Os tigres do Rio
→ Lei de 1853 concedeu a John
Frederick Russel, súdito britânico e major de nossa Guarda Nacional, o privilégio
exclusivo de, por 90 anos, “construir e estender todas as obras necessárias
para o estabelecimento de um sistema completo de despejos e esgotos das
habitações, semelhante ao adotado na Inglaterra”. De fato, à época, o serviço
de esgoto só existia em Londres e Hamburgo, além de pequena área em Nova York.
→ O concessionário gozava de
isenção de impostos de importação do material necessário, e direito de
exportar, sem impostos, todo o estrume que resultasse do tratamento em suas
máquinas. Entretanto, as obras só se iniciariam em fevereiro de 1862 quando a concessão
foi transferida para a The Rio de Janeiro City Improvements Co., Ltda., que
ficou conhecida como a CITY.
→ Até então, os dejetos eram
guardados nas residências, em
barris. A remoção dos barris cheios se fazia, normalmente à
noite, quando escravos, carregando os barris à cabeça, cruzavam a cidade até
terrenos baldios ou o mar, onde a imundície era despejada.
→ Um comerciante inglês que viveu
no Rio entre 1808 e 1818 relata que, em muitos casos, esses barris eram
esvaziados diariamente, em outros, apenas uma vez por semana, dependendo do
número de escravos disponíveis (e, necessariamente, da quantidade de usuários
do mesmo barril). Se ocorresse desabar uma chuvarada, a carga era despejada em
plena rua, deixando-se, à enxurrada, a tarefa de levá-la ao mar.
→ O conjunto escravo-barril era
apelidado de tigre, em razão do aspecto dos carregadores. Transbordamentos iam
deixando rastros no corpo do homem que, assim, ficava com listras sinuosas.
→ Conta Manoel de Macedo (o autor de A Moreninha) que um
viajante francês, demorando-se por alguns dias no Rio, ouviu, de patrícios,
queixas dos incômodos tigres que, frequentemente, corriam pelas ruas à noite.
Algum tempo depois, veio a publicar um livro de viagens em que relatava: “Na
cidade do Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, feras terríveis, os
tigres, vagam, durante a noite, pelas ruas...”
→ Segundo Brasil Gerson, em sua História das Ruas
do Rio de Janeiro, o local onde residiu Mr. Russel deu nome à região onde, mais
tarde, foi construído o Hotel Glória.
→ A foto abaixo mostra, em 1903, a chaminé de uma
Estação de Tratamento da City, e a ponte de atracação das chatas que eram
rebocadas conduzindo para fora da barra os resíduos do tratamento das fezes da
cidade. O local, hoje, é ocupado pelo SEAERJ (Sociedade dos Engenheiros e
Arquitetos do Rio de Janeiro)
(Do Blog Curiosidade
Cariocas, de Carlos H)
Os dejetos sendo
despejados no mar.
Texto: Os tigreiros viravam alvo
das autoridades, que queriam abolir o inconveniente transporte de excrementos
pelas ruas. Litografia de Fleuiss, Semana Ilustrada, 1861.
Nenhum comentário:
Postar um comentário