Mônica Salgado
De ir a reuniões que poderiam
tranquilamente ser resolvidas num e-mail.
De
esmurrar a direção do carro e gritar “Trânsito dos infernos!” (não fazem isso?
Ops. Não, eu também não faço, foi a amiga da tia da minha prima que contou que
sua vizinha faz).
De
usar roupas de verdade.
De,
querendo se livrar de uma ligação, usar a milenar desculpa “tenho que desligar,
preciso correr aqui!”.
De
ficar enrolando em casa, esperando a hora de se atrasar para um compromisso.
De
ficar confinada o fim de semana em casa. Vo-lun -ta-ri-a-men-te.
Das
tretas que rolam nos almoços de família (tudo bem, elas migraram para o
WhatsApp, mas não têm, a mesma emoção do ao vivo).
De
dizer “tchau, filho, boa aula” ao deixar o pequeno na escola.
De
qualquer coisa envolvendo “deixar o pequeno na escola”.
Da
escola como um todo. Com toda a força do seu ser. Escorreu uma lágrima aqui, um
minuto para eu me recompor, com licença, obrigada.
De
quando o fato de ser segunda, sábado, domingo ou feriado fazia alguma
diferença.
De
postar um look do dia exibido ou uma selfie desnecessária só porque você se
achou muito gata e não ser tachada de insensível.
De
quando uma agenda lo-ta-da de compromissos não era sinônimo de ir à farmácia e
ao supermercado no mesmo dia.
De
quando a gente usava álcool gel só quando ia visitar bebê recém-nascido.
De
desmarcar o happy hour com as amigas em cima da hora porque você está exausta e
não aguenta mais ver gente.
De
consumir álcool modestamente.
De
ficar irritada porque os dois aparelhos de escada da academia sempre estão
ocupados.
De
ter que ir (ênfase no “ter que ir”) de 15 em 15 dias no cabeleireiro cobrir os
brancos.
De
dar aquela bufadinha quando a manicure tira um bife do seu dedão.
Ah,
manicure, que saudade que chega a doer.
De
Amor de Mãe.
Da
sua conta bancária no azul.
De
quando você não sabia de cor o menu da Netflix.
De
quando você não clicava sem querer nas notificações de Live do Insta, porque
mal havia lives...
E
também de abraços, de boas notícias na imprensa, de otimismo, de fazer planos.
Saudade
de tudo o que a gente ainda não viveu.
*****
(Do caderno Donna, de Zero Hora, maio de 2020)
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