Carlos Queiroz Telles
Este
corpo
que
agora me veste
ainda
é casca
e
casulo
de
um outro bicho
que cresce.
Esta
capa que me acompanha
desde
os tempos
de
criança
desce
inútil
aos
meus pés.
Sou
a ponte
que me liga.
Sou
o gesto
que
me une.
Sou
o fui
e o serei.
Este
tempo
que
me guarda
para
um outro
amanhecer
é
lembrança
e
é promessa,
recordação
e
esperança,
morte
e vida
enoveladas
na
meada
das mudanças.
Sementes de sol*. São Paulo: Moderna, 1992. pág 36-7.
Cruel Dilema
Ir
ou não ir à escola...
Fazer
da terça, domingo.
Fazer
da tarde, recreio.
Fazer
da classe, preguiça.
Fazer da aula, passeio...
Ir ou não ir à escola...
Trocar
a carteira pela rua.
Trocar
a prova pelo vento.
Trocar
a mochila pelo sol.
Trocar o futuro pelo momento.
Ir ou não ir à escola...
Aprender
a fazer, olhando.
Aprender
a falar, ouvindo
Aprender
a saber, fazendo.
Aprender a viver, vivendo.
Ir ou não ir à escola...
Eis
a maior, a única,
a verdadeira questão!
*******
* Sementes de Sol fora publicado em 1953, com poemas curtos, retratando o mundo pela perspectiva do adolescente. O livro tem um estilo de narrativo no formato de diário poético em que Carlos fala com os jovens.
Sementes
de Sol constitui-se de 30 poemas, divididos em duas partes: diário e dúvidas
e confissões. São poemas curtos, leves, retratando o mundo pela perspectiva do
adolescente. São breves dúvidas, medos do futuro, flagrantes do cotidiano do
jovem. As transformações do físico, o surgimento da atração pelo sexo oposto, a
divisão entre o amor pela família e a raiva pelas opiniões divergentes, a
descoberta maior de si mesmo. O livro é um diário poético em que o autor fala
com os jovens de hoje, emocionando também os jovens que ainda moram dentro de seus pais.
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