quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Poema inédito de Mario Quintana

 é descoberto em Porto Alegre

Leia na íntegra 

Texto manuscrito foi encontrado dentro de um antigo livro e adquirido pela Associação de Amigos da Biblioteca Pública do Estado.

Vem da Associação de Amigos da Biblioteca Pública do Estado, uma notícia − em primeira mão − para aquecer os corações dos leitores apaixonados por Mario Quintana, nosso poeta maior. 

Ao analisar o acervo comprado de uma importante família gaúcha, o livreiro George Augusto, veterano no mercado, encontrou uma preciosidade: dentro de um livro do próprio Quintana (foto abaixo), havia uma folha de papel já amarelada. Para a surpresa de todos, eram versos inéditos do escritor gaúcho, redigidos à mão, que agora pertencem à entidade. 

− A letra já foi periciada e confirmamos a autoria. É uma poesia que não está em nenhuma publicação formal. Essa descoberta tem impacto nacional e nos dá uma alegria muito grande − destaca o presidente da associação, Gilberto Schwartsmann. 

Intitulado Canção do primeiro do ano, o texto é datado de 1º de janeiro de 1941 e faz alusão ao início de um novo período - com suas horas “raparigas”, que “cantam cantigas”, lirismo típico do célebre escriba. 

Em breve, a doação do material será formalizada à biblioteca do Estado em uma cerimônia oficial. A intenção, depois disso, é deixar a relíquia exposta por uma temporada na Casa de Cultura Mario Quintana, na Capital, onde o autor viveu entre 1968 e 1980. 

O local preserva, até hoje, uma réplica do quarto outrora ocupado pelo mestre, que − esteja onde estiver − merece todo o nosso reconhecimento. 

Aliás, Mario Quintana nasceu em Alegrete, em 1906 e, com 20 anos, mudou-se para Porto Alegre. Com clássicos como Sapato Florido, Esconderijos do tempo e Lili inventa o mundo, consagrou-se poeta do cotidiano e tornou-se um dos ícones da literatura brasileira. Morreu em 5 de maio de 1994, aos 87 anos. 

O poema, na íntegra 

Canção do primeiro do ano 

Pelas estradas antigas
As horas vêm a cantar.
As horas são raparigas,
Entram na praça a dançar.
 

As horas são raparigas… 

E a doce algazarra sua
De rua em rua se ouvia.
De casa em casa, na rua,
Uma janela se abria.
 

As horas são raparigas
Lindas de ouvir e de olhar.
 

As horas cantam cantigas 

E eu vivo só de momentos,
Sou como as nuvens do céu…
Prendi a rosa dos ventos
Na fita do meu chapéu.
 

Uma por uma, as janelas
Se abriram de par em par.
As horas são raparigas…
Passam na rua a dançar.
 

Janela da minha vida
Aberta de par em par!
 

As horas cantam cantigas 

E, de novo, tem lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Em tuas mãos distraídas…
 

Mario Quintana, Porto Alegre, 1/1/41 

(Da coluna de Juliana Bublitz, em GZH)

 

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