Pinheiro Machado
Pinheiro Machado mandava no país. Mandava tanto que era considerado o
“Condestável da República”. Dele também diziam ser o “fazedor de presidentes”.
Com tamanho poder, não lhe era difícil angariar adeptos, promover acordos
políticos, estender seu prestígio a todos os Estados.
Amado por muitos, também era odiado por outros tantos que o culpavam
pelos males do país.
Tinha, por isso, medo de ser
assassinado. Em julho de 1915, ele disse:
“– É possível que durante a
convulsão que nessa hora sacode a República em seus fundamentos, possamos
submergir. (...) É possível mesmo que o braço assassino, impelido pela
eloquência delirante das ruas, nos possa atingir”.
Era mesmo um tempo de convulsões e indisciplina, inclusive nos quartéis.
Foram expulsos 256 sargentos, naquele ano.
A biografia do gaúcho José Gomes Pinheiro Machado é reveladora. Nasceu em Cruz Alta , em maio de
1851 e, aos 14 anos, fugiu da Escola Militar, para alistar-se e seguir rumo à
Guerra do Paraguai, tendo participado de vários combates. Em 1879, concluído o
curso de Direito na Faculdade de São Paulo, estabeleceu-se como advogado e
pequeno estancieiro.
Com a chegada da República, em 1889, elegeu-se senador e logo se tornou
um dos pró-homens da política nacional. Já havia se destacado aqui, como líder
republicano, partidário de Júlio de Castilhos e um dos fundadores do jornal A
Federação.
Em 1905, escolhido vice-presidente do Senado, cabia-lhe o controle da
decisiva Comissão de Verificação de Poderes, responsável pela definição de
quais os eleitos teriam o direito de tomar posse.
Usou com mão de ferro esse instrumento poderoso, para impedir o acesso
ao Parlamento de adversários políticos, e com isso angariou ainda maior número
de inimigos.
A
ascensão de Hermes da Fonseca à Presidência da República só fez aumentar o
poder de Pinheiro Machado, de tal forma que passou a ser conhecido como “o
homem que governa o governo”.
Mas
isso lhe causou dissabores, a começar pela articulação de seus adversários para
impedi-lo de suceder o marechal na presidência, como pretendia.
Também cresceu o ódio popular.
Em julho de 1915, tentaram linchá-lo, quando deixava o Palácio Monroe.
Foi então que respondeu ao motorista, sobre o que fazer diante da multidão, com
uma frase que se tornou célebre:
– Nem tão devagar que pareça afronta,
nem tão depressa que pareça medo.
Pinheiro Machado era admirado por
estar sempre vestido com extrema elegância.
Na tarde do dia 8 de setembro de 1915, deixa o Senado na companhia de
políticos da sua intimidade para encontrar o líder republicano paulista Rubião
Júnior.
Entra no Hotel dos Estrangeiros vestindo fraque com cravo vermelho na
lapela, calças escuras e colete, chapéu e bengala.
Francisco Manso de Paiva Coimbra, um homem do povo, também gaúcho,
ferrenho adversário das ideias de Pinheiro Machado, sabe dessa visita. E fica à
tocaia, na entrada do hotel.
Deixa-o passar.
E logo o apunhala pelas costas.
– Ah! Canalha! – diz Pinheiro
Machado.
Os amigos, espantados, seguram o
agressor.
– Apunhalaram-me... – é a última
expressão do senador de ferro.
Manso de Paiva afirma que agiu por
conta própria.
Encerra-se naquele entardecer carioca a história da ascensão e queda de
um dos maiores políticos da história do Rio Grande e do país.
O
corpo embalsamado de Pinheiro Machado é trazido para Porto Alegre. Chega 10
dias depois, na manhã de 18 de setembro, a bordo do navio Javary.
Milhares de pessoas se aglomeram nas ruas próximas ao Cais do Porto e
acompanham o féretro até a Intendência Municipal, onde é celebrada missa e a
população homenageia o político durante toda a noite.
Por volta das 10 horas do dia seguinte, um domingo, enorme cortejo acompanha
o corpo até o Cemitério da Santa Casa.
No Rio de Janeiro, a polícia recolhe, da caixa de correspondência do
assassino, dezenas de cartas de desconhecidos que aplaudem e festejam a atitude
de Manso de Paiva.
E
os admiradores de Pinheiro Machado lembram as palavras por ele ditadas ao
jornalista João do Rio, dias antes:
–
Morro na luta. Matam-me pelas costas, são uns “pernas finas”. Pena que não seja
no Senado, como César...
Da coluna Boletim de
Ocorrência, em ZH, por Celito De Grandi
Pinheiro Machado, advogado e
fazendeiro, líder republicano e senador do Rio Grande do Sul desde a
Constituinte de 1890, condestável da República Velha, foi visitar o senador
Bernardo Monteiro, seu amigo, em um hotel do Rio, e viu que ele usava ceroulas
comuns. Reclamou:
– Bernardo, precisamos estar
preparados para morrer na rua. Vista-se sempre de seda por baixo. Seja um
cadáver decente.
Em 8 de setembro de 1915,
Pinheiro Machado foi assassinado a facadas, no hall do Hotel dos Estrangeiros,
no Rio, por um popular, Francisco Manso de Paiva Coimbra. Apareceram as
ceroulas. De seda. Um cadáver decente.
(Sebastião Nery)
À esquerda, Manso de Paiva, o assassino, à direita,
o assassinado, o senador Pinheiro Machado.
À esquerda, Manso de Paiva, o assassino, à direita,
o assassinado, o senador Pinheiro Machado.
O assassino, o gaúcho Manso de
Paiva, tinha 33 anos, estava desempregado e ostentava no currículo e deserção
do Exército e uma temporada como cabo da Polícia. Segundo Nosso Século “não
fugiu nem tentou se livrar da culpa”. Alcançado, “entregou a faca suja de
sangue nas mãos de um deputado e esperou a polícia”. Eis tudo: “Preso em
flagrante, foi depois julgado e condenado a 30 anos de prisão. Até a morte,
na década de 1960, declarou ter agido por conta própria, e não a mando de
alguém”. Submetido a exames, interrogatórios e perícias, o assassino disse que
o seu gesto “teve influência decisiva do que lia nos jornais sobre o Senador
Pinheiro Machado”. Culpa da mídia? Na época, a mídia se chamava imprensa.
(Da coluna de Juremir
Machado da Silva)
Cortejo Fúnebre - Av. Beira-Mar - Rio - 9.9.1915
Cortejo Fúnebre em Porto Alegre-RS
Túmulo do Senador
Pinheiro Machado no Cemitério da Santa Casa,
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