quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

O poeta da roça

 Patativa do Assaré

Sou fio das mata, cantô da mão grossa,

Trabaio na roça, de inverno e de estio.

A minha chupana é tapada de barro

Só fumo cigarro de paia de mio. 

Sou poeta das brenha, não faço o papé

De argum menestré, ou errante cantô

Que veve vagando, com sua viola,

Cantando, pachola, à percura de amô. 

Não tenho sabença, pois nunca estudei,

Apenas eu sei o meu nome assiná.

Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,

E o fio do pobre não pode estudá. 

Meu verso rastero, singelo e sem graça,

Não entra na praça, no rico salão,

Meu verso só entra no campo, na roça

Nas pobre paióça, da serra ao sertão. 

Só canto o buliço da vida apertada,

Da lida pesada, das roça e dos e dos eito.

E às veiz, recordando feliz mocidade,

Canto uma sodade que mora em meu peito. 

Eu canto o cabôco com suas caçada,

Nas noite assombrada que tudo apavora,

Por dentro das mata, com tanta corage

Topando as visage chamada caipora. 

Eu canto o vaquêro vestido de coro,

Brigando com o tôro no mato fechado,

Que pega na ponta do brabo novio

Ganhando lugio do dono do gado. 

Eu canto o mendigo de sujo farrapo,

Coberto de trapo e mochila na mão,

Que chora pedindo socorro dos home,

E tomba de fome, sem casa e sem pão. 

E assim, sem cobiça dos cofre luzente,

Eu vivo contente e feliz com a sorte,

Morando no campo, sem vê a cidade,

Cantando as verdade das coisa do Norte. 

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