Religiosamente, todo santo domingo,
eu, minha irmã e meu primo íamos à matinê. Eu tinha, na época, de 10 para 11
anos.
Todo arrumado, calça curta, ao
chegarmos ao cinema íamos sempre à bomboniére comprar alguns doces. Se um de nós
não pudesse ir naquele dia, o porteiro e dono do cinema peguntava: “Cadê o
outro?”, e nós o informávamos, com a maior inocência, os motivos da ausência.
Era um dia de gala.
O cinema era o único da região.
Tela para Cinemascope (hoje chamaríamos de widescreen) e suntuoso para os
padrões da época.
A tela era coberta por uma grossa
cortina vermelha e o início do programa se dava com o som grave de um gongo,
enquanto a cortina ia se abrindo e uma lâmpada colorida se acendia na base da
tela, (como o farol dos carros antigos) mudando para outra lâmpada, de outra
cor, à medida que o gongo tocava notas diferentes. E hoje, quando vejo os
sinais de trânsito lembro delas, eram iguaizinhos (como se escreve isso?).
Então, o gongo parava, tudo ficava às escuras e a tela se iluminava com os noticiários da “Atlântida”, com aquela fonte enorme no centro. Depois, passava um desenho animado e, em seguida, os trailers dos próximos filmes a serem exibidos. Então, vinha um capítulo do seriado (geralmente de
Saíamos do cinema calados, tentando
manter na memória tudo que havíamos visto. Não havia televisão e, em casa, um
radinho era tudo que se tinha, para ouvir “O Anjo”, “Jerônimo, o Herói do
Sertão” e, mais tarde, os humorísticos da Rádio Mayrink Veiga.
E, claro, todos ouviam, atentos, o
Júlio Louzada, às seis horas, a “Hora da Ave-Maria”; esse posto foi tomado, mais
tarde, pelo Alziro Zarur, da “Legião da Boa Vontade”.
Saudade que
me machuca hoje, ao relembrar isso.
Clarival Vilaça
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