sábado, 30 de outubro de 2021

Para escrever um novo mundo

 Fabrício Carpinejar*

Feira do livro é a nossa primavera da leitura,

a nossa biblioteca  a céu aberto. 

É quando as barracas recebem os marcadores de páginas dos jacarandás. É quando os gaúchos fazem suas listas de compras para o Natal e Amigo Secreto. É quando a Praça da Alfândega passa a ter ruas por dentro e Porto Alegre atravessa os seus canteiros. É quando o centro da cidade vibra, como um estádio de futebol. É quando o cheiro de pipoca e de algodão doce se mistura ao sal do nosso suor. É quando encontramos recordações da infância nas caixinhas de sebo. É quando as obras voam pelas janelas das tendas dos livreiros. É quando reencontramos amigos que nunca mais tínhamos visto, colegas do Ensino Fundamental e Médio. É quando casais se formam procurando o mesmo título. É quando retomamos o nosso gosto pela conversa pública com cadeiras de praia. É quando o mar de livros desemboca no rio Guaíba. É quando podemos ver nossos autores de perto, imortalizar a folha de rosto com um autógrafo. É quando famílias inteiras se organizam para sair em caravanas. Marcando o MARGS ou um prédio dos Correios como ponto de encontro caso alguém se perca. É quando o sol anda de mãos dadas com a chuva e a gargalhada dá colo para as lágrimas. É quando somos intensos, possíveis, juntos. É quando ninguém é melhor do que ninguém, todos são iguais, todos são leitores, todos são protagonistas do seu destino. 

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* Fabrício Carpinejar, Patrono das 67ª Feira do Livro de Porto Alegre, em 2021. 

(Do jornal: Para Ler um Novo Mundo)

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