quinta-feira, 8 de setembro de 2022

O gênio dos amores loucos

 

Na última grande entrevista que deu à imprensa, para O Pasquim, em 1973, perguntado sobre o que estava achando do panorama musical brasileiro, Lupicínio saiu-se com uma resposta estranha: “Não tenho nada com o ambiente musical brasileiro. Não sou músico, não sou compositor, não sou cantor, não sou nada. Eu sou um boêmio.” 

Fala Lupicínio: “Querem saber por que me chamam de o Criador da Dor-de-Cotovelo? Eu às vezes até mesmo nem sei. Eu sei que eu fazia um programa na Rádio Record e, quando terminava de fazer o programa, todo mundo chorava. Quem apresentava esse programa, na época, era esse nosso grande deputado, o Blota Júnior, que começou desde daquela época a me pôr esse slogan de o Criador da Dor-de-Cotovelo. E desde daí, até hoje, me chamam de o Criador da Dor-de-Cotovelo, porque naquela época de fato eu andava sofrendo muito. Andavam me fazendo algumas sujeirinhas por aí e eu fazia músicas muito tristes, como essas músicas que cantam até hoje, músicas que ficaram fazendo sucesso, como essas que vocês vão começar a ouvir de agora em diante.” 

Dizem que existem duas espécies de dor-de-cotovelo: a dor-de-cotovelo estadual, que é a dor-de-cotovelo da noite, em que a gente encontra um amor e que depois fica sentindo saudade. Agora, tem a dor-de-cotovelo federal, que é aquela que a gente não esquece nunca, aquela que a gente guarda para o resto da vida. Vingança é uma daquelas minhas dor-de-cotovelo eternas, que eu vou cantar para vocês agora: 

Vingança 

Eu gostei tanto, tanto quando me contaram,
Que lhe encontraram bebendo e chorando
Na mesa de um bar.

E que quando os amigos do peito por mim perguntaram,
Um soluço cortou sua voz, não lhe deixou falar.

Mas eu gostei tanto, tanto quando me contaram
Que tive mesmo de fazer esforço pra ninguém notar.
O remorso talvez seja a causa do seu desespero.
Ela deve estar bem consciente do que praticou,
Me fazer passar esta vergonha com um companheiro,
Que a vergonha é a herança maior
Que meu pai me deixou.

Mas enquanto houver força em meu peito,
Eu não quero mais nada,
E pra todos os santos, vingança, vingança clamar.
Ela há de rolar qual as pedras que rolam na estrada,
Sem ter nunca um cantinho de seu
Pra poder descansar.

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