No hemisfério Norte, nos tempos do paganismo, as celebrações relacionadas às fogueiras e demais ritos do fogo marcavam o solstício do verão e a evocação de divindades propiciadoras da fartura em tempos de colheita. Essa herança pagã fundiu-se ao cristianismo popular e se apresenta com força especial nas festas de Santo Antônio, São João e São Pedro.
Chegando ao Brasil com a
colonização portuguesa, o culto aos santos juninos foi redimensionado e
vitalizado ao entrar em contato com elementos indígenas e africanos. É ainda
fortemente ligado ao Brasil agrário, marcando o ciclo inicial da colheita do
milho, as rogações contra a seca e desdobra-se em celebrações da vida: prendas,
danças, namoros e simpatias fazem parte das festas; além de comidas típicas −
como castanha, batata-doce, milho, mandioca e pinhão − e bebidas − como
quentão, feito a partir das raízes de gengibre aferventadas com cachaça.
Santo Antônio
Santo Antônio nasceu em Lisboa,
no dia 15 de agosto de 1195, e morreu em Pádua, Itália, em 13 de junho de 1231.
Franciscano, a ele se atribuem centenas de milagres, como o da aparição do
Menino Jesus em seu colo, durante um sermão que fazia na casa de um conde
(milagre reproduzido em suas imagens), e o do sermão aos peixes do mar, que o
escutaram com atenção.
Um dos milagres mais famosos
atribuído ao santo é o de ter consolado uma jovem que, em virtude da pobreza,
não conseguia casar, já que a família não tinha condições de preparar a festa,
pagar o dote e o enxoval necessários. Frei Antônio a abençoou e, em poucos
dias, a moça recebeu doações inesperadas e conseguiu se casar. Antônio passou a
ter, então, a fama de arranjar casamentos.
Curiosidade
Nas festas juninas era muito
comum que moças casadoiras fizessem promessas ao santo para conseguir a felicidade
matrimonial. São conhecidas, na tradição popular, as famosas “negociações com o
santo”. Enquanto Santo Antônio não arruma o casamento, a imagem é submetida a
castigos: é colocada atrás da porta, junto ao fogo, molhada de cabeça para
baixo em um poço etc. Era hábito comum que nas festas juninas do interior as
moças solteiras jogassem nas fogueiras bilhetes para Santo Antônio, com pedidos
de sorte no amor. Tais hábitos expressavam costumes de sociedades patriarcais,
profundamente machistas, em que as mulheres eram vistas como destinadas ao
casamento.
São João
A tradição cristã afirma que São
João batizou Jesus Cristo nas águas do rio Jordão, sendo por isso conhecido
como Batista. Seria filho de Isabel, prima de Maria, a mãe de Jesus. Seu culto,
introduzido pelos portugueses, é muito forte no Nordeste, onde é evocado com
símbolos como a fogueira e o mastro.
A tradição do cristianismo
popular conta que Isabel e Maria estavam grávidas na mesma época. Com
dificuldades de locomoção, combinaram que aquela que tivesse o filho primeiro
mandaria acender uma fogueira para avisar da boa nova. Isabel mandou, então, que se acendesse uma
grande fogueira no dia 24 de junho, quando nasceu João.
Curiosidade
Há quem pense que todas as
fogueiras juninas são iguais, mas elas não são. O mito da fogueira foi
certamente uma maneira que o cristianismo encontrou de redefinir os ritos do
fogo que marcavam o solstício nas festas da colheita herdadas do paganismo,
durante a Idade Média. Na tradição popular, as fogueiras juninas devem ser
feitas de formas diferentes: a de São João deve ter base arredondada, a de Santo
Antônio deve ser quadrada, e a de São Pedro, triangular.
São Pedro
Apóstolo de Cristo e primeiro
papa, São Pedro é o chaveiro do céu, vinculado na tradição popular às chuvas, e
padroeiro dos pescadores, função que exercia no mar da Galileia. Sua festa, no
dia 29 de junho, encerra o ciclo junino; aquele que só encontra similar no povo
brasileiro, em força e amplitude, nas celebrações do Carnaval e no ciclo da
Natividade de Jesus Cristo.
Curiosidade
O Dia dos Namorados foi criado no
Brasil na década de 1940, a
partir da iniciativa de empresários paulistas que pretendiam estimular o
comércio. Na tradição anglo-saxã a festa dos namorados é comemorada em 14 de
fevereiro, dia consagrado a São Valentim, de culto pouco difundido entre nós.
Escolheu-se para a celebração brasileira o dia 12 de junho, véspera do dia de
Santo Antônio. Já que o namoro, dizia-se à época, é a véspera do casamento,
nada mais coerente que comemorar o Dia dos Namorados na véspera do dia do santo
casamenteiro.
É de dar água na boca
O arroz-doce é um prato típico do
Norte de Portugal que fez estrondoso sucesso aqui, sendo largamente vendido nos
mercados e feiras. Popularizou-se como uma comida típica de festas juninas. Em
Portugal chamavam iguaria de arroz de festa, por ser uma espécie de presença
fundamental nas festividades do ciclo religioso da terrinha. Faltava de tudo,
menos arroz-doce. Vem daí o uso da expressão “arroz de festa” para designar as
pessoas que não perdem uma festança. No Brasil é comum que o arroz-doce seja
incrementado de várias maneiras. Uma das receitas mais famosa inclui casca de
limão e, para perfumar, canela e essência de flor de laranjeira.
(Do livro “Almanaque
de Brasilidades −
Um inventário do Brasil popular”,
Um inventário do Brasil popular”,
de Luiz Antônio
Simas)
Santo Antônio nasceu em Lisboa,
ResponderExcluirAchei que era Italiano.
Gostei de saber.
Em Portugal e no Brasil, chamam-no Santo Antônio de Lisboa, lugar onde nasceu; na Itália, chamam-no de Santo Antônio de Pádua, lugar onde morreu.
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