O “herói de dois mundos” (o velho
mundo - Europa, e o novo mundo - América), Garibaldi, expressou em uma carta
endereçada a Domingos de Almeida, um pouco de suas lembranças e impressões
acerca do Rio Grande do Sul. Orgulho de ser gaúcho e destes grandes homens,
heróis farroupilhas.
Modena, 10 de setembro
de 1859.
Meu prezado amigo Sr. Almeida,
Meu prezado amigo Sr. Almeida,
Quando eu penso no Rio Grande, nessa bela e cara província, quando no acolhimento com que fui recebido no grêmio de suas famílias, onde fui considerado filho: quando me lembro das minhas primeiras campanhas entre vossos valorosos concidadãos e os sublimes exemplos de amor pátrio e abnegação que deles recebi, eu fico verdadeiramente comovido. E esse passado de minha vida se imprime em minha memória como alguma coisa de sobrenatural, de mágico, de verdadeiramente romântico.
Eu vi corpos de tropas mais numerosos, batalhas mais disputadas; mas
nunca vi, em nenhuma parte, homens mais valentes, nem cavaleiros mais
brilhantes que os da bela cavalaria rio-grandense, em cujas fileiras aprendi a
desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das nações. Quantas
vezes fui tentado a patentear ao mundo os feitos assombrosos que vi realizar
por essa viril e destemida gente, que sustentou por mais de nove anos contra um
poderoso império a mais encarniçada e gloriosa luta!
Não tenho escrito semelhante prodígio por falta de habilitações, porém a meus companheiros de armas por mais de uma vez tenho comemorado tanta bravura, nos combates, quanta generosidade na vitória, tanta hospitalidade, quanto afago aos estrangeiros, e a emoção que minha alma, então ainda jovem, sentia na presença e na majestade de vossas florestas, da formosura de vossas campinas, dos viris e cavalheirescos exercícios de vossa juventude corajosa; e, repassando pela memória as vicissitudes de minha vida entre vós, em seis anos de ativíssima guerra e da prática constante de ações magnânimas, como em delírio brando:
− Onde estão agora esses buliçosos filhos do Continente, tão majestosamente
terríveis nos combates? Onde Bento Gonçalves, Neto, Canabarro, Teixeira e tantos
valorosos que não lembro?
− Oh! Quantas vezes tenho desejado nestes campos italianos um só esquadrão de vossos centauros avezados a carregar uma massa de infantaria com o mesmo desembaraço como se fosse uma ponta de gado?
− Que o Rio Grande ateste com uma modesta lápide o sítio em que
descansam seus ossos. E que vossas belíssimas patrícias cubram de flores esses
santuários de vossas glórias, é o que ardentemente desejo.
− Eu muito me lembro, meu digno e caro amigo, da bondade generosa com que fui honrado por vós, no tempo em que tão dignamente ocupastes uma das pastas do ministério da república, e tenho verdadeira saudade, como gratidão dos benefícios recebidos de vós e de vossos companheiros e concidadãos na minha estada no Rio Grande. Por mim abraçai a todos esses amigos e mandai em toda a ocasião ao vosso verdadeiro amigo.
“José Garibaldi”
(Giussepe Garibaldi)
(Giussepe Garibaldi)
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