segunda-feira, 23 de julho de 2018

A vida como ela foi

Fernando Albrecht*

A flor de zíaco

“...escolhida porque anunciava um show erótico com uma argentina.”


Então você nunca ouviu falar nesta flor? Nem do zíaco? E os dois juntos, “aflordizíaco”, lembra alguma coisa? Começa a fazer sentido e em seguida surge “afrodisíaco”. Pois é o texto de uma placa em estado do Nordeste apregoando as virtudes do suco de guaraná do Amazonas. O Brasil, e não raro o mundo, está cheio de placas ou anúncios com erros hilários. Na Porto Alegre de décadas passadas, era raro ler nas laterais dos caminhões ou carroças de “Faz-se carreto” escrito de forma correta.

Houve época em que eu colecionava estes erros. Anotei pelo menos uma dúzia de versões que iam desde “Fa-se carreto” a “Faz-ço carreto” passando pelo “s” com a primeira curva da letra à direita, invertido até um inacreditável “Fazo careto”, este em um caminhãozinho da Praça Garibaldi. Mas não só o pouco letrado erra. Nos restaurantes, você encontra várias formas de “Peixe à Belle Meunière”.

Às vezes, a grafia é até correta, mas o conjunto da obra é de lascar. Em meados dos anos 70 eu e o fotógrafo Maurecy Santos, o Santinho, fomos cobrir um evento em Rosário do Sul ou São Gabriel, não lembro bem. Findo o trabalho, noite alta, quase madrugada, bateu a fome. Tudo fechado. A saída foi a zona do meretrício, ou simplesmente a Zona, que toda a cidade tinha (e ainda tem).

Cabaré, que era como chamávamos as boates, sempre tem boia. Santinho e eu então procuramos entre as quatro ou cinco casas qual tinha o melhor aspecto. Achamos uma que servia o clássico bife, batatinhas, arroz e ovo. Mas a escolha não foi pela comida, e sim porque anunciava um show erótico com uma dançarina argentina, a Conchita de Los Rios. A foto no cartaz da entrada do cabaré mostrava uma coroa rechonchuda, tão erótica quanto um pneu de caminhão. A chamada para o espetáculo era uma maravilha.

‒ Assista hoje o show erótico de Conchita de Los Rios!
E logo abaixo:
‒ Completamente seminua!

A propósito: o “àla-minuta da casa”, como se lia na entrada, estava muito bom. Nem sempre se come bem na Zona.


*Fernando Albrecht é jornalista


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