O dia em que quase ganhei uma calcinha
Túlio Milman
Talvez
eu já tenha contado essa história, mas, conforme expliquei acima, repetir não é
pecado. Ainda mais quando a história é boa.
No
começo da carreira, eu era interino do Rogério Mendelski no Gaúcha Hoje, apresentado atualmente com
brilhantismo pelo Macedão*. Eu, guri, queria impressionar. O Rogério tirava
férias entre Natal, Ano-Novo e Carnaval. E lá ia eu, bem feliz, noite fechada
ainda, aproveitar a oportunidade de mostrar serviço.
O
locutor que acompanhava o programa no estúdio era o Flávio Martins, dono de uma
voz aveludada e de uma personalidade tranquila e reservada. Um baita colega,
que me ajudou muito lá atrás. Era cedo, antes das 6h, hora de mais um break comercial.
O Flávio pegou a pastinha e começou a ler, com aquela voz grave e imponente.
“Você quer passar um Natal inesquecível?”. E eu, ligadíssimo, achei que poderia
contribuir e valorizar a mensagem do cliente. “Claro, Flávio, quero sim”,
emendei, de improviso, na pausa da respiração dele.
Fez-se
um silêncio.
O
Flávio olhava para a pasta e para mim, atônito.
Vi
que ele, sempre reservado e quieto, mudou a fisionomia. Segurando o estouro na
gargalhada, seguiu lendo a propaganda. “Se você quer passar um Natal
inesquecível, vá a uma de nossas lojas e ganhe, nas compras acima de R$ 100,
uma linda calcinha nova para passar o Ano-Novo”.
O
operador cortou o áudio do estúdio e colocou os comerciais gravados, enquanto
nos dobrávamos de rir sobre a mesa.
Nós
e, imagino, os ouvintes também.
(No jornal Zero Hora, maio de 2020)
*Antônio Carlos Macedo,
radialista da RBS.
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