quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Balada do anticrime

(Um poema de 1984...)*

Raul Bopp


O crime anda espalhando medo em toda parte.
Monstros escondidos espiam passos dos incautos.
Quando menos se espera,
homens de arma na mão saltam de um fusca.
Dominam os pontos de assalto.
O Guarda, que deu o alarma,
cai numa poça de sangue.
Metralham, sem piedade, a quem reage: bala bala bala bala.
Ficam viúvas e crianças
chorando, em dor convulsiva, ao lado dos cadáveres.
Assaltos de cada dia
repetem os mesmos dramas, na mesma impunidade.
Despistam primeiramente pontos insuspeitos:
Uma loira fingida mostra as pernas pro vigia.
Então, homens do bando surgem, de surpresa.
Assaltam, Matam, Roubam. Depois fogem
pelas favelas de ruazinhas esprimidas.
Jornais apenas registram, em manchetes, a notícia.
Quando o General alemão era Chefe de Policia,
as coisas se resolviam de forma diferente:
marcados sob a alça de mira.
Não escapava ninguém. Era bala bala bala
− “Esses tarados não merecem o luxo de processos judiciários”.
O terror dispersou a bandidagem.
O Rio ficou, de novo, uma cidade tranquila.
Turistas podiam passear prazerosamente na Tijuca.
Namorados se encontravam, sem sustos, em lugares ermos.
Agora não!
A onda negra cresceu. Não para nunca.
O crime dominou a cidade descontrolada.
A policia sozinha
não tem jeito de enfrentar a avalanche dos assaltos, de hora marcada
exatos, rápidos, rendosos.
No clamor que se avoluma, dia a dia,
uma falta de fé machuca as massas.
− Seu Brizola deixa ao menos vingar, com sangue quente,
as mães que choram, com voz comovida:
− Quem vai dar agora pão para os meus filhos?
Tenha pena do Rio!
Consinta que se organizem milícias anticrime,
com valores humanos,
justos, impávidos, valentes,
pra galoparem livremente pelas ruas,
com cavalos de patas de prata,
e limparem, assim, um pouco da poluição terrorista,
que sufoca a cidade.

*****


Raul Bopp (Santa Maria, Rio Grande do Sul, 1898 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1984). Poeta, cronista, jornalista e diplomata. Modernista da fase heroica.

*Trinta e cinco anos depois, a situação do Rio continua mesma, até piorando, e as “milícias” não  deram nenhum resultado...

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