terça-feira, 28 de agosto de 2018

O túmulo beijado


  
De 1895 a 1900, quando morreu, o irlandês Oscar Wilde passou por toda espécie de tormento que um ser humano poderia suportar. Meteu-se num imprudente processo por homossexualismo, ao ter um caso público com o filho de nobre inglês peso-pesado, e perdeu o caso. Na Inglaterra vitoriana, era crime ser gay. O tribunal condenou-o a dois anos de trabalhos forçados na penitenciária de Reading, onde ele foi cuspido e teve a cabeça raspada.

A ideia de ver um gigante como Wilde (1,90 m) humilhado e submetido a violências e privações por guardas boçais parece quase inacreditável. Mas aconteceu e, mesmo assim, ele conseguiu até escrever na prisão: o poema “A balada do cárcere de Reading” e a memória De profundis, em forma de longa carta para Bosie, o jovem amante responsável por sua desgraça.

Libertado em 1897, falido e em desgraça em Londres, Wilde partiu para o degredo em Paris. Lá, esmolou agressivamente nas ruas. Viu manchas vermelhas aparecerem em seus braços, peito e costas, seguidas por erupções em todo o corpo. Teve um abscesso purulento no ouvido (tratado com morfina e ópio) e meningite*. A 30 de novembro de 1900, seu corpo literalmente explodiu − liquefez-se. Ele tinha 46 anos.

Wilde foi enterrado no cemitério Père-Lachaise e, como sua reabilitação literária foi imediata, seu túmulo sempre atraiu romeiros. Mas, de alguns anos para cá, eles não se limitam a contemplá-lo. Beijam-no e escrevem mensagens de admiração e amor, a lápis e batom. A cada limpeza, a pedra se desgasta. Na semana passada (em 2012), para conter o processo, o túmulo ganhou uma redoma de vidro.

De cuspido por alguns a beijado por milhares − o que Wilde diria disso? Na verdade, sem saber, ele já disse: “A única diferença entre um santo e um pecador é que o santo tem um passado − e o pecador, um futuro.”


Túmulo Oscar Wilde, em Paris, cercado por redoma de vidro.

(Do livro “A arte de querer bem”, de Ruy Castro)

*Oscar Wilde morreu de um violento ataque de meningite, agravado pelo álcool e pela sífilis.


Wilde foi enterrado no Cemitério de Bagneux, fora de Paris, porém em 1950 foi movido para o Cemitério de Père Lachaise. Sua tumba é obra do escultor Sir Jacob Epstein, à requisição de Robert Ross, que também pediu um pequeno compartimento para seus próprios restos.

A Obra

No seu único romance, O Retrato de Dorian Gray, considerado por muitos críticos como uma obra-prima da literatura britânica, Oscar Wilde trata da arte, da vaidade e das manipulações humanas.

Já em várias de suas novelas, como por exemplo O Fantasma de Canterville, Wilde critica o patriotismo da sociedade.

Em seus contos infantis preocupou-se em deixar lições de moral através do uso de linguagem simples. O Filho da Estrela (ver em Ligações Externas), é exemplo disso.

No teatro, escreveu nove dramas, muitos ainda encenados até hoje.

Wilde destacou-se como poeta, principalmente na juventude. Rosa Mystica, Flores de Ouro são alguns trabalhos conhecidos nesse campo.

Wilde foi um mestre em criar frases marcadas por ironia, sarcasmo e cinismo.


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