sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

A verdade atrás da propaganda



Numa célebre conferência, na década de 60, um diretor de publicidade de Milwaukee deu a tônica de toda a propaganda comercial moderna quando comentou o fato das mulheres darem dois dólares e meio por um creme para a pele, mas não darem mais de 25 centavos por um sabonete: o sabonete − explicou − apenas promete deixa-las limpas (e cumpre), já o creme promete torná-las belas (mais tarde, os sabonetes, a começar por Lux, começaram também prometer beleza); e acrescentou: “os fabricantes de cosméticos não estão vendendo lanolina, estão vendendo esperança; os de sapato estão vendendo pés adoráveis; não compramos mais laranjas, compramos vitalidade; não compramos mais cigarros ou vinho, compramos sucesso social; não compramos mais automóvel, compramos prestígio”.

(Do livro “Cultura de verniz”, de Roberto Menna Barreto)

Com um dentifrício, por exemplo, adquirimos, não um mero antisséptico ou um produto de higiene, mas sim a libertação do medo de sermos sexualmente repulsivos. Com o vodka ou o whisky não adquirimos um veneno protoplásmico que, em pequenas doses, pode afetar o sistema nervoso de maneira psicologicamente valiosa; estamos adquirindo amizade e boa camaradagem... (...) Com o best-seller do mês adquirimos cultura, a inveja dos vizinhos menos ilustrados e a admiração dos que são intelectuais.

(...)

Em cada um dos casos, o analista de motivações encontrou um desejo ou um medo fundamente enraizado, cuja energia pode ser utilizada para levar o consumidor a distribuir dinheiro e assim, indiretamente, a fazer girar as rodas da indústria. Armazenada nos espíritos e nos corpos de incontáveis indivíduos, esta energia potencial é libertada e transmitida por uma linha de símbolos cuidadosamente disposta de maneira a evitar a racionalidade e a obscurecer a verdadeira questão.

Do livro “Regresso ao admirável mundo novo”,
Aldous Huxley)


Aldous Leonard Huxley (Godalming, 26 de Julho de 1894Los Angeles, 22 de Novembro de 1963) foi um escritor inglês e um dos mais proeminentes membros da família Huxley. Passou parte da sua vida nos Estados Unidos, e viveu em Los Angeles de 1937 até a sua morte, em 1963. Mais conhecido pelos seus romances, como Admirável Mundo Novo e diversos ensaios, Huxley também editou a revista Oxford Poetry e publicou contos, poesias, literatura de viagem e roteiros de filmes. Ele passou a última parte de sua vida nos Estados Unidos, vivendo em Los Angeles de 1937 até sua morte. No final de sua vida, Huxley foi amplamente reconhecido como um dos principais intelectuais de sua época. Ele foi nomeado para o Prêmio Nobel de Literatura sete vezes e foi eleito Companheiro de Literatura pela Royal Society of Literature em 1962.

Huxley era humanista e pacifista. Ele cresceu interessado no misticismo filosófico e universalismo, abordando esses temas com obras como A Filosofia Perene (1945) − que ilustra semelhanças entre misticismo ocidental e oriental − e As Portas da Percepção (1954) − que interpreta sua própria experiência psicodélica com mescalina. Em seu romance mais famoso Admirável Mundo Novo (1932) e seu último romance Island (1962), ele apresentou sua visão de distopia e utopia, respectivamente.

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