interno”, explica Gustavo Veronesi, educador ambiental a SOS Mata Atlântica. 

→ Deixe o freezer sempre cheio. “Com pouca coisa nele, há mais ar para ser resfriado”, diz Veronesi. 

→ Chame só um elevador, para evitar que os outros se desloquem sem necessidade. 

→ Não pegue sacos plásticos em todo lugar aonde for. Uma caixinha de remédio, por exemplo, cabe na bolsa. 

→ A máquina de lavar facilita a vida, mas não se deve contar com ela todo santo dia. Ligue-a, no máximo, três vezes por semana e lave a frio (economizando 92% de energia), com carga máxima. 

→ Faça a tela do computador entrar em modo de espera após 10 a 20 minutos sem uso ‒ 70% da energia gasta por ele é consumida pelo monitor. 

→ Fechar a torneira ao escovar os dentes ou lavar as mãos, a mais comum das recomendações, às vezes não é levada a sério. Segundo o Greenpeace, em cinco minutos, uma torneira gasta pelo menos 12 litros de água, se este conselho for seguido, ela gasta de um a dois litros. 

→ Depois de usar o carregador do celular, tire-o da tomada. “Embora o consumo em stand by de alguns modelos seja pequeno, é possível reduzi-lo a zero”, afirma Emerson Salvador, do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica da Petrobras. 

→ Ajuste o ar-condicionado. Termostato desregulado prejudica o meio ambiente, pois gasta energia em excesso. 

→ Observe os rótulos e dê preferência aos alimentos orgânicos. “O tomate convencional, por exemplo, recebe 40 pulverizações de agrotóxicos”, diz José Pedro Santiago, diretor do Instituto Biodinâmico. 

→ Evite jogar na pia o óleo de cozinha usado, que polui o meio ambiente e pode entupir o encanamento. Espere que o líquido esfrie, coloque em uma garrafa pet e encaminhe para reciclagem. Em algumas cidades do Brasil, o serviço de coleta seletiva recolhe o material. O óleo pode ser transformado em biocombustível. 

(Da Seleções Reader's Digest, dezembro de 2007)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Férias com segurança

 Moacyr Scliar*

Que precauções devemos tomar antes de viajar? 

Quem vai para lugares onde as condições de saúde pública representam problemas, deve adotar as seguintes recomendações: 

1. Vacinar-se. Uma vacina importante é a da febre amarela, que pode ser tomada dede a infância e repetida a intervalos de dez anos. Pessoas que não estão vacinadas e que vão para áreas de risco, como as regiões de matas no Norte e no Centro-Oeste, devem se vacinar no mínimo dez dias antes da viagem. 

2. Cuidados com os alimentos. Ferva, cozinhe (bem), descasque ou aqueça! Essa é a regra quando se trata de carnes, frutas, legumes e verduras. Deve-se evitar molhos e maionese, que podem estar contaminados. Quanto à água, é melhor consumir de garrafas com gás: a água sem gás pode ser de torneira ou de outra fonte desconhecida. 

3. Cuidado pessoais. Para evitar mordidas e doenças transmitidas por animais, não segure macacos, cães, gatos ou animais silvestres. Se você faz uso de medicamentos, leve os remédios em quantidade suficiente. 

No mais, boa viagem! 

(Da Seleções Reader's Digest, dezembro de 2007) 

*******

* Foi médico especialista em saúde Pública, escritor e foi membro da Academia Brasileira de Letras. 

Nasceu em 23 de março de 1937, Porto Alegre, Rio Grande do Sul; faleceu em 27 de fevereiro de 2011, Porto Alegre, RS.

O dia da criação não deu na TV

 Frei Beto

No dia da Criação da América Latina, os anjos, intrigados, decidiram protestar junto ao Senhor. Foi o primeiro gesto de pressão sindical: 

‒ Javé*, não seria injustiça dotar o Brasil de extensão tão grande? Por que não dividi-lo em dois ou três países? 

Diante do soberano silêncio do Criador, os querubins apresentaram outra queixa. 

‒ Colocamos tantos vulcões na pequena América Central, e o Brasil não terá nenhum? Distribuímos terremotos pelo Caribe e México; desertos no sul do Peru e norte do Chile; neves nos Andes; e nada disso nas terras de Santa Cruz? 

Os serafins, filiados à CUT, já pensaram em denunciar Javé como injusto: 

‒ Senhor, por que tantos privilégios ao Brasil?  Nada de tufão, furacão, maremoto ou montanhas inabitáveis? Nem um tornadozinho? Não estaria o Criador transferindo de lugar o Jardim do Éden? 

Os arcanjos, pragmáticos, já tinham feito os cálculos das vantagens do Brasil: 

‒ Se o Todo Poderoso não modificar Seus planos, o Brasil terá 600 milhões de terras agricultáveis, rios imensos e piscosos, uma costa de 8 milhões e 500 mil km2, a mais rica floresta tropical da Terra, potencial para quatro safras por ano e capacidade de produzir tudo que os seres humanos necessitarem para sobreviver e ser felizes. 

Um vento forte soprou sobre a assembleia de anjos.  Afinal, Javé rompeu o silêncio: 

‒ Se depender de Mim, o Brasil será o Paraíso na Terra. Mas esperem só um pouco para ver que tipo de políticos os eleitores vão escolher para governá-lo.** 

(...) 

******* 

(Parte de um texto da revista BUNDAS, janeiro de 2000) 

*  Javé ou Jeová é uma das transliterações para língua portuguesa (além de Javé, Iehovah, Iavé ou até Yahweh) do Tetragrama YHVH, ou seja, a designação das quatro consoantes que compõem o nome de Deus em hebraico. 

** E a profecia de Javé, realmente, aconteceu nas eleições de 2018...

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Moleque de rua

 

Imagem da internet

Dei duro. Enfrentei. 

Comecei por baixo, baixo, como todo sofredor começa. Servindo para um, mais malando, ganhar. Como todo infeliz começa. 

Já cedinho batucava. 

– Vai um brilho, moço? 

Repicar na caixa, mandar os olhos nos pés que passavam. Chamar freguês. E depois me mandar no brilho dos sapatos. Fazer um barulhão com o pano, atiçar os braços finos, esperto ali. 

Os dedos imundos não tinham sossego. Às vezes, cobiçava os pisantes dos fregueses; então, apurava mais o brilho. O tipo se levantava da cadeira, se arrumava todo; se empinava, me escorregava uma nota. Humilde, meio encolhido, eu recolhia a gorja magra. Tudo pixulé, só caraminguás, uma nota de dois ou cinco cruzeiros. Mas eu levantava os olhos e agradecia. 

Aguentava frio nas pernas, andava de tênis furado, olhava muito doce que não comia e os safanões que levei no meio das ventas, quando me atrevia a vontades, me ensinaram que o meu negócio era ver e desejar. Parasse aí. Aguentei muito xingo, fui escorraçado, batido e dormi de pelo no chão. Levei nome de vagabundo desde cedo. Lá na rua do Triunfo, na Pensão do Triunfo, seu Hilário e dona Catarina. 

Aquilo, àquele tempo, já era o casarão descorado dos dias de hoje, já pensão de mulheres. Mas abrigava também, à noite, magros, encardidos, esmoleiros, engraxates, sebosos, aleijados, viradores, cambistas, camelôs, gente de crime miúdo, mas corrida da polícia: safados da barra pesada que, mal e mal amanhecia, seu Hilário mandava andar. Cada um para a sua viração. 

A gente caía para a sua. Catava que catava um jeito de se arrumar. Vender pente, vender jornal, lavar carro, ajudar camelôs, passar retrato de santo, gilete, calçadeira... Qualquer bagulho é esperança de grana, quando o sofredor tem a fome. Vontade, jeito? A fome ensina. A gente nas ruas parecia cachorro enfiando a fuça atrás de comida. 

(...) 

******* 

Parte do conto “Paulinho Perna torta”, de João Antônio. 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

O poder das palavras

 

[...] 

As palavras têm um poder tremendo. Repito com assertividade: as palavras têm um poder tremendo. Há palavras que edificam, outras que destroem; umas trazem bênção, outras, maldição. E é entre estas duas balizas que a comunicação vai moldando a nossa vida. 

[...] 

Há palavras que deviam ser escondidas num baú fechado a sete chaves. Porque não edificam, porque magoam, porque destroem... 

Há uns tempos fui fazer um exame médico. Após o questionário clínico habitual, a médica prosseguiu “Agora, vou fazer-lhe umas maldades”. Nesse instante, o meu corpo sucumbiu e o desmaio tornou-se iminente. Ora, a palavra maldade magoou-me mais do que o próprio exame. Teria sido muito sensato ter escondido tal palavra num quarto escuro. Não teria magoado tanto. 

Mas voltemos às palavras amigas, as que mimam, as que confortam, as que aquecem o coração. 

Sabiam que podem mudar o dia de alguém com uma calorosa saudação? “Bom dia, como está?” Experimentem, sempre que comunicam, escolher palavras com carga afetiva positiva! Por exemplo, se substituírem a palavra “problema” por “situação”, o problema parece tornar-se mais pequeno, não parece? Ou então acrescentar adjetivos robustos quando agradecem a alguém: “Obrigada pela sua preciosa, valiosa ajuda”. 

Se queremos relações pessoais e profissionais mais saudáveis e felizes, usemos e abusemos das palavras positivas na nossa vida. E não nos cansemos de elogiar. Palavras de louvor e honra trazem felicidade não só a quem as recebe mas também, e sobretudo, a quem as oferece. 

******* 

Sandra Duarte Tavares “O poder das palavras”. Visão, ed. 1298, 17 jan. 2017. 

Fonte: Livro – “Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa” – 8º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, págs. 24-25.

Trágico acidente de leitura

 Mário Quintana

Tão comodamente que eu estava lendo, como quem viaja num raio de lua, num tapete mágico, num trenó, num sonho.  Nem lia: deslizava. Quando de súbito a terrível palavra apareceu, apareceu e ficou, plantada ali diante de mim, focando-me: ABSCÔNDITO. Que momento passei! ... O momento de imobilidade e apreensão de quando o fotógrafo se posta atrás da máquina, envolvidos os dois no mesmo pano preto, como um duplo monstro misterioso e corcunda... O terrível silêncio do condenado ante o pelotão de fuzilamento, quando os soldados dormem na pontaria e o capitão vai gritar: Fogo! 

******* 

Do livro Nova Antologia Poética 

Abscôndito: escondido, camuflado, disfarçado, encoberto, mantido em segredo; oculto: dinheiro abscôndito.

domingo, 18 de dezembro de 2022

Textos de Eduardo Galeano

 Para a cátedra de Literatura

Enrique Buenaventura estava bebendo rum numa bodega de Cali* quando um desconhecido se aproximou da mesa. O homem se apresentou, era pedreiro, às suas ordens, para servi-lo. 

‒ Preciso que o senhor escreva uma carta. Uma carta de amor. 

‒ Eu? 

‒ Me disseram que o senhor sabe. 

Enrique não era especialista, mas encheu o peito. 

O pedreiro esclareceu que não era analfabeto: 

‒ Eu sei escrever. Mas uma carta assim, não sei. 

‒ E para quem é a carta? 

‒ Para... ela. 

‒ E o que você quer lhe dizer? 

‒ Se eu soubesse, não lhe pediria. 

Enrique coçou a cabeça. 

À noite, pôs mãos à obra. 

No dia seguinte, o pedreiro leu a carta: 

‒ Perfeito ‒ disse, com os olhos brilhantes. ‒ Era isso. Mas eu não sabia que era isso o que eu queria dizer. 

******* 

* Cali: cidade da Colômbia


Os amigos

Uma comprida mesa de amigos, no restaurante Plataforma, era o refúgio de Tom Jobim contra o sol do meio-dia e o tumulto das ruas do Rio de Janeiro

Naquele meio-dia, Tom sentou-se à parte. Num canto, ficou a beber cerveja com Zé Fernando. Com ele dividia o chapéu de palha, que usavam alternadamente, num dia um, no dia seguinte o outro, e dividia também outras coisas mais. 

‒ Não ‒ disse Tom, quando alguém se aproximou. ‒ Estou no meio de uma conversa muito importante. 

E quando veio outro amigo: 

‒ Me desculpa, mas temos muito o que falar. 

E a outro: 

Perdão, mas estamos discutindo um assunto grave. 

Naquele canto à parte, Tom e Zé Fernando não disseram uma só palavra. Zé Fernando estava num dia bem fodido, um daqueles dias que deveriam ser arrancados da folhinha e expulsos da memória, e Tom o acompanhava calando cervejas. Assim estiveram, música do silêncio, do meio-dia ao fim da tarde. 

Já não havia ninguém no restaurante quando os dois foram embora, andando bem devagarinho. 

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Textos da revistas BUNDAS,

de novembro de 1999 e janeiro de 2000.


Eduardo Hughes Galeano (Montevideú, 3 de setembro de 1940 – Montevidéu, 13 de abril de 2015) foi um jornalista e escritor uruguaio.  É autor de mais de 40 livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem gêneros ortodoxos, combinando ficção, jornalismo, análise política e História. Galeano é considerado um dos principais expoentes do Antiamericanismo e Anticapitalismo na América Latina no Século XX. 

Palavras

 Adriana Falcão

As gramáticas classificam as palavras em substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, conjunção, pronome, numeral, artigo e preposição. Os poetas classificam as palavras pela alma porque gostam de brincar com elas e para brincar com elas é preciso ter intimidade primeiro.  

É a alma da palavra que define, explica, ofende ou elogia, se coloca entre o significante e o significado pra dizer o que quer, dar sentimento às coisas, fazer sentido.  

Nada é mais fúnebre do que a palavra fúnebre. 

Nada é mais amarelo do que o amarelo-palavra. 

Nada é mais concreto do que as letras c, o, n, c, r, e, t, o, dispostas nessa ordem e ditas dessa forma, assim, concreto, e já se disse tudo, pois as palavras agem, sentem e falam por elas próprias.  

A palavra nuvem chove. A palavra triste chora. A palavra sono dorme. A palavra tempo passa. A palavra fogo queima. A palavra faca corta. A palavra carro corre. A palavra cruz carrega. A palavra palavra diz. O que quer. E nunca desdiz depois.  

As palavras têm corpo e alma, mas são diferentes das pessoas em vários pontos. As palavras dizem o que querem, está dito, e pronto, as palavras são sinceras, as segundas intenções são sempre das pessoas.  

A palavra juro não mente. A palavra mando não rouba. A palavra cor não destoa. A palavra sou não vira casaca. A palavra liberdade não se prende. A palavra amor não se acaba. A palavra ideia não muda. Palavras nunca mudam de ideia. Palavras sempre sabem o que querem. Quero não será desisto. Sim nunca jamais será não.  

Árvore não será madeira. Lagarta não será borboleta. Felicidade não será traição. Tesão nunca será amizade. Sexta-feira não vira sábado nem depois da meia-noite. Noite nunca vai ser manhã. Um não serão dois em tempo algum. Dois não será solidão. Dor não será constantemente. Semente nunca será flor.  

As palavras também têm raízes, mas não se parecem com plantas a não ser algumas delas, verde, caule, folha, gota.  

As células das palavras são as letras. Algumas são mais importantes do que as outras. As consoantes são um tanto insolentes. Roubam as vogais para construírem sílabas e obrigam a língua a dançar dentro da boca. A boca abre ou fecha quando a vogal manda.  

As palavras fechadas nem sempre são mais tímidas. A palavra sem-vergonha está aí de prova. Prova é uma palavra difícil. Porta é uma palavra que fecha. Janela é uma palavra que abre. Entreaberto é uma palavra que vaza. Vigésimo é uma palavra bem alta. Carinho é uma palavra que falta. Miséria é uma palavra que sobra. A palavra óculos é séria. Cambalhota é uma palavra engraçada. A palavra lágrima é triste. A palavra catástrofe é trágica. A palavra súbito é rápida. Demoradamente é uma palavra lenta. Espelho é uma palavra prata. Ótimo é uma palavra ótima. Queijo é uma palavra rato. Rato é uma palavra rua. 

Existem palavras frias como mármore. Existem palavras quentes como sangue. Existem palavras mangue, caranguejo. Existem palavras lusas, Alentejo. Existem palavras itálicas, ciao. Existem palavras grandes, anticonstitucional. Existem palavras pequenas, microscópico, minúsculo, molécula, partícula, quinhão, grão, covardia. Existem palavras dia, feijoada, praia, boné, guarda-sol. Existem palavras bonitas madrugada. Existem palavras complicadas, enigma, trigonometria, adolescente, casal. Existem palavras mágicas, shazam, abracadabra, pirlimpimpim, sim e não.  

Existem palavras que dispensam imagens, nunca, vazio, nada, escuridão. Existem palavras sozinhas, eu, um, apenas, sertão. Existem palavras plurais, mais, muito, coletivo, milhão. Existem palavras que são palavrão. Existem palavras pesadas, chumbo, elefante, tonelada. Existem palavras doces, goiabada, marshmallow, quindim, bombom. Existem palavras que andam, automóvel. Existem palavras imóveis, montanha. Existem palavras cariocas, Corcovado.  

Existem palavras completas, todas elas. Toda palavra tem a cara do seu significado. A palavra pela palavra tirando o seu significado fica estranha. Palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra não diz nada, é só letra e som e mais nada.

(Do livro “Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento”) 

Adriana Falcão é escritora e roteirista da TV Globo. Escreveu A Grande Família, Comédias da Vida Privada, a série Mulher, além de roteiros para o cinema, tais como Se Eu Fosse Você, O Auto da Compadecida e O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias. Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento é de 2003.

sábado, 17 de dezembro de 2022

O enigma das palavras

 Joel Silveira

O fato aconteceu no outono de 1993* na Universidade de Spietsbergen, na Noruega Ártica. Em meio à aula que estava ministrando, o professor Karl Krasgman, catedrático de Fisiologia Aculturada, interrompeu inesperadamente a brilhante dissertação que vinha fazendo e, após um pequeno intervalo e encarando com olhar raivoso seus alunos, bradou: 

Alaä tule opettamaan minulle, miká on taikauskoa já mika ei! 

A tal destempero aparentemente sem nexo de Krasgman seguiu-se um silêncio pesado, sufocante, com os alunos, rapazes e moças, se entreolhando entre aturdidos e boquiabertos. Até que lá do fundo da sala escutou-se a voz de um estudante, de nome Christoffen Lars Venajan, que gritou, em tom interrogativo, dirigindo-se ao professor: 

Aiotko sinä kutsua riistäjäksi? 

Como Krasgman não tivesse respondido nada, Chistoffen acrescentou, em voz ainda mais alta e já tomado de grande ira: 

Ei, ei missn tapauksessa! 

Em seguida, Chistoffen virou-se para seus colegas e lhes disse, peremptório: 

‒ Depois da ignóbil agressão que escutamos do professor Krasgman, só os que não têm vergonha na cara permanecerão nesta sala! 

E retirou-se, no que foi acompanhado por todos os colegas. 

A frase do professor e a resposta do estudante jamais foram traduzidas em língua de gente, o que não impediu de Krasgman ser demitido por atentado ao pudor e de a cátedra de Fisiologia Aculturada ser substituída pela de Metabolismo Aleatório. O fato do professor jamais ter revelado o que realmente queria dizer com a imprecação e de Christoffen negar-se sempre a revelar o que havia respondido a Krasman com tanta ênfase e indignação fez do ocorrido naquela tarde de outono de 1993, na Universidade de Spistsbergen, um enigma que perdura até hoje. 

(Da revista BUNDAS, outubro de 1999) 

*Data alterada do texto original.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Por que o Brasil foi eliminado da Copa:

 Marco Aurélio Albuquerque,

Médico Psicanalista.

Depois de ver como foi fácil para a Argentina despachar a Croácia, cheguei à seguinte avaliação sobre a Seleção Brasileira no Catar. 

Cabelo: da moda ou descolorido, nos trinques! 

Sobrancelha: milimetricamente aparadas. 

Barba: contornos modernos e bem desenhados. 

Fones de ouvido: Bose e um que outro Apple. 

Roupas: de grife, estilo “Novo rico”. 

Tênis: de grife, mas não dessas que se acha no shopping. 

Chuteiras: Nike e Adidas de última geração, feitas sob medida. 

Coreografia: 10 dancinhas pré-ensaiadas na concentração com DJ. 

Futebol: o quê? Tinha isso? Como assim? Por que não avisaram antes? 

Para uma guerra, mandamos um batalhão de dançarinos (acompanhados de seus personal stylists). Comandados por um pastor adepto da Teologia da Libertação*. 

Não tinha como dar certo. 

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(No jornal Zero Hora, 15 de dezembro de 2022)

Os jogadores dançaram e o Brasil dançou...

 

Foto ESPN

* Aí já achamos que não tem nada a ver, mas há leitores que vão achar correta a observação...