Saudades do Rio Grande
Diz que, tendo vindo o gaúcho passear
no Paraná, foi convidado para tomar mate na casa do paranaense. Este, por sua
vez, mais louco para pregar-lhe uma peça, esquentou a água até avermelhar o
fundo da cambona. Na hora de servir, desceu a água pela bomba, para que esta
ficasse ainda mais quente. Passou a cuia para o visitante, que, imediatamente,
deu-lhe uma sorvida com muita vontade. O gole desceu queimando desde o beiço
até a alma do gaúcho, que, para não perder a compostura, engoliu quieto
apertando os olhos, donde escorriam lágrimas de dor. O paranaense, então,
perguntou-lhe:
- O
que foi, gaúcho? Por que choras?
E este, com a incrível cara-de-pau
que lhe foi legada por Deus, respondeu em forte tom de recordação:
- Saudades do meu Rio Grande, tchê!
- Saudades do meu Rio Grande, tchê!
Cortando cabelo
Diz que, um belo dia, um índio bem
alegre, chegou numa barbearia juntamente com um menino, os dois para cortarem o
cabelo. O barbeiro, gente mui buena, fez um belo corte no índio, que já
aproveitô pra aparar a barba, enfim deu um trato geral. Depois de pronto o
índio, chegou a vez do guri. Nisso o índio disse pro barbeiro:
- Tchê, enquanto tu cortas
as melena do guri, vou dar um pulo até o bolicho da esquina comprar um
cigarrito e já tô de volta.
- Tá
bueno! − disse o barbeiro.
Só que o barbeiro terminou de
cortar o cabelo do guri e o índio não aparecia.
- Senta aí e espera que teu
pai já vem te buscar.
- Ele não é meu pai! −
disse o piá.
- Teu irmão, teu tio, seja
lá o que for, senta aí.
- Ele não é nada meu! − falou
o guri.
Ai o barbeiro perguntou
intrigado:
- Mas quem é o animal,
então?
- Não sei! Ele me pegou ali
na esquina e perguntou se eu queria cortar o cabelo de graça!
O otimista e o pessimista
Era uma vez
dois irmãos, gaúchos de nascimento. Um era pessimista; o outro, otimista.
Certa vez, no Natal, ao abrirem seus
presentes, os meninos encontraram o seguinte: O pessimista tinha ganhado uma
bicicleta linda, de dez marchas, moderna e sofisticada. O otimista, ao abrir a
linda caixa que recebera, deparou-se com um monte de fezes de cavalo. Disse
então o pessimista:
- Viu? Ninguém gosta de
mim. Agora, com certeza, mais cedo ou mais tarde, eu vou cair e quebrar a cabeça
com essa bicicleta que corre tanto...
Enquanto
isso, o otimista já saíra correndo para a rua, disparado, gritando:
- Cadê meu cavalinho? Cadê
meu cavalinho que ganhei de Natal?
O homem que apostava
Luiz Coronel
Que era homem educado, lá isso era.
Também cria dos Tavares, só podia sair de tratos maneirosos. Acontece, porém,
que, aos verdes campos, preferiu as verdes mesas de carteados. Outro vício não
tinha, afora apostar até a mãe, se apostador houvesse.
- Aposto
que o Dr. Naziazeno vai discursar no enterro.
- Aposto que o Dr. Fico
ganha essa eleição.
Tudo era aposta.
A noite já era crescida em horas e o
Tavares aquecia o banco num joguinho sofrido, nos altos do Comercial, quando o
Dr. Marcírio testaviou na mesa. Caiu duro e fulminado, e que Deus o tenha em
sua glória.
- Quem de nós leva a
noticia lastimosa para Dona Cristina Magalhães, esposa do parceiro ora
falecido?
Outra não
foi a sábia escolha. O Tavares.
Lá se foi ele, circunspecto,
pela madrugada fria.
A mãozinha de ferro da porta começou
delicada para retumbante, até que se abriu a porta com a senhora mal desperta,
arrumando o cabelo sob o lenço de seda.
- Boa noite ou bom dia,
senhora. Desculpe o adiantado da hora. Sou o Belico Tavares e, por certo, a
senhora deve ser a viúva do Dr. Marcírio Magalhães, não?
Aflita, a
senhora contestou pela metade a madrugadeira pergunta:
- Sou Cristina Magalhães,
viúva não!
- Quer apostar?
Gaúcho vai à praia
Um gaúcho da campanha fazia uns
trinta anos que não saia da estância; foi quando o patrão dele resolveu dar
umas férias e como prêmio quis levar ele para a praia e disse:
- Seu Pedro, vou levar o
senhor para a praia comigo nesse verão.
- Bah, Doutor, o senhor
sabe que eu não sou muito dessas coisas!
- Não te preocupa, tchê, tu
vai comigo qualquer coisa eu te trago de volta.
- Bom, então eu vou com o
senhor.
Chegando na praia, o gaúcho, vendo
aquele monte de mulher quase pelada tomando banho de sol, ficou apavorado.
Passado o susto, ficou admirado com o mar e resolveu entrar na água, deu uma
arremangada nas bombachas e entrou, brincando feito piá.
Só que quando ele saiu a bombacha
colou no corpo e todo mundo ficou espantando com o tamanho do pertences dele
que fazia um volume mais ou menos perto do joelho, daí ele deu uma olhada para
todo mundo e disse:
- O
que é que tá todo mundo me olhando?
Vão dizê que quando vocês
entram na água, o de vocês não murcha também?
Filosofia Conjugal
Casado há muitos anos e famoso pelo
bom relacionamento matrimonial, certo gaúcho da região da Campanha, explicava,
numa roda de chimarrão, seu procedimento:
- Muito simples, diz ele.
Quando começo achar a minha mulher com cara de vaca, vou para a fazenda e fico
por lá. E, quando começo a achar as vacas com cara de mulher, volto correndo
para casa.
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