domingo, 17 de maio de 2020

Uma historinha do rádio gaúcho

O dia em que quase ganhei uma calcinha

Túlio Milman


Talvez eu já tenha contado essa história, mas, conforme expliquei acima, repetir não é pecado. Ainda mais quando a história é boa.

No começo da carreira, eu era interino do Rogério Mendelski no Gaúcha Hoje, apresentado atualmente com brilhantismo pelo Macedão*. Eu, guri, queria impressionar. O Rogério tirava férias entre Natal, Ano-Novo e Carnaval. E lá ia eu, bem feliz, noite fechada ainda, aproveitar a oportunidade de mostrar serviço.

O locutor que acompanhava o programa no estúdio era o Flávio Martins, dono de uma voz aveludada e de uma personalidade tranquila e reservada. Um baita colega, que me ajudou muito lá atrás. Era cedo, antes das 6h, hora de mais um break comercial. O Flávio pegou a pastinha e começou a ler, com aquela voz grave e imponente. “Você quer passar um Natal inesquecível?”. E eu, ligadíssimo, achei que poderia contribuir e valorizar a mensagem do cliente. “Claro, Flávio, quero sim”, emendei, de improviso, na pausa da respiração dele.

Fez-se um silêncio.

O Flávio olhava para a pasta e para mim, atônito.

Vi que ele, sempre reservado e quieto, mudou a fisionomia. Segurando o estouro na gargalhada, seguiu lendo a propaganda. “Se você quer passar um Natal inesquecível, vá a uma de nossas lojas e ganhe, nas compras acima de R$ 100, uma linda calcinha nova para passar o Ano-Novo”.

O operador cortou o áudio do estúdio e colocou os comerciais gravados, enquanto nos dobrávamos de rir sobre a mesa.

Nós e, imagino, os ouvintes também.

(No jornal Zero Hora, maio de 2020)

*Antônio Carlos Macedo, radialista da RBS.


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