(Vilcapampa)
A 24 de julho de 1911, um
destemido arqueólogo norte-americano, Hiram Bingham*, fez uma descoberta
extraordinária, no topo de um precipício, sobre um rio impetuoso. À procura da
última capital inca, ele acabou descobrindo a Cidade Perdida dos incas, hoje
chamada de Machu Picchu (“velha montanha”), mas outrora conhecida como
Vilcapampa, um centro do culto ao Sol. Bingham viu um conjunto espantoso de
templos, palácios, praças e escadarias, uma cidade com estruturas de granito
branco, de beleza incomparável, construída com uma maestria excepcional. Um
pouco distante, havia centenas de terraços escorados com pedras, onde se
plantavam as colheitas para alimentar os habitantes desse espetacular santuário
de pedra. Era ali que viviam os imperadores e nobres incas, os sacerdotes do
Sol e as mulheres Escolhidas ou Virgens do Sol, um grupo de mulheres treinadas
desde a infância para ajudar nos rituais religiosos, escolhidas por sua beleza.
Os visitantes autorizados a ingressar nos recintos sagrados tinham que se
submeter aos rituais de purificação e tirar as sandálias, como um sinal de
humildade. Os visitantes não autorizados eram barrados fisicamente pelas altas
muralhas e psicologicamente pela ameaça de morte.
Foi em Vilcapampa que os últimos
imperadores incas encontraram refúgio, ameaçados que estavam pelos
conquistadores espanhóis, no século XVI. Foi ali que o primeiro inca, Manco, o
Grande (cerca de 1200), construiu um templo memorial, com três imensas janelas
dando para o Sol nascente. Outras construções importantes são o Templo
Principal e o Templo Semicircular, reverenciado por ser o local de sepultamento
dos imperadores. Sua muralha exterior, com uma suave inclinação, serviu de
modelo para o famoso Templo do Sol, em Cuzco. Os incas reverenciavam e procuravam
apaziguar o deus-sol, embora também venerassem a Lua, as estrelas, o trovão e o
relâmpago. No alto dos Andes, sobre o platô peruano, a atmosfera rarefeita não
retém calor do Sol e as noites são terrivelmente frias. Não havia qualquer
garantia de que o Sol voltaria de sua jornada para o norte anual. O medo era
mais intenso por ocasião do solstício de inverno, a 21 ou 22 de junho.
Somente os sacerdotes podiam
impedir a fuga do Sol. E eles o faziam prendendo um gigantesco disco de ouro,
representando o Sol, a um pilar de pedra chamado de Intihuatama, “o lugar em que o Sol está preso” ou, de uma forma
mais coloquial, “o pilar de amarrar o Sol”. Os espanhóis tinham o hábito de
destruir tais estruturas, mas jamais chegaram à de Machu Picchu, que continua
intacta. Podemos imaginar as procissões cerimoniais dos sacerdotes e Virgens do
Sol, subindo pelas imensas escadarias brancas de granito, até o Intihuatama. Os sacerdotes erguiam os
braços para o Sol nascente e atiravam-lhe beijos, como um ato de reverência.
Quando a dinastia inca terminou,
em 1572, a
cidade foi sendo gradativamente abandonada. Permaneceu ignorada da civilização,
devido a sua localização remota e quase incessível. Machu Picchu é hoje um lugar
santo. Os turistas chegam até a região de trem, depois pegam um ônibus para
fazerem o percurso de oito quilômetros da Rodovia HIram Bingham. E deparam com
uma vista espetacular. Cercadas por encostas de uma altura estonteante, sentem toda
a magnitude do que ali está. Contemplando a grandiosidade e a serenidade de
Machu Picchu, não há quem deixe de se emocionar e pensar nos mistérios do
passado.
Do “Almanaque Para
Todos Irving Wallace & David
Wallechinsky”,
Parte 1
* Hiram Bingham não era
arqueólogo. Nem havia praticado arqueologia antes. Ele era um explorador que
estava fascinado com a história da América Latina.
Sua obsessão por esse território
foi consolidada em 1908, quando viajou a Santiago do Chile para participar do
Congresso Científico Pan-americano. Em seu retorno aos Estados Unidos, ele
parou em Lima, onde foi convencido a visitar a cidade de Choquequirao.
Bingham tinha o espírito de um
explorador e estava obcecado com a possibilidade de encontrar antigas cidades
Inca inexploradas. Assim, em 1911 ele fez sua primeira viagem ao Peru com o
objetivo de descobrir a última capital do Império Inca.
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