segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Sementes de sol

 Carlos Queiroz Telles

Este corpo

que agora me veste

ainda é casca

e casulo

de um outro bicho

que cresce. 

Esta capa que me acompanha

desde os tempos

de criança

desce inútil

aos meus pés.

Sou a ponte

que me liga. 

Sou o gesto

que me une.

Sou o fui

e o serei. 

Este tempo

que me guarda

para um outro

amanhecer

é lembrança

e  é promessa,

recordação e

esperança,

morte e vida

enoveladas

na meada

das mudanças. 

Sementes de sol*. São Paulo: Moderna, 1992. pág 36-7.

 Cruel Dilema

Ir ou não ir à escola...

Fazer da terça, domingo.

Fazer da tarde, recreio.

Fazer da classe, preguiça.

Fazer da aula, passeio... 

Ir ou não ir à escola... 

Trocar a carteira pela rua.

Trocar a prova pelo vento.

Trocar a mochila pelo sol.

Trocar o futuro pelo momento. 

Ir ou não ir à escola... 

Aprender a fazer, olhando.

Aprender a falar, ouvindo

Aprender a saber, fazendo.

Aprender a viver, vivendo. 

Ir ou não ir à escola... 

Eis a maior, a única,

a verdadeira questão! 

******* 

* Sementes de Sol fora publicado em 1953, com poemas curtos, retratando o mundo pela perspectiva do adolescente. O livro tem um estilo de narrativo no formato de diário poético em que Carlos fala com os jovens.

Sementes de Sol constitui-se de 30 poemas, divididos em duas partes: diário e dúvidas e confissões. São poemas curtos, leves, retratando o mundo pela perspectiva do adolescente. São breves dúvidas, medos do futuro, flagrantes do cotidiano do jovem. As transformações do físico, o surgimento da atração pelo sexo oposto, a divisão entre o amor pela família e a raiva pelas opiniões divergentes, a descoberta maior de si mesmo. O livro é um diário poético em que o autor fala com os jovens de hoje, emocionando também os jovens que ainda moram dentro de seus pais.

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