quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Antigos cinemas



Religiosamente, todo santo domingo, eu, minha irmã e meu primo íamos à matinê. Eu tinha, na época, de 10 para 11 anos.

Todo arrumado, calça curta, ao chegarmos ao cinema íamos sempre à bomboniére comprar alguns doces. Se um de nós não pudesse ir naquele dia, o porteiro e dono do cinema peguntava: “Cadê o outro?”, e nós o informávamos, com a maior inocência, os motivos da ausência.

Era um dia de gala.

O cinema era o único da região. Tela para Cinemascope (hoje chamaríamos de widescreen) e suntuoso para os padrões da época.

A tela era coberta por uma grossa cortina vermelha e o início do programa se dava com o som grave de um gongo, enquanto a cortina ia se abrindo e uma lâmpada colorida se acendia na base da tela, (como o farol dos carros antigos) mudando para outra lâmpada, de outra cor, à medida que o gongo tocava notas diferentes. E hoje, quando vejo os sinais de trânsito lembro delas, eram iguaizinhos (como se escreve isso?).

Então, o gongo parava, tudo ficava às escuras e a tela se iluminava com os noticiários da “Atlântida”, com aquela fonte enorme no centro. Depois, passava um desenho animado e, em seguida, os trailers dos próximos filmes a serem exibidos. Então, vinha um capítulo do seriado (geralmente de 12 a 15 episódios eram mostrados, um por semana) e, finalmente, o filme principal (algumas vezes eram dois).

Saíamos do cinema calados, tentando manter na memória tudo que havíamos visto. Não havia televisão e, em casa, um radinho era tudo que se tinha, para ouvir “O Anjo”, “Jerônimo, o Herói do Sertão” e, mais tarde, os humorísticos da Rádio Mayrink Veiga.

E, claro, todos ouviam, atentos, o Júlio Louzada, às seis horas, a “Hora da Ave-Maria”; esse posto foi tomado, mais tarde, pelo Alziro Zarur, da “Legião da Boa Vontade”.

Saudade que me machuca hoje, ao relembrar isso.

Clarival Vilaça

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