sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Os bares da minha vida



Um bar, uma boate, um restaurante conquista um grupo em determinada época, quando a época acaba, o bar, a boate, o restaurante termina também.

Li as palavras das duas primeiras orações acima, numa coluna do David Coimbra, na ZH de janeiro deste ano (2020). Percebi que o assunto era bom e resolvi dar continuidade ao tema

Tudo começou quando cursava, nos anos 60, o Clássico no Colégio Ruy Barbosa, no início da Oswaldo Aranha e, todas as sextas-feiras, eu, com alguns colegas, íamos ao Bar Alaska, fundado em 1965, onde se discutia política na época da ditadura militar. No bar, havia estudantes secundaristas, estudantes de arquitetura e de filosofia, os mais politizados do local.


Bar Alaska, anos 60

Nos anos 1960, segunda metade, eu tinha uma turma que íamos, aos sábados, no Bon Ami, na Salgado Filho, quase inicio da Independência; depois, numa fase amorosa, no Gilbert′s, também na Salgado filho.

Também nessas décadas, 60 e 70, como era bom dançar no La Ca D′oro e no La Fontana di Trevi, na João Pessoa. Dançava-se junto ou separado. Bebia-se apenas o valor da consumação por casal: quatro chopes e não se comia nada, a não ser os ovinhos de codorna dados de cortesia pela casa.

Havia outras casas noturnas para quem tivesse grana e podia se divertir. A lista deve ser aberta pela pioneira do grupo, Crazy Rabbitt (na Garibaldi), seguida pela mais famosa, a Encouraçado Butikin (1965), a Baiúca (1962), que no final passou a ser chamada de Vila Velha, La Locomotive (1964), Scavi (1968), Whisky a Gogo (1970), Barroco, Paraphernalia (1966), Le Club (Rua João Telles), Água na Boca (1979, Praça do Portão), Dancin’Days (1971), Flower’s (1971, Praça Jayme Telles), Scalaris (Avenida Getúlio Vargas), Velha Guarda (Ipiranga/Getúlio).

Nos anos 1970, depois das aulas na Faculdade de Letras, às sextas-feiras, como era bom tomar uns chopes nos bares da Protásio Alves, no alto Petrópolis.

Algumas vezes, ia-se ao Chopão − cervejaria com bandinha e comida alemã instalada no complexo Beira-Rio, ou na Churrascaria Saci, no mesmo estádio.

Quando se estava no centro da cidade, tomava-se um cafezinho no Café Rian − no térreo do edifício Santa Cruz, na rua dos Andradas, era ponto de encontro dos principais personagens da cidade.

Já com automóvel, assistir a um filme no Centro Comercial João Pessoa − o primeiro shopping center da cidade.

Pra quem tinha fome na madrugada, a salvação era comer um cachorro quente no Zé do Passaporte − no Bom Fim, junto à Redenção, um dos tantos trailers que transformaram Porto Alegre na capital do XIS.

Pra se comer um bom sanduíche aberto, que só existe no Sul, ia-se ao Pedrini, na Venâncio Aires. Se quisesse saborear uma comida campeira, com música regional, a solução era ir Ao Recanto do Tio Flor, na Getúlio Vargas, quase ao lado do Cine Marrocos. Comia-se também comida gaúcha no Pulperia, na Cidade Baixa.

Pra ouvir música e dançar, nos anos 1980, tinha o Chipps, na Getúlio Vargas, que existe até hoje. Pra ouvir MPB, tendo, algumas vezes, o prazer de ver Lupicínio Rodrigues com os amigos de sempre, no Adelaide′s Bar, na subida da Marechal Floriano. O Tom e Tom, no início da José de Alencar, quase esquina da Praia de Belas, tinha conjunto musical e uma pequena pista de dança.

Mas, para cada um de nós, acabou a sua época, o grupo de amigos se desfez, amadureceu, foi batalhar pelo pão de cada dia. Casou, perdeu o romantismo, mudou de hábito e de cidade. Outros grupos de outra geração fixaram-se em outros bares. Os antigos bares, por falta da sua clientela fiel, fecharam, o prédio se tornou ponto para um negócio mais lucrativo.

Cada um de nós, ao passar por uma rua, avenida ou um lugar qualquer de Porto Alegre, percebe um local que foi um lugar de encantamento de uma fase feliz de sua vida, que segue, com outra geração de outras épocas em outros bares da cidade. E a vida continua...

Nilo da Silva Moraes

15 points de Porto Alegre nos anos 70 e 80.

Que outros você se recorda?


01 - Rib's da 24 de Outubro, foto acima, - lancheria de parada obrigatória para juventude do Moinhos de Vento e adjacências.

02 - Looking Glass - primeira discoteca da capital gaúcha. Inaugurada em 1978.

03 - New Looking - sucessora da Looking Glass no mesmo endereço do Menino Deus.

04 - Boutiques do Moinhos de Vento - endereço obrigatório da moda na cidade.

05 - Choppão - cervejaria com bandinha e comida alemã instalada no complexo Beira-Rio.

06 - Crocodilos - discoteca que ficava no começo da Plínio Brasil Milano, no bairro Auxiliadora.

07 - Água na Boca - badalada casa noturna da Praça Conde de Porto Alegre, perto da Santa Casa.

08 - Churrascarias Saci e Mosqueteiro - no Beira-Rio e Olímpico.

09 - Vitória, Cacique, Imperial, Guarani, Rex, Carlos Gomes e Scala - cinemas do centro de Porto Alegre.

10 - Café Rian - no térreo do edifício Santa Cruz, na rua dos Andradas, era ponto de encontro dos principais personagens da cidade.

11 - Trianon Bauru - primeiro e melhor bauru da capital.

12 - Centro Comercial João Pessoa - o primeiro shopping center da cidade.

13 - Shopping Iguatemi - inaugurado em 1983, ampliou o conceito de shopping center em Porto Alegre.

14 - Bar Ocidente - um dos símbolos do Bom Fim como bairro de todas as 'tribos'.

15 - Zé do Passaporte, foto abaixo - no Bom Fim, junto à Redenção, um dos tantos trailers que transformaram Porto Alegre na capital do XIS.




12 comentários:

  1. Tive o prazer de ser adolescente nesta época e frequentei quase todas..como sempre digo nasci e cresci na melhor época de porto Alegre e me vou antes de ver tudo degringolar... Altos da Protásio, na época morava atrás na av Iguassú vinha da faculdade a noite (Unisinos) e já ficava por ali. Quem não lembra do Viscaya (acho que é assim que se escreve), Pudibundo, bonde'u e boate Bogaloo (bem ao lado do posto que existia na época) domingueira certa e outros bares.

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    1. Realmente, vivemos numa melhores fases de bares de Porto Alegre. Tomava-se chope, batia papo com os amigos, dançava com garotas lindas e éramos felizes...

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    2. Oi Luís, tinha um lugar que eu gostaria de lembrar do nome, era uma casa noturna, ficava na 24 de Outubro, bem próximo da Carlos Gomes. Tinha uma escada pra entrar, é tudo o que eu lembro. Abraço CBB

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    3. Não era o Luzes da cidade

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  2. Recordar e viver...
    Vim de Quaraí na década de 70.
    Vivi bons momentos em algum destes recantos.
    Vale a pena relembrar...
    Quem viveu verá!!!
    Grato Nilo

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    1. Amigo, quem foi jovem da década de 70, 80 e adulto na década 90... viveu, em bares e boates, os melhores anos de suas vidas...

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  3. Nilo, grandes lembranças, vivenciei quase todos. Hoje morando longe de POA, sempre que posso estou aí, ainda indo a lugares daquela época, que resistem ao tempo e a outros que me trazem no tempo. Parabéns pela matéria. Abç Valerio

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    1. Amigo Valério, essa Porto Alegre que nós conhecemos, e que nos fez muito feliz, numa época boa de nossa vida, já não existe mais... Que pena...

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  4. ainda faltou citar o alambiques na independência, com piano bar

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  5. Amigo Luiz Carlos, lamentavelmente não tive o prazer de conhecer esse bar com um nome bem sugestivo...

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  6. Crocodilo's, danceteria esquina da Silva jardim

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  7. Aí já não era mais a minha praia, mas quem dançou lá deve ter tido momentos memoráveis...

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