João de Barro
(Braguinha)
“Num certo dia de 1934 eu ia passando
pela Rua Gonçalves Dias quando resolvi entrar no Café Papagaio. Lá encontrei,
de terno branco, sentado a uma das mesas, Noel Rosa. Costumávamos nos ver ali
de vez em quando, pois o nosso editor ficava bem ao lado. Sentei-me com Noel e,
no meio da conversa, perguntei-lhe:
- Noel,
você já prestou atenção no ritmo das músicas daquele rancho que sai em Vila Isabel no Dia de
Reis?
- Já. É interessante.
- Que tal se a gente fizesse para o carnaval uma música
naquele ritmo?
- Boa ideia.
Ali mesmo, papel e lápis na mão,
fizemos entre um cafezinho e outro a música e a letra de uma marcha que
chamamos de Linda Pequena. Gravada
pelo João Petra de Barros, não fez sucesso.
Em 1937, Noel morreu. No início do
ano seguinte, houve um concurso de música de carnaval patrocinada pelo
departamento de Imprensa e propaganda, o DIP, na Feira de Amostras. Eu e o Alberto
Ribeiro inscrevemos uma marcha nossa, Touradas
em Madrid, que acabou ficando com o primeiro lugar. Mas muita gente
protestou, alegando que nossa música era, na verdade, um pasoboble. Como se marcha e pasodoble
não fossem a mesma coisa. De qualquer modo, o DIP acolheu os protestos e anulou
o resultado, marcando para duas semanas depois um novo concurso. Foi então que
pensei em Linda Pequena , tão
pouco lembrada que era praticamente inédita. Mudei um pouco a letra, que ficou
assim:
As pastorinhas
(Noel Rosa e João de Barro)
A estrela d'alva
No céu desponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor
E as pastorinhas (E as moreninhas)*
Pra consolo da lua
Vão cantando na rua
Lindos versos de amor.
No céu desponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor
E as pastorinhas (E as moreninhas)*
Pra consolo da lua
Vão cantando na rua
Lindos versos de amor.
Linda pastora
(Linda Pequena)*
Morena da cor de Madalena
Morena da cor de Madalena
(Pequena que tens a cor morena)*
Tu não tens pena
De mim
Tu não tens pena
De mim
Que vivo tonto com o teu olhar.
Linda criança
Tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre e sempre te amar,
Linda criança
Tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre e sempre te amar,
Mudei também o título, que passou a
ser Pastorinhas. Inscrevi-a no novo
concurso e tirei outra vez o primeiro lugar. Gravada pelo Sílvio Caldas, foi um
sucesso. Pena que Noel já não estivesse aqui para ver.”
* Entre parênteses, as palavras da primeira versão de Linda
Pequena, o primeiro título.
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