quarta-feira, 11 de julho de 2018

Rosas em Poemas



Febre
(Henrique Castriciano de Sousa)

Por toda a parte rosas brancas vejo...
Rosas na fímbria loira dos Altares,
coroadas de amor e de desejo...
Rosas no céu e rosas nos pomares.

Uma roseira o mês de Maio. Aos pares
surgem, da brisa ao tremulante arpejo,
estrelas que recordam, sobre os mares,
rosas envoltas num cerúleo beijo.

E quando Rosa, em cujo nome chora
esta febre cruel que me devora,
de si me fala, em gargalhadas francas,

muda-se em rosa a flor de meus martírios,
o som de sua voz, a luz dos círios...
O próprio Azul desfaz-se em rosas brancas.

A Rosa Azul
(Marcus Sandoval)

Era uma rosa azul, rara e formosa,
esplêndido lavor da Natureza,
que um dia apareceu, misteriosa,
num vermelho jarrão da arqui-duquesa.

Deparando o arqui-duque a flor graciosa,
sorriu a um pensamento. . . e, com leveza.
à tardinha, depois, a linda rosa,
perfumava o aposento da marquesa.

E quando a lua - a protetora eterna -
redoirava o palácio dessa história,
tremia, em mãos reais, a bela flor

que logo de manhã, numa taverna,
fenecia, a sorrir, cheia de glória,
na bandurra gentil de um trovador.

Rosa Branca
(Antônio Feijó - poeta português)

Sonho ou quimera, na ilusão divina
que ao mundo alado o coração transporta,
aquela rosa pálida e franzina,
branca, tão branca, parecia morta.

Planta que o frio da existência inclina,
pomba que foge a seu país. Que importa?
Sonho ou quimera, na ilusão divina,
branca, tão branca, parecia morta.

Mesmo acordado ou vendo-a com tristeza
nas molduras do sonho e da incerteza
que a fantasia em pleno azul recorta,

sempre na imensa dor que me fulmina,
aquela rosa pálida e franzina,
branca, tão branca, parecia morta.

Rosa Seca
(Benedito Cirilo)

Vês esta rosa, velha, ressequida,
que me ofertaste quando nos amamos.
Guardei-a com carinho, pois na vida
faz recordar o amor que permutamos.

uma lembrança pálida e sentida
da vez primeira em que nós nos beijamos,
daquela estrada branca e tão florida
que tantas vezes juntos palmilhamos...

Guardei-a com carinho. Sim, que importa?
seca, é velha, é descorada e morta,
mas, é uma rosa e sempre será flor..

Assim o amor que no meu peito existe,
hei de guardá-lo; é desprezado e triste,
mas nunca deixará de ser amor.

Diálogo de duas Rosas
(Francisco de Matos)

A um moço poeta, cabeleira ao vento,
a rosa branca, esplêndida, dizia:
− “Sou tão pura, que sirvo de ornamento
à grinalda da noiva... E que alegria!"

Dizia a rosa rubra, num lamento:
− “Nobre, vou enfeitar a lousa fria
da moça virgem no sepultamento
muito mais triste que o morrer do dia".

E o moço poeta, lívido, revolto,
não disse a mais feliz, alma emotiva
de pequenino passarinho solto...

Do próprio coração batendo à porta:
− Se a rosa branca para a virgem viva.
− Se a rosa rubra para a virgem morta.

Rosas
(Alphonsus de Guimaraens)

Rosas que já vos fostes, desfolhadas
por mãos, também que já se foram; rosas
suaves e tristes! Rosas que as amadas,
mortas também, beijaram suspirosas...

Umas rubras e vás, outras fanadas,
mas cheias do calor das amorosas...
Sois aromas de alfombras silenciosas,
onde dormiram tranças destrançadas.

Umas brancas, da cor das pobres freiras,
outras cheias de viço e de frescura.
 Rosas primeiras, rosas derradeiras!..

Ai! Quem melhor que vós, se a dor perdura,
para coroar-me, rosas passageiras,
o sonho que se esvai na desventura?

Rosas
(Maranhão Sobrinho)

Rosas no céu, Rosas nas cercas, Rosas
nos teus ombros, e Rosas no teu rosto;
Rosas em tudo; e há chagas veludosas
de Rosas cor-de-rosa no sol-posto.

Florescem Rosas de ais, maravilhosas,
nas róseas fontes. Rosas no recosto
dos róseos montes se debruçam. Rosas
em Abril, Maio, Junho, Julho e Agosto!

Se há noivados, há Rosas nas redomas
dos altares; e há Rosas invisíveis
difundindo, no azul, róseos aromas!

Se morre um anjo, as brancas nebulosas
leva entre as mãos de rosas marcescíveis
Rosas fechadas num caixão de Rosas!

A Morte das Rosas
(Padre Antônio Tomás)

Nos canteiros orlados de verdura,
de mil gotas de orvalho umedecidas,
cheias de viço e de perfume ungidas,
desabrocham as rosas à ventura.

Mas a vida das rosas pouco dura,
e as míseras, em breve, enlanguecidas,
a fronte curvam, nos hastis pendidas,
sob os raios do sol que além fulgura.

E vão largando as pétalas mimosas,
ao sopro mau dos vendavais infestos.
E os despojos finais das tristes rosas

de cor vermelha, pelo chão tombados,
fazem lembrar sanguinolentos restos
de pobres corações despedaçados.

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