O ritual é o mesmo em todos os cantos do Brasil. Junto ao vacinador, a pessoa a ser imunizada levanta a manga da camisa, deixa exposto o braço e, então, recebe a vacina contra o coronavírus. O fato de essa parte do corpo ter sido escolhida para receber a picada não é à toa. Está calcada em motivações técnicas e de logística.
Estudo publicado na revista científica da Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA indica que a dosagem na área do músculo deltoide, que faz parte da articulação do ombro e fica um pouco abaixo dele, “otimiza a imunogenicidade da vacina”. Ou seja, auxilia no aumento da velocidade de resposta imunológica do corpo, explica Luciano Goldani, infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA):
− No braço, temos o músculo deltoide. Ele é muito vascularizado, ou seja, é bastante irrigado, tem muito sangue circulando. Além disso, esse músculo tem alta concentração de células dendríticas, que são as responsáveis por apresentar o antígeno da vacina ao organismo e para que o corpo crie resposta imune ao invasor. Essas células dissipam com mais facilidade o antígeno na corrente sanguínea por meio da circulação, e isso torna a resposta do corpo mais rápida.
Praticidade
Paulo Petry, professor de Epidemiologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ressalta que outras partes do corpo, como o glúteo e a coxa, poderiam ser alvo da imunização. Contudo, esses locais não apresentam a praticidade de logística do braço:
− Seria bem mais difícil implementar um drive-thru de vacinação se fosse aplicada no glúteo. Além disso, essa região é menos vascularizada e tem muito tecido adiposo (de gordura). Obviamente, não há contraindicação à vacinação nesse local, tanto que imunizamos crianças assim. Mas o fazemos desse modo porque elas não têm músculo no braço.
Goldani diz que a imunização intramuscular, além de ajudar a espalhar o antígeno pelo corpo, causa menos reações adversas de dor e desconforto, quando comparada com a subcutânea.
(Do jornal Zero Hora, maio de 2021)
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