quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Conselhos de pais

 Era uma vez... 

Por José Antônio Moraes de Oliveira*

Existe um velho provérbio ensinando que as palavras são levadas pelo vento − e esquecidas. Acontece quando somos obrigados a ouvir longos monólogos de uma pessoa desinteressante ou em uma aula rotineira de um professor que desistiu de ensinar. Para o escritor Mark Twain, são palavras soltas, sem dono nem destino. Que, ao mesmo tempo, dizia que determinadas frases e palavras ficam cristalizadas em nossa memória afetiva, embora adormecidas pela maior parte do tempo. Ele fala do que ouvimos do pai e da mãe na infância, mas que só lembramos quando é muito tarde. 

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Alguns pensadores modernos escreveram sobre as lições de vida que, ao longo do tempo, os pais tentam repassar aos filhos − nem sempre com sucesso. Os mais antigos gostavam de exemplos de castigos bíblicos ou ameaçavam com bichos-papões e diabinhos malvados. Um folclore inesgotável de sabedoria humana, com altas doses de imaginação. Tema explorado em contos e novelas, como em Gilbert Keith Chesterton, Cormac McCarthy ou Robert Fulghum. Eles nos advertem que crianças costumam adquirir suas próprias verdades, mesmo sem saber o que fazer com elas. Mark Twain dizia o mesmo em um aforismo: 

 “Não precisamos dizer às crianças que existem dragões.

Elas já sabem disso.

O que elas precisam aprender

é que os dragões são vencidos pelos heróis.”

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Não é de hoje que os mais novos pensam que sabem mais do que os seus velhos. O resultado é que raramente dão valor às pequenas pérolas que lhes são oferecidas nas aulas do dia a dia. Cansados, os pais recorrem à ironia e sarcasmo para economizar as palavras. Quando a paciência chega ao fim, vem a sentença: 

“Vai ser assim porque eu disse e ponto final”. 

Ou a advertência assustadora: 

“Se caíres da escada e quebrar o pescoço,

vais perder a festa de sábado.” 

Às vezes, existe uma escolha: 

“Se continuar choramingando,

vou te dar um motivo para chorar de verdade.” 

As mães sabem prever o futuro: 

“Espera só até chegarmos em casa.” 

Outras esperam pelo impossível: 

“Feche a boca e tome sua sopa.” 

Ou tentam lições de genética: 

“Deste jeito, quando cresceres vais ficar igual ao teu pai.” 

E as que confiam em milagres: 

“Não saio daqui até que este espinafre desapareça do prato.” 

Ou invocam Peter Pan: 

“Se não comeres vegetais, nunca vais crescer.” 

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Já o norte-americano Robert Fulghum é mais otimista, oferecendo fábulas de otimismo: 

“Somos todos um pouco estranhos. A vida é muito estranha. Assim, quando encontramos alguém cuja estranheza é compatível com a nossa, vamos nos juntar e permanecer nessa esquisitice mutuamente satisfatória, a que chamamos de amor.” 

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Voltando à Mark Twain − ele acreditava que, de tudo que ouvimos do pai e da mãe, existe algo que jamais desvanece, guardado entre as mais profundas lembranças − palavras sussurradas que começam assim: 

“Era uma vez...” 

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* José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia. Atuou em jornal em A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o jornalismo por publicidade, redigindo anúncios na MPM Propaganda. Diretor de contas internacionais, morou por anos na ponte aérea Porto Alegre/ São Paulo/ Rio/Miami/New York. Foi diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e co-fundador do Cenp (Conselho Executivo das Normas-Padrão). Atualmente, reside na Serra gaúcha. 

(Do Blog coletiva.net)

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