A capa do livro de
memórias Ernesto Geisel*
Neste
texto, não iremos emitir qualquer conceito político, só iremos transcrever
algumas partes do livro de memórias de ex-presidente do Regime Militar, Ernesto
Geisel, que governou o Brasil de 1974
a 1979.
O
regime militar ficou no poder no Brasil de 31 de março de 1964 – 15 de
março de 1985.
O
general Ernesto Geisel (Bento Gonçalves, RS, 3 de agosto de 1907 – Rio de
Janeiro, 12 de setembro de 1996), deu uma longa entrevista gravada à Maria
Celina D′Araújo, doutora em ciência política pela Luperj, pesquisadora do
CPDOC/FGV e professora de ciência política da UFF, e a Celso Castro, doutor em
antropologia social pelo Museu Nacional/UFRJ e pesquisador do CPDOC/FGV.
O
livro foi lançado em 1997, um ano após a morte de Ernesto Geisel, a pedido
dele.
Ao
longo de muitas horas de entrevista ao CPDOC, Geisel narrou sua história:
infância, formação intelectual e profissional, funções na administração pública
e experiência no Exército. A parte central da entrevista refere-se a sua
participação no regime militar, principalmente durante o período em que ocupou
a presidência da República.
A
parte que irá ser transcrita é a que se refere a uma pessoa que está em
evidência no cenário político atual no Brasil.
Pergunta:
Dentro da doutrina da ESG (Escola
Superior de Guerra), como fica a relação dos militares com a política?
Resposta
de Geisel:
(...)
Quanto
ao fato de muitos políticos baterem na porta do quartel, devo dizer que isso
sempre existiu. Vocês não conhecem a história do Castelo? (Branco) Quando os
políticos começavam a aliciar, a sondar os militares, ele vinha com a história
das “vivandeiras batendo nos portões dos quartéis”.* As vivandeiras eram as
mulheres que acompanhavam o Exército na Guerra do Paraguai, eram as lavadeiras,
as que viviam ali por perto da tropa. Castelo dizia que os políticos eram as
vivandeiras porque toda vez que o político começa a se exacerbar nas suas
ambições ele logo imagina a revolução. E a revolução é feita pelas Forças
Armadas. Por isso ele vai bater na porta do quartel, vai procurar seduzir o
militar. Neste momento em que estamos aqui conversando, há muitos dizendo:
“Temos que dar um golpe! Temos que derrubar o presidente! Temos que voltar à
ditadura militar!” E não é só o Bolsonaro, não! Tem muita gente no meio civil
que está pensando assim. Quantos vêm falar comigo, me amolar com esse negócio:
“Quando é que o Exército vai dar o golpe? O senhor tem que agir, é preciso
voltar!” São as vivandeiras!*
*Este trecho do depoimento foi concedido em
28 de julho de 1993, durante o governo de Itamar Franco. Jair Bolsonaro,
ex-militar, era deputado federal pelo Rio de Janeiro.
(...)
É
sempre a política entrando no Exército. Isso e mais ou menos tradicional. Tenho
a impressão de que, à medida que o país se desenvolve, essa interferência vai
diminuindo. Presentemente, o que há de militares no Congresso? Não contemos o
Bolsonaro, porque o Bolsonaro é um caso completamente fora do normal, inclusive
um mau militar. Mas o que há de militar no Congresso? Acho que não há mais
ninguém. Minha opinião é que, à medida que o tempo passa, essa ingerência vai
diluindo e desaparecendo. Tem raízes históricas, mas agora, com a evolução, vai
acabar.
*O general Ernesto Geisel foi o responsável pela abertura democrática lenta, gradual e segura.
P.S. Entrar numa ditadura até que é fácil, sair dela demora quase 20 anos...
(Uma ditadura)... Requer prender um monte de gente, cassar outras tantas. Se houver resistência, torturar e matar. Também exige anular a Constituição e costurar todo um novo ordenamento jurídico, além de, nesse meio-tempo, enfrentar o opróbrio de países antes aliados e instituições internacionais.
*O general Ernesto Geisel foi o responsável pela abertura democrática lenta, gradual e segura.
P.S. Entrar numa ditadura até que é fácil, sair dela demora quase 20 anos...
(Uma ditadura)... Requer prender um monte de gente, cassar outras tantas. Se houver resistência, torturar e matar. Também exige anular a Constituição e costurar todo um novo ordenamento jurídico, além de, nesse meio-tempo, enfrentar o opróbrio de países antes aliados e instituições internacionais.
(Roberto Pompeu de Toledo, revista Veja, abril de 2020.)
Xerox da página 112
Xerox da página 113
P.S. A frase de Castelo Branco:
“Eu os identifico a todos. E são muitos
deles, os mesmos que, desde 1930, como vivandeiras alvoroçadas, vêm aos
bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar”.
Vivandeira: Mulher que vende ou
leva mantimentos, seguindo tropas em marcha. Político
que costumeiramente procura tumultuar a situação política.
Alvoroçada: Em estado de agitação; inquieta, sobressaltada.
Bivaque: Estacionamento provisório de tropas, a céu aberto, protegidas
ou não por barracas etc., ou sob algum tipo de abrigo natural como árvores.
Bulir: Mexer.
Granadeiro: Soldado especializado no lançamento de granadas.
Extravagância: Qualidade de
extravagante; ação que escapa às normas usuais do bom senso, do equilíbrio
emocional, do bom gosto.
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