quarta-feira, 13 de julho de 2022

Envelheci, não teve outro jeito!

 Claudia Felix de Lima

Envelheci.
Não foi escolha, aconteceu.
Creminhos, dietinhas, chazinhos e mil jeitinhos.
Uma melhoradinha aqui outra acolá, mas tudo enganação.
Não tem pra onde ir.
Os anos te levam e nunca te trazem,
E te enchem a bagagem de rugas, flacidez e tantos remédios.
E aí, para alguns que se casam, como rende a família!
Netos, bisnetos e, ultimamente, tataranetos,
Rendem tanto como os livros na estante que vamos comprando depois que nos aposentamos.
Um clã e tanto somos capazes de produzir.
Mas não tive escolha, muito menos planejamento, 
e assim eu me tornei um monte de gente.
Outra coisa que percebi é o tanto que mudamos o pensamento.
Quando menina tinha certeza que velha eu não ia ficar.

Hoje, também estou cheia de certezas: moça eu também não vou ficar.
Mas teimo diante do espelho, pura ilusão ou burrice mesmo.
Bem, há quem diga que tenho que ser positiva.
“Com a velhice vem a madureza”...
Conversa pra boi dormir.
Ótimo, sei tanto quanto eu tinha 18 anos,
E a madureza que aprendi foi a de desconfiar.
Acho que é isso, não nos precipitamos, desconfiamos mesmo antes de agir.
Vejam só, meu neto de 7 anos consegue pagar minhas contas na internet, fez um email pra mim mas ainda não sei abrir. Sabe como funciona meu celular, o GPS do carro do pai, e ainda dá palpite na política do país. 
Eu com 7 anos conhecia banco pra se sentar e não pra guardar dinheiro.
Hoje, com tempo de sobra, preencho as horas passeando em livrarias, tricotando ou conversando sobre o rol de enfermidades que vão aparecendo, e, claro, trocando dicas de tratamentos com tantas amigas senis.
Não sou daquelas que amam as plásticas, mas confesso que cogitei...
Então, achei melhor não, meus filhos, todos do contra, é claro, acharam-me sensata.
Mal sabem eles que foi a tal desconfiança misturada com medo mesmo. Porque vergonha a gente com a idade vai perdendo, e mostrar minhas pelancas para um cirurgião já não me deixariam constrangida. Porque constrangimento mesmo é com 18 anos ter que enfrentar um baile com uma espinha no rosto.
Bem, há suas vantagens, nem tudo neste corpo mais vivido é desgraça.
Tenho vagas no estacionamento privilegiadas e não enfrento filas, se bem que as filas da terceira idade estão ficando cada vez maiores.
Pacotes de viajem, faculdades, teatros, tudo com mais descontos.
Mas, a disposição também fica com mais descontos.
Bem, não foi minha escolha ficar assim,
Mas, se fiquei, vou até o fim.
Saber no que dá a gente já faz uma ideia.

Enquanto isso, vou escrevendo algumas bobagens

e deixando por aí, quem sabe alguém resolve ler.

Assim acho que vou envelhecendo mais disfarçadamente,

e com menos tempo de olhar-se no espelho...



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