quinta-feira, 23 de agosto de 2018

A morte e o enterro de Alfred de Musset



Pintura de 1854 de Alfred de Musset, 
autoria de Charles Landelle (1812-1908).

Há cento e cinquenta anos* morria em Paris, moço ainda, o grande poeta francês Alfred de Musset. “Filho do século”, acabara tristemente, vítima de Eros e do álcool, o autor de poemas que atravessaram o século e seguirão encantando gerações sobre gerações.

Ficou célebre sua aventura amorosa com George Sand, a escritora de gênio e a mulher extravagante que acabaria dando-lhe dores de cotovelo. Foram duas criaturas feitas para se detestarem e que pensaram poder ligar-se pelo amor. Seu ninho em Veneza ainda hoje é visitado por turistas sentimentais, talvez os mesmos que vão levar flores ao túmulo da Dama das Camélias.

Abandonado em vida, Musset o foi também depois de morto. As homenagens ficariam a cargo da Posteridade...

Depois que seu modesto féretro deixou a igreja de Saint Roch, das 200 pessoas que assistiram à cerimônia religiosa, apenas umas quarenta o acompanharam ao cemitério de Père Lachaise. Aí chegados, nova debandada, de modo que só assistiram à inumação raríssimos amigos.

Acabava a França de perder um dos seus maiores poetas, um dos seus maiores escritores, um dos seus espíritos mais encantadores, uma das suas mais puras e radiantes glórias. Felizmente fazia tempo esplêndido. Se houvesse chovido, é bem possível que ninguém houvesse assistido ao seu enterro.

Albéric Second, em La Comédie Parisienne, comenta:

Musset pertencia à Academia Francesa. Pensar-se-á sem dúvida que a Academia compareceu em massa. Engano. Os que lhe prestaram a última homenagem podem contar-se pelos dedos: Merimée, Sainte-Beuve, Pongerville, Legouvé, Augier, além de Villemain, Vigny, Empis e Vitet, que seguravam as alças do caixão.

E os outros trinta, onde se achavam?

Ah! Se Alfred de Musset tivesse sido ministro de qualquer coisa ou embaixador em qualquer parte, num regime qualquer, então, sim! teria sido abundantemente carpido e piedosamente acompanhado. Mas um simples poeta!

O teatro devia-lhe belos sucessos. Só dois atores comparecerem à igreja. Atriz, nenhuma.

Quanto à juventude parisiense, a cujo coração falara o poeta, ninguém dela acorreu a ver seu corpo descer à sepultura. No entanto, àquela hora, a bolsa não estava funcionando...


Campa de Alfred de Musset no cemitério de Père Lachaise 

 (Revista Careta de 1957)

* Na época da revista, fazia cem anos da morte do poeta. (11.12.1810-02.05.1857)



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