Fernando Albrecht*
A flor de zíaco
“...escolhida porque
anunciava um show erótico com uma argentina.”
Então você nunca ouviu falar nesta
flor? Nem do zíaco? E os dois juntos, “aflordizíaco”, lembra alguma coisa?
Começa a fazer sentido e em seguida surge “afrodisíaco”. Pois é o texto de uma
placa em estado do Nordeste apregoando as virtudes do suco de guaraná do
Amazonas. O Brasil, e não raro o mundo, está cheio de placas ou anúncios com
erros hilários. Na Porto Alegre de décadas passadas, era raro ler nas laterais
dos caminhões ou carroças de “Faz-se carreto” escrito de forma correta.
Houve época em que eu colecionava
estes erros. Anotei pelo menos uma dúzia de versões que iam desde “Fa-se
carreto” a “Faz-ço carreto” passando pelo “s” com a primeira curva da letra à
direita, invertido até um inacreditável “Fazo careto”, este em um caminhãozinho
da Praça Garibaldi. Mas não só o pouco letrado erra. Nos restaurantes, você
encontra várias formas de “Peixe à Belle Meunière”.
Às vezes, a grafia é até correta,
mas o conjunto da obra é de lascar. Em meados dos anos 70 eu e o fotógrafo
Maurecy Santos, o Santinho, fomos cobrir um evento em Rosário do Sul ou São
Gabriel, não lembro bem. Findo o trabalho, noite alta, quase madrugada, bateu a
fome. Tudo fechado. A saída foi a zona do meretrício, ou simplesmente a Zona,
que toda a cidade tinha (e ainda tem).
Cabaré, que era como chamávamos as
boates, sempre tem boia. Santinho e eu então procuramos entre as quatro ou
cinco casas qual tinha o melhor aspecto. Achamos uma que servia o clássico
bife, batatinhas, arroz e ovo. Mas a escolha não foi pela comida, e sim porque
anunciava um show erótico com uma dançarina argentina, a Conchita de Los Rios.
A foto no cartaz da entrada do cabaré mostrava uma coroa rechonchuda, tão
erótica quanto um pneu de caminhão. A chamada para o espetáculo era uma
maravilha.
‒ Assista
hoje o show erótico de Conchita de Los Rios!
E logo
abaixo:
‒
Completamente seminua!
A propósito: o “àla-minuta da casa”,
como se lia na entrada, estava muito bom. Nem sempre se come bem na Zona.
*Fernando Albrecht é jornalista
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