terça-feira, 31 de julho de 2018

Gosto de gente...

Por Nicolau Lütz


Gosto de gente que valoriza o seu próprio pensamento,
Gente que tem noção da alma e vive com sensibilidade,
Que cultiva um ideal, que busca melhorar a realidade.
Gosto de gente que demonstre seu próprio sentimento,
Gosto de gente que olha nos olhos com clareza.
Gosto de gente que indaga, que busca a sua certeza.

Gosto de gente que respeita a Natureza.
Gosto de gente que tem um sorriso franco,
E que seja capaz de chorar, sem sentir fraqueza.
Gosto de quem sabe curtir, de verdade, cada encanto.
Gosto de gente que percebe o que o coração sente,
Que sabe demonstrar, sem medo, quando está contente.

Gente de quem sabe amar ao próximo, amar à humanidade,
Que conhece a saudade, que percebe a dor do semelhante.
Gosto de quem cultiva flores, de quem não liga pra maldade,
Gosto de gente inteligente, com a mente sempre brilhante,
Que tem noção da vida espiritual sem perder a condição humana.
Gosto de gente que contra as injustiças se inflama, se irmana.

Gosto de quem admira uma paisagem, o trabalho valoriza,
E que saiba repousar. Gosto de gente sincera ao falar
E que sabe, também, como é bom poder escutar.
Gosto de quem sabe curtir o sol ou a beleza que há na brisa.
Que tem o olhar crítico e a interpretação criteriosa.
Gosto de quem sabe o valor do respeito e da palavra jocosa.

Gosto de quem gosta de leituras com conteúdo,
Que saiba interpretar as notícias, a história, o jornal.
Gosto de gente que cultua o saber, o conhecimento,
As descobertas, a curiosidade do se autoconhecer.
Gosto de quem tem tolerância com os pobres e caridade
Para com os fracos, sem vaidade ou prepotência.
Gosto de quem sabe pedir perdão e de quem sabe perdoar...

Gosto de gente que tem disposição para se renovar,
Gosto de quem tem criatividade, de quem tem iniciativa,
Gente que, ao errar, procura o erro reparar,
De quem sabe colaborar. Gosto de pessoas criativas.
De quem acha algum valor para a cidadania voluntária,
Gosto de gente que demonstra ter atitude solidária.

Gosto de gente da Paz. Que não carrega ódios ou paixões.
Gente sem fanatismo por partidos políticos, futebol ou religiões.
Gente de coração desarmado, sem ódios e sem preconceitos
Com muito AMOR dentro de si; que tem seus próprios preceitos.

Esta gente que eu gosto não tem raça, não tem idade,
Pois sabem que a Espiritualidade antecede a sexualidade,
Que cultura não é apenas escolaridade.
Gosto de gente que não descuida de gostar de gente.
Gosto de gente que difere patriotada de patriotismo,
Gosto muito de todos os meus Irmãos do Paraquedismo.

E acredito que é deste tipo de gente que gosta de DEUS
E também por Ele é abençoada.
Gosto desta figura insubstituível do AMIGO 
E é por tudo isso que eu gosto de vocês
E quero suas amizades sempre comigo.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Conselhos de Martin Fierro

Canto XXXII do imortal poema de José Hernandez)
Tradução de J. O. Nogueira Leiria


Todo pai que dá conselhos
é mais que pai – um amigo:
como tal , assim lhes digo que
que vivam com preocupação:
- ninguém sabe em que rincão
se oculta seu inimigo.

Eu nunca tive outra escola
que uma vida desgraçada;
desculpem se na jogada
alguma vez me equivoco,
pois deve saber mui pouco
quem não pôde aprender nada.

Há homens cuja cabeça
só de saber se povoa;
aos sábios ergam-se loas,
mas isto devo dizer:
melhor que o muito saber
é aprender coisas boas.

Não aproveitam trabalhos
se não nos ensinam nada;
o homem, de uma mirada,
tudo há de ver num momento:
seu melhor conhecimento
é conhecer quando enfada.

A esperança não deleguem
ao alheio coração;
e, na maior aflição,
confiem no Onipotente;
entre os homens, num somente;
em dois, só com precaução.

As faltas não têm limites,
tais como os têm os terrenos;
existem nos mais serenos,
e, assim, vale este preceito;
- quem quer que tenha defeito,
desculpe os outros ao menos.

Jamais a quem seja amigo
deixem ficar na estacada;
porém não lhe peçam nada,
nem esperem dele tudo:
amigo fiel, sobretudo,
é uma conduta honrada.

O medo nem a cobiça
será bom que nos assaltem;
assim, não se sobressaltem
pelos bens que lhes perecem:
aos ricos não se ofereçam
e aos pobres jamais lhes faltem.

Passa bem até entre os pampas
quem guarda respeito à gente;
há de o homem ser prudente
para livra-se de arrochos:
cauteloso frente aos frouxos,
moderado entre valentes.

O trabalho é uma lei
a quem tem de adquirir;
não se exponham a curtir
uma triste situação:
sangra muito o coração
de quem tenha que pedir.

Deve o homem trabalhar
se quiser viver ufano;
a desgraça só traz dano
e persegue de mil modos:
chama na porta de todos
e entra só no do haragano.

Na provoquem outro homem,
porque ninguém se acovarda:
conhecê-lo pouco tarda
quem ameaça imprudente,
- sempre há um perigo presente
e outro perigo que aguarda.

Para vencer um perigo,
qualquer abismo salvar,
eu posso lhes afirmar:
melhor que o saber e a lança
sói servir a confiança
que o homem em si guardar.
..............................
..............................

Se o coração entregarem
a alguma mulher querida,
não façam nunca partida
que a ela possa ofender:
sempre os há de perder
uma mulher ofendida.

Se são cantores, procurem
só cantar com sentimento;
não firam nunca o instrumento
só por gosto de falar,
e acostumem-se a cantar
só coisas de fundamento.

E lhes dou estes conselhos,
que custei pra adquirir,
porque os quero dirigir;
porém não vai minha ciência
até lhes dar a prudência
que é preciso pra os seguir.

Estas coisa e outras muitas
meditei nas soledades;
não se encontram falsidades,
nem erros nestes conselhos:
sempre da boca dos velhos
é que brotam as verdades.

Nota: J. O. Nogueira Leiria traduziu, integralmente, o imortal poema de José Hernandez – “Martin Fierro” -, de que damos o excerto acima.

“La bíblia gaúcha”, como os compatriotas de Hernandez chamam a esse monumento das letras americanas, tem, agora, sua versão portuguesa, como já se fez para tantas outras línguas faladas em todos os cantos do mundo.

“Ele anda sempre fugindo. Sempre pobre e perseguido; não tem cova nem ninho como se fora um maldito, porque ser gaúcho... ser gaúcho é delito.” José Hernández - Martín Fierro, 1872.

Consultoria sentimental moderna

Solicitação


Caro Orientador Sentimental:

Espero que você possa me ajudar.

Outro dia, de manhã, eu peguei meu carro e saí para trabalhar, deixando meu marido em casa vendo televisão, como sempre. Eu rodei pouco mais de um quilômetro, quando o motor morreu e o carro parou. Então eu voltei para minha casa, para pedir ajuda ao meu marido. Quando cheguei lá, nem pude acreditar naquilo que meus olhos estavam vendo. Ele estava no quarto, com a filha da vizinha!

Eu tenho 32 anos, meu marido 34, e a garota 22. Nós estamos casados há dez anos. Quando eu o interpelei, ele confessou que eles estavam tendo um caso há seis meses. Eu disse a ele para parar com isso, senão eu o deixaria. Esclareço que ele foi demitido do seu emprego há seis meses e desde então tem estado muito deprimido. Eu o amo muito, mas desde que eu lhe dei aquele ultimato ele tem estado muito calado, ausente, distante. Ele não está se cuidando e eu temo não poder tê-lo de volta nunca mais. Estou desesperada. Você pode me ajudar?

Antecipadamente grata.

Patrícia 

Resposta
  
Cara Patrícia:

Quando um carro para, depois de haver percorrido uma pequena distância, isso pode ter ocorrido devido a uma série de fatores. Comece por verificar se tem gasolina no tanque.

Depois veja se o filtro de gasolina não está entupido. Verifique também se tem algum problema com a injeção eletrônica. Se nada disso resolver o problema, pode ser que a própria bomba de gasolina esteja com defeito, não proporcionando quantidade ou pressão suficiente nos injetores. Talvez tenha que trocar de carro, isto é muito comum.

Espero ter ajudado,

Orientador Sentimental.

Um fato da Segunda Guerra Mundial

Kilroy was here

(Kilroy esteve aqui)

“Kilroy esteve aqui”, grafite que o exército americano usa para indicar que eles passaram pelo local.

A frase e o desenho abaixo estavam em todos os jipes, caminhões e armamentos americanos.


James J. Kilroy era nem mais nem menos que um fiscal dos estaleiros navais do Massachussets, nos EUA, que durante a construção naval intensa da Segunda Guerra Mundial, estava encarregado de inspecionar e contar o trabalho dos rebitadores. Rebitadores esses, que eram pagos por cada rebite colocado. Após a inspeção e a contagem, Kilroy colocava no local, uma marca de giz para que os outros fiscais soubessem que aqueles rebites já estavam contados. Os rebitadores, ratões, iam por detrás do pachola do Kilroy e apagavam as suas marcas de giz, o que levou a pagamentos dobrados, pelos quais o Kilroy foi chamado à pedra. E o Kilroy não esteve com meias medidas e passou a andar com lata de tinta e brocha. E brochava tudocom a expressão “Kilroy Was Here”.

Acontece ainda que, como em tempo de guerra não se limpam espingardas, as lanchas de desembarque, navios de transporte e demais material de guerra, saía dos estaleiros diretamente pra frente de batalha sem qualquer pintura que eliminasse os milhares de “Kilroy Was Were” presentes em tudo. Muitas lanchas de desembarque e navios de transporte de tropas, apresentavam assim como único emblema, estandarte ou bandeira, o misterioso e eterno “Kilroy Was Here”.

Os soldados americanos acharam a coisa engraçada e adotaram a expressão, tratando eles próprios de pintar em tudo, dos tanques às baionetas, razão pela qual se vê tal expressão em muitos filmes sobre a Segunda Guerra, tanto na Europa como no Pacífico. Pelo meio há um soldado desconhecido, ao que se julga na frente do Pacífico, que acrescenta à expressão, o boneco do narigudo a espreitar por cima da vedação. A coisa tornou-se de tal maneira iconográfica que contaminou a própria guerra da Coreia e do Vietname.



Um acontecimento típico gaúcho



O coronel Hortêncio Rodrigues e esposa

Duas de 23

O coronel Hortêncio Rodrigues foi um dos principais lugar-tenentes de Honório Lemes, na Revolução 23.

Fazendeiro em São Francisco de Assis, homem de algumas luzes, desempenado e enxuto de carnes, o coronel Hortêncio afamazou-se, sobretudo, por sua valentia pessoal que, com perdão pelo lugar comum, chegava às raias da loucura.

Seus homens − todos recrutados por ele − pouco ou nada ficavam a dever ao chefe. Seu piquete, por isso, era dos mais temidos por parte dos chimangos de Flores (da Cunha). Com uma vincha colorada cinchando a copa do chapéu, havia quem os chamasse de “cardeais a cavalo”.

A qualquer outro tipo de combate preferiam o encontro corpo a corpo, quando as lanças, espadas e adagas de bom fio eram manejadas por mãos hábeis. Usando a hoje chamada “técnica de guerrilhas”, a maioria das vezes o coronel Hortêncio surpreendia o adversário acampado. Quando a guarda de ronda ou os “bombeiros” alertavam o acampamento, os “cardeais” já estavam em cima, levando a encontro de cavalo e golpes de arma branca quem estivesse pela frente.

No combate de Ponche Verde, a estratégia foi um pouco diferente. Ao comando de Honório Lemes, o Leão do Caverá, Hortêncio Rodrigues obrigou-se, com sua gente, a ocupar uma das alas das forças maragatas. Batista Luzardo comandava outra ala, próxima da sua.

Momentos antes do toque de “Avançar!”, o coronel Hortêncio escaramuçou o cavalo frente a seus gaúchos. As forças de Flores estavam a alcance de tiro e, com elas, os castelhanos de Nepomuceno Saraiva, famosos − mercenários que eram − pela fúria com que se atiravam ao combate e pelo saque que, após os sangrentos encontros, praticavam nos adversários abatidos. Desse levavam tudo, deixando-os praticamente nus.

Não os temia, entretanto, o coronel Hortêncio. De acima de seu zaino-estrela, fronteando seus homens, lascou a ordem de combate que a tradição oral carreou para este causo:

− Minha gente! Como já dizia Napoleão Bonaparte nas grimpas da Serra da Mantiqueira, allá jacta est! Ou, pra vocês que são mais burros, nem que entremo chão adentro! Kibibibibiu!

E foi aquela trovoada de cascos na coxilha...

*****


Nesse mesmo combate, onde a vantagem foi dos maragatos, um dos homens do coronel Hortêncio destacava-se pelos certeiros golpes de espada com que abatia um grupo de mercenários orientais − esses já em desvantagem numérica.

Um dos castelhanos, muito bem a cavalo, cerrou esporas na montada e veio de trás, com lança em riste. Seu alvo era o mulato que abria clarões a ferro-branco. O taura pressentiu o avanço velocíssimo do contrário. Abriu o cavalo no momento preciso, a lança passou-lhe de raspão e sua espada − uma navalha! − atorou rente ao pescoço a cabeça do castelhano.

Se minto é por boca alheia: tal foi a rapidez do golpe que a cabeça do chimango voou pelos ares. Já destacada do corpo, ainda berrou pela boca desdentada:

− Que golpe bárbaro, mi madre!!!

(Do livro “Rapa de Tacho 2 Causos Gauchescos,
De Apparício Silva Rillo)


Força de Honório Lemes – 1923

 Testamento de Honório Lemes

O meu par de boleadeiras,
Que boleou muito bagual,
Eu vou deixar, afinal,
Para bolear brasileiros
Que fugiram traiçoeiros
Do Partido Federal.
Do meu chapéu a divisa,
Deixo nesta ocasião
Para o museu da nação.
Deste país brasileiro
Para verem que um tropeiro
Também faz revolução.

Décima de autoria do próprio Honório Lemes mandada publicar no jornal A Plateia de Livramento por Rui Fernandes Barbosa/ que recebeu os originais de Cacílio Lima, morador de Batoví, distrito de São Gabriel, RS.


Honório Lemes da Silva, conhecido como “O Leão do Caverá” (Cachoeira do Sul, 23 de setembro de 1864Rosário do Sul, 30 de setembro de 1930) foi um tropeiro e proprietário de pequena estância brasileiro, pobre e quase analfabeto que, patriota, liberal convicto e admirador de Gaspar da Silveira Martins, ao rebentar a revolução federalista, em 1893 (29 anos), ingressou como simples soldado nas fileiras revolucionárias, chegando ao posto de coronel. Terminada a luta em 1895 (31 anos), voltou a se dedicar às lides campeiras.

Em 1923 (59 anos) voltou a pegar em armas, dessa vez para lutar contra a posse de Borges de Medeiros, que havia sido reeleito para o quinto mandato consecutivo no governo gaúcho. Em novembro do ano seguinte voltou a rebelar-se, dessa vez em apoio aos jovens oficiais militares que, liderados por Luís Carlos Prestes, sublevaram unidades do Exército no interior gaúcho contra o governo do presidente Artur Bernardes. Em 1925 (61 anos) foi preso e levado para Porto Alegre, porém, conseguiu fugir e exilou-se na Argentina. Apoiou a candidatura presidencial derrotada de Getúlio Vargas em 1930.

Exerceu a profissão de carvoeiro, e deixou sua família na extrema miséria após sua morte, poucos dias antes do início do movimento armado que levaria Vargas à presidência da República.


Carta aos heróis farroupilhas


O “herói de dois mundos” (o velho mundo - Europa, e o novo mundo - América), Garibaldi, expressou em uma carta endereçada a Domingos de Almeida, um pouco de suas lembranças e impressões acerca do Rio Grande do Sul. Orgulho de ser gaúcho e destes grandes homens, heróis farroupilhas.

Modena, 10 de setembro de 1859.

Meu prezado amigo Sr. Almeida,

Quando eu penso no Rio Grande, nessa bela e cara província, quando no acolhimento com que fui recebido no grêmio de suas famílias, onde fui considerado filho: quando me lembro das minhas primeiras campanhas entre vossos valorosos concidadãos e os sublimes exemplos de amor pátrio e abnegação que deles recebi, eu fico verdadeiramente comovido. E esse passado de minha vida se imprime em minha memória como alguma coisa de sobrenatural, de mágico, de verdadeiramente romântico.

Eu vi corpos de tropas mais numerosos, batalhas mais disputadas; mas nunca vi, em nenhuma parte, homens mais valentes, nem cavaleiros mais brilhantes que os da bela cavalaria rio-grandense, em cujas fileiras aprendi a desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das nações. Quantas vezes fui tentado a patentear ao mundo os feitos assombrosos que vi realizar por essa viril e destemida gente, que sustentou por mais de nove anos contra um poderoso império a mais encarniçada e gloriosa luta!

Não tenho escrito semelhante prodígio por falta de habilitações, porém a meus companheiros de armas por mais de uma vez tenho comemorado tanta bravura, nos combates, quanta generosidade na vitória, tanta hospitalidade, quanto afago aos estrangeiros, e a emoção que minha alma, então ainda jovem, sentia na presença e na majestade de vossas florestas, da formosura de vossas campinas, dos viris e cavalheirescos exercícios de vossa juventude corajosa; e, repassando pela memória as vicissitudes de minha vida entre vós, em seis anos de ativíssima guerra e da prática constante de ações magnânimas, como em delírio brando:

− Onde estão agora esses buliçosos filhos do Continente, tão majestosamente terríveis nos combates? Onde Bento Gonçalves, Neto, Canabarro, Teixeira e tantos valorosos que não lembro?
 
− Oh! Quantas vezes tenho desejado nestes campos italianos um só esquadrão de vossos centauros avezados a carregar uma massa de infantaria com o mesmo desembaraço como se fosse uma ponta de gado?

− Que o Rio Grande ateste com uma modesta lápide o sítio em que descansam seus ossos. E que vossas belíssimas patrícias cubram de flores esses santuários de vossas glórias, é o que ardentemente desejo.

− Eu muito me lembro, meu digno e caro amigo, da bondade generosa com que fui honrado por vós, no tempo em que tão dignamente ocupastes uma das pastas do ministério da república, e tenho verdadeira saudade, como gratidão dos benefícios recebidos de vós e de vossos companheiros e concidadãos na minha estada no Rio Grande. Por mim abraçai a todos esses amigos e mandai em toda a ocasião ao vosso verdadeiro amigo.

“José Garibaldi”
(Giussepe Garibaldi)



domingo, 29 de julho de 2018

Veja se é mentira?

Datas fictícias


→ Convertido em heterossexual um homem gay do Estado americano do Alabama depois de ter passado por uma experiência de quase morte. William Frohlich, de 34 anos, sofreu uma parada cardíaca enquanto fazia reparos no sistema elétrico de sua casa. Antes de ser ressuscitado pelo heroicos paramédicos, teve visões horríveis de demônios “nos portões do inferno”. Ao acordar, terminou o relacionamento de doze anos com o namorado, a fim de deixar seus “maus caminhos para trás”.

→ Iniciado o processo de privatização da água do Brasil. O Aquífero Guarani será vendido à Coca-Cola e à Nestlé, que poderão usar a riqueza natural em suas indústrias.

→ Denunciada uma professora que tentou passar batom à força em um garoto. Mesmo ele se esforçando para se esquivar, a educadora e suas colegas insistiram, segundo mostra um vídeo amplamente divulgado na internet como prova do fato.

→ Anunciada a forma mais eficaz de se proteger da dengue e da febre amarela. É tudo muito simples – e não se sabe por que as autoridades estão perdendo tempo vacinando a população. Basta tomar seis gotinhas de própolis por dias para que os mosquitos transmissores dessas doenças nem cheguem perto de uma pessoa.
  
→ Divulgado que o ex-presidente americano Barak Obama está pleiteando o cargo de secretário-geral da Organização das Nações Unidas.

→ Repudiada nas redes sociais a declaração de Mark Zuckerberg segundo a qual “os brasileiros estragaram o Facebook”. “Qualquer serviço na internet que tenha usuários brasileiros, em grandes proporções, vira um problema”, concluiu. O fundador da rede social disse que vau vetar gifs animados e coloridos na linha do tempo dos usuários, para que os internautas do país “não transforme o Facebook em um novo Orkut”.

*****

As notícias falsas acima foram publicadas pelos seguinte sites:

World News Dally Rerport (conversão gay);
Nocaute (privatização da água);
Rio Conservador (professora);
Joinville Urgente (própolis):
Your News Wire (Obama);
Alagoas 24 Horas (Zuckerberg)
  
(Revista Veja, março de 2018)

Bolicho sonoro



Bolicho por Berega

(...) Antoninho Fernandes, lá pelos anos 50, era dono de um bolicho no Passo Novo, a meio caminho de São Luiz Gonzaga a São Borja, a meia légua do rio Icamacuã. Eventualmente, e nos meses invernosos de modo especial, Antoninho hospedava viajantes em sua casa.

Propositadamente, e sempre que havia clientela no bolicho, o bolicheiro − estudante de conservatório em Porto Alegre, no seu tempo de aluno do colégio Anchieta −, encaminhava o assunto para o lado da música. Gaitas, violões e violinos desfilavam na conversa. Antoninho tocava − e bem − qualquer desses instrumentos.

Aconteceu mais de uma vez: o viajante, incauto, preso naqueles fundos pela chuva, saudoso de casa, reminiscente à luz dos lampiões de querosene, insinuava:

− Ah, nem me fale em música. Se houvesse uma gaita por aqui...

Antoninho não perdia a vasa:

− Gaita? Não me diga que o senhor toca gaita?

− Bem, não sou um mestre, mas me defendo lindo.

O bolicheiro fazia um sinal com a mão, como diz: espere. Ia à sala contígua e voltava com um acordeão. O viajante, que não tocava coisa nenhuma (salvo alguma raríssima exceção), ficava cheio de dedos:

− Quer dizer, eu toquei quando guri. Pra lhe ser franco e branco, hoje toco muito pouco. Melhor dito, não toco mais nada.

Antoninho guardava a gaita. Mas o viajante não se conformava com a perdida:

− Agora tem uma, seu Antônio: violão é comigo mesmo. O senhor sabe, é um instrumento mais leve, nem sei como fui esquecer do meu nesta viagem.

− Violão? Pois o senhor toca violão?

Ia lá dentro e trazia um violão. Ele mesmo o afinava em dois tempos e o oferecia ao papudo. Este, já sentindo a estrepada, tomava o instrumento, arranjava uma desculpa para não tocar:

− Violão é como mulher, seu Antônio. Eu só toco no meu, o senhor não leve a mal, mas mania é mania.

Para arrematar chegava ao lance final:

− Na verdade o que eu toco mesmo é violino. Só peças clássicas. (Impossível que aquele bolicheiro grosso tivesse violino em casa.)

Tinha. E lá vinha seu Antoninho com seu violino

− Esteja a gosto. Eu também sou encambichado por violino.

Era aí que o viajante se desesperava, enquanto a gauchada presente − que já conhecia a história −, se mijava de rir.

− Seu Antoninho, o que eu toco mesmo é rádio, e assim mesmo mal e mal. Quando é que eu ia adivinhar que o senhor tivesse gaita, violão e violino em casa, aqui neste fundão de mundo? Só falta que o senhor tenha um piano de cauda ali na sala.

E o Antoninho, rindo por dentro, mas com a cara mais séria do que guri mijado:

− Não, piano eu não tenho. Por que, o senhor toca piano?

− Seu Antoninho, pelo amor de Deus, eu já lhe confessei que não toco bosta nenhuma! − E encalistrado: − Me consiga uma vela que eu já vou dormir.

O bolicheiro lhe alcançava a vela. Daquelas antigas, feitas em formas de taquara.

******

(Do livro “Rapa de Tacho Causos gauchescos”,
Apparicio Silva Rillo)


Apparício Silva Rillo foi um poeta, folclorista e escritor brasileiro. Apesar de nascido em Porto Alegre, fixou residência em São Borja. Publicou artigos e ensaios na imprensa, livros de contos e de poesia e peças de teatro.

Nascimento: 8 de agosto de 1931, Porto Alegre, Rio Grande do Sul; falecimento: 23 de junho de 1995, São Borja, Rio Grande do Sul;

Livros: Rapa de tacho: causos gauchescos I e II, Clássicos do regionalismo gaúcho

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Alegrias do magistério!



Primeiro dia de aula é braço de ferro. Ou você conquista a classe, dobra os provocadores e convence a turma de que vale a pena assistir ao seu curso... ou é melhor voltar para casa por um ano. Os dez ou quinze minutos iniciais são decisivos. Você tem de jogar tudo: charme, humor e informação. Uma noite...

- Professor!

No meio da introdução, o gaiato lá do fundão me interrompeu.

- Eu vou embora. Já vi que o senhor não tem nada para me ensinar.

Menino bem-vestido, fantasiado de contato, o pentelho levava toda a pinta de quem já estava na profissão. Dar um esporro, chutar o herói porta afora... nada disso resolveria a provocação. A classe, muda, esperava a minha reação. Fiz a melhor cara de uai do meu repertório, deixei o giz no quadro-negro, limpei as mãos e, sem olhar para o sabichão, fui me sentar na carteira vaga mais próxima. Gelo geral. Um minuto, dois... eu nem aí. O bzzzzzz começou. Quando a zoeira estava bem forte, eu levantei o braço. Novo silêncio pesado.

- Estou esperando a aula, mestre! Adoro voltar a ser aluno quando aparece alguém que sabe mais do que eu. Vai lá! A classe é sua...

A bola não estava mais comigo. Todo mundo ficou de olho no carinha. Quando senti que ele estava a nocaute, voltei para a frente e toquei a aula. No final, ele veio se desculpar. Tomou a lição, mas não se emendou. O moleque era mesmo muito metido. Fez carreira de aspone (assessor de porra nenhuma), meteu-se a jornalista, entrevistou poderosos, ganhou alguma notoriedade e acabou sendo, por algum tempo, presidente de uma estatal! O que prova apenas que políticos, de um modo geral, são muito mal-informados e têm estômago de aço.

Hienas e governantes têm hábitos alimentares semelhantes.

(Carlos Queiroz Telles, no livro “Tirando de Letra”)

Obs: O escritor e publicitário Carlos Queiroz Telles foi professor de redação publicitária na Faculdade de Comunicação da FAAP.

IDENTIDADE

Cabelos molhados,
sol encharcado,
pele salgada,
vento nos olhos,
areia nos pés.

O corpo sem peso
é nuvem à-toa.
O tempo inexiste.
a vida é uma boa!

Mergulho na água
azul deste céu.
Sou peixe de ar.
Sou ave de mar.

Mergulho em mim mesmo,
silêncio profundo.
Sou eu e sou Deus
de passagem no mundo,
nadando sem rumo
entre conchas e paz.

(Carlos Queiroz Telles; “Sonhos, grilos e paixões”.
São Paulo: Moderna, 1990. p. 38.)

Poeta e dramaturgo, nasceu em São Paulo, em 1936. Na Faculdade de Direito da USP, onde se formou, participou da fundação do Grupo de Teatro Oficina. Trabalhou em publicidade, dedicou-se ao magistério e à criação de programas para televisão. Tem mais de 50 obras editadas e mais de duas dezenas de peças teatrais encenadas no Brasil. No exterior, seus textos "Muro de Arrimo" e "Marly Emboaba" já foram encenados em mais de 20 países. Pelos seus trabalhos, recebeu inúmeros prêmios. Faleceu em 1993.

Onde foi parar o tempo que ganhamos?

Marcelo Canellas


Havia mais terrenos baldios. E menos canais de televisão.
E mais cachorros vadios. E menos carros na rua.
Havia carroças na rua. E carroceiros fazendo o pregão dos legumes.
E mascates batendo de porta em porta.
E mendigos pedindo pão velho.
Por que os mendigos não pedem mais pão velho?

O Velho do Saco assustava as crianças. O saco era de estopa.
Não havia sacos plásticos,
levávamos sacolas de palha para o supermercado.
E cascos vazios para trocar por garrafas cheias.
Refrigerante era caro. Só tomávamos no fim de semana.
As latas de cerveja eram de lata mesmo, não eram de alumínio.
Leite vinha num saco.
Ou então o leiteiro entregava em casa, em garrafas de vidro.
Cozinhava-se com banha de porco.
Toda dona-de-casa tinha uma lata de banha debaixo da pia.

O barbeador era de metal, e a lâmina era trocada de vez em quando. 
Mas só a lâmina.
As camas tinham suporte para mosquiteiro.
As casas tinham quintais.
Os quintais tinham sempre uma laranjeira,
ou uma pereira, ou um pessegueiro.
Comíamos fruta no pé.
Minha vó tinha fogão a lenha.
E compotas caseiras abarrotando a despensa.
E chimia de abóbora, e uvada, e pão de casa.

Meu pai tinha um amigo que fumava palheiro.
Era comum fumar palheiro na cidade;
tinha-se mais tempo para picar fumo.
Fumo vinha em rolo e cheirava bem.
O café passava pelo coador de pano.
As ruas cheiravam a café. Chaleira apitava.
O que há com as chaleiras de hoje que não apitam?

As lojas de discos vendiam long plays e fitas K7.
Supimpa era ter um três-em-um:
toca-discos, toca-fitas e rádio AM (não havia FM).
Dizia-se 'supimpa', que significa 'bacana'.
Pois é, dizia-se 'bacana', saca?
Os telefones tinham disco. Discava-se para alguém.
Depois, punha-se o aparelho no gancho.
Telefone tinha gancho. E fio.

Se o seu filho estivesse no quarto dele e você no seu escritório,
você dava um berro pra chamar o guri, em vez de mandar um e-mail ou um recado pelo MSN.
Estou falando de outro milênio, é verdade.

Mas o século passado foi ontem!
Isso tudo acontecia há apenas 20 ou 25 anos, não mais do que o espaço de uma geração.
A vida ficou muito melhor.
Tudo era mais demorado, mais difícil, mais trabalhoso.
Então por que engolimos o almoço?
Então por que estamos sempre atrasados?
Então por que ninguém mais bota cadeiras na calçada?

Alguém pode me explicar onde foi parar o tempo que ganhamos?

Aforismo

Poucas palavras, muitas ideias.


Aforismo é a frase síntese perfeita, capaz de condensar em poucas palavras um pensamento ou ideia que de outro modo precisaria de um livro para ser expresso.

Um aforismo se poderia definir um aforismo. Um aforismo será sempre o melhor modo de dizer o que é um aforismo. O filósofo alemão Friedrich von Schlegel, um dos grandes teóricos do romantismo, definiu-o como “a maior quantidade de pensamento no menor espaço”. O americano Mark Twain chegou a uma fórmula parecida: “um mínimo de som para um máximo de sentido”.

As cinco características de um bom aforismo, segundo o jornalista americano James Geary, autor de O Mundo em Uma Frase.

Brevidade

Sabedoria concentrada, o aforismo deve depurar livros inteiros em poucas palavras, como na máxima moral do francês La Rochefoucauld: “A hipocrisia é homenagem que o vício presta à virtude”.

Definição

O aforismo define seus termos com clareza e de uma só vez, sem concessões. Um bom exemplo é a frase famosa do inglês Samuel Johnson: “O patriotismo é o último refúgio do canalha”.

Surpresa

Há sempre uma guinada de sentido que torna a frase mais incisiva. Há até mesmo aforismos que desmontam aforismos anteriores, como o do americano Ambrose Bierce (em referência à frase citada acima): “O patriotismo é o primeiro refúgio do canalha”.

Idiossincrasia
         
O aforismo representa uma visão de mundo muito pessoal. Só o alemão Friedrich Nietzsche poderia ter escrito a seguinte pérola de incorreção política: “Um povo é o rodeio que faz a natureza para chegar a seis ou sete grandes homens”.
  
Profundidade filosófica

Praticada por profetas, líderes religiosos, filósofos, poetas, o aforismo é um veículo da sabedoria. À vezes, uma sabedoria cética e irônica, como a do francês Michel Monataigne: “Quero que a morte me encontre plantando os meus repolhos”.

Portanto, na definição mais inspirada do grande aforista austríaco Karl Kraus: “O aforismo jamais coincide com a verdade; ou é meia verdade ou verdade e meia”.

Aforismos Célebres

“O coração tem razões que a própria razão desconhece.”
(Blaise Pascal)

“Os velhos gostam de dar bons conselhos;
isso consola-os de já não ser capazes dar um mau exemplo.”
(La Rochefoucauld)

“Antes cair das nuvens que de um 3° andar.”
(Machado de Assis, no livro Memórias Póstumas de Brás Cubas


Animais Felizes



“Enquanto não amarmos um animal, uma parte de nossa alma permanecerá adormecida.”

Anatole France

A compaixão universal é a única garantia de moralidade.”

Schopenhauer

“Os animais dividem conosco o privilégio de ter uma alma.

Pitágoras

O destino dos animais tem muito maior importância para mim do que o medo de parecer ridículo: está indissoluvelmente ligado ao destino do homem.

Émile Zola

A vida é valor absoluto. Não existe vida menor ou maior, inferior ou superior. Engana-se quem mata ou subjuga um animal por julgá-lo um ser inferior. Diante da consciência que abriga a essência da vida, o crime é o mesmo.

Olympia Salete

Eu tenho sentido que a forma pela qual nós tratamos os animais é um bom indicador da falta de compaixão que somos capazes de sentir pela raça humana.

Ali McGraw

Se quisermos nos libertar do sofrimento, não devemos viver do sofrimento e do assassínio infligidos a outros animais.

Paul Carton

“Os animais que você come não são aqueles que devoram outros, você não come as bestas carnívoras, você as toma como padrão. Você só sente fome pelas criaturas doces e gentis que não ferem ninguém, que o seguem, o servem, e que são devoradas por você como recompensa de seus serviços.

Jean-Jacques Rousseau

Isto é terrível! Não apenas o sofrimento e a morte dos animais, mas o fato de o homem reprimir em si mesmo, desnecessariamente, a mais elevada capacidade espiritual - a de simpatia e piedade para com as criaturas-vivas como ele próprio - e ao violentar os seus próprios sentimentos, se torna cruel.

George B. Shaw

Todos os seres vivos tremem diante da violência. Todos temem a morte, todos amam a vida. Projete você mesmo em todas as criaturas. Então, a quem você poderá ferir? Que mal você poderá fazer?

Gautama Buda

Ninguém pode se queixar da falta de um amigo podendo ter um cão.

Marquês de Maricá

Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas suas faculdades mentais. Os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento.

Charles Darwin


quinta-feira, 26 de julho de 2018

Liberdade*


Paul Éluard


Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome

Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome

Nas imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome

Nas jungles e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No céu da minha infância
Escrevo teu nome

Nas maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome

Nos meus farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome

Nas campinas do horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome

Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome

Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome

Nas formas resplandecentes
Nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome

Nas veredas acordadas
E nos caminhos abertos
Nas praças que regurgitam
Escrevo teu nome

Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome

No fruto partido em dois
de meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome

Em meu cão guloso e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome

No trampolim desta porta
Nos objetos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome

Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome

Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome

Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome

Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome

Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar Liberdade

Tradução de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira

*Este poema, o mais belo de quantos exaltam a liberdade, foi escrito por Paul Éluard durante as trevas da ocupação da França pelas tropas da Alemanha nazista. Os poemas libertários de Élouard, escritos de 1940 a 1945, foram traduzidos em várias línguas e lançados pelos aviões da RAF sobre a Europa ocupada.  Circularam pelos becos das cidades martirizadas e estimularam as lutas de resistência. Lidos ou ouvidos através das rádios clandestinas. Os originais do poema saíram da França às escondidas, no forro de um sobretudo do pintor brasileiro Cícero Dias, que o divulgou para o mundo livre.


Paul Éluard, pseudônimo de Eugène Emile Paul Grindel (Saint-Denis, 14 de dezembro de 1895Charenton-le-Pont, 18 de novembro de 1952), foi um poeta francês, autor de poemas contra o nazismo que circularam clandestinamente durante a Segunda Guerra Mundial.

Participou no movimento dadaísta, foi um dos pilares do surrealismo, abrindo caminho para uma ação artística mais engajada, até filiar-se ao partido comunista francês. Tornou-se mundialmente conhecido como “O Poeta da Liberdade”.

É o mais lírico e considerado o mais bem dotado dos poetas surrealistas franceses.

Ataque do coração



Digamos (apenas por hipótese) que são 18h15min e estás de regresso a casa, depois de um dia de trabalho especialmente difícil. Estás realmente cansado e frustrado.

Estás bastante tenso e mal disposto…

Repentinamente, experimentas uma forte dor no peito, que se difunde até o teu braço e, até mais acima, à mandíbula. Estás a 8 km do hospital mais próximo de casa. Desafortunadamente, não sabes se conseguirás fazer essa distância e chegar lá.

Que devo fazer?

Mesmo que tenhas sido treinado em RCP (Ressuscitação Cardio Pulmonar), provavelmente o instrutor do curso não te disse como aplicá-la a ti mesmo! Como poderás sobreviver a um ataque do coração, quando te encontrares só? Muitas pessoas encontram-se sozinhas, quando sofrem um ataque de coração. Sem ajuda, uma pessoa na qual o coração bata incorretamente e que comece a sentir-se desmaiar, só tem 10 segundos, antes de perder a consciência.

Que fazer?

As inspirações profundas levam oxigênio aos pulmões e os movimentos de contração da tosse comprimem o coração e mantêm o sangue a circular. A pressão sobre o coração também ajuda a recuperar o ritmo cardíaco normal. Desta maneira, as vítimas de um ataque de coração podem chegar ao hospital e sobreviver.
  
Article published on nº 240 of Journal of General Hospital Rochester

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Vamos deixar disso?



Não tentes me provocar, a tua raiva não me aborrece, só me preocupa, porque a raiva vai adoecer-te não a mim...

Eu já tenho as minhas utopias e estou um pouco velho para mudá-las...

Entendo a tuas ideias, não concordo com elas, mas defendo o teu direito de tê-las, só não venha compartilhá-las comigo.

O que te dá direito de pensar que és melhor do que eu? E o que me dá o direito de pensar que eu seja melhor do que tu?

Não me envies mentiras, já li muito e sei que a mentira é como carvão, onde passa deixa sempre um rastro de sujeira.

Procura me conhecer, fala comigo, sentemos numa mesa e bebamos um vinho. Conversemos olho no olho...

Eu tenho uma pequena história de vida. Sofri muito e isso forjou o meu caráter.

Dormes tranquilo? Quando colocas a cabeça no travesseiro adormeces sem remorsos?

Tens certeza de que tudo que fizeste na vida foi correto?

O que me surpreende é a tua religiosidade. Será que o teu Deus é tão imbecil para acreditar que frequentas o seu templo com tanta devoção e espalhas tantas mentiras?

Temos algo em comum: amamos o mesmo país; acreditamos no mesmo Deus; achamos que a família é o suporte de nossas vidas. Temos muito em comum. O que pode nos separar?

Não procures me ofender, eu cresci o bastante para não ter mais dúvida sobre mim mesmo.

Não me chames pra briga, que eu não vou atender.

O meu tempo é precioso e nele não cabem desavenças.

Se tu não gostas de mim e quer brigar, eu entendo, mas não contes comigo.

Eu estou ocupado sendo feliz.

Se tu gostas de mim e quer brigar, eu não entendo isso, mas aceito...

Só presta atenção pra não me magoar. Isso, sim, me entristece.

Vamos deixar disso, então.

Já briguei muito, já magoei, já ofendi...

Mas não fiquei nem um pouquinho melhor com isso.

Venho me curando da vontade de brigar, desde que aprendi a calar.

Então, se tu gritares, só vais escutar o meu silêncio.

Se seguires ofendendo, eu me retiro.

Se insistires na raiva, que pena...

Só tu vais sofrer.

Ok, podes dar a última palavra, ganha a disputa!

Eu não me importo de ceder a vez.

Eu escolho viver em paz.

Vamos deixar disso, então?
  
(Autor desconhecido)