segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Macchu Picchu

(Vilcapampa)



A 24 de julho de 1911, um destemido arqueólogo norte-americano, Hiram Bingham*, fez uma descoberta extraordinária, no topo de um precipício, sobre um rio impetuoso. À procura da última capital inca, ele acabou descobrindo a Cidade Perdida dos incas, hoje chamada de Machu Picchu (“velha montanha”), mas outrora conhecida como Vilcapampa, um centro do culto ao Sol. Bingham viu um conjunto espantoso de templos, palácios, praças e escadarias, uma cidade com estruturas de granito branco, de beleza incomparável, construída com uma maestria excepcional. Um pouco distante, havia centenas de terraços escorados com pedras, onde se plantavam as colheitas para alimentar os habitantes desse espetacular santuário de pedra. Era ali que viviam os imperadores e nobres incas, os sacerdotes do Sol e as mulheres Escolhidas ou Virgens do Sol, um grupo de mulheres treinadas desde a infância para ajudar nos rituais religiosos, escolhidas por sua beleza. Os visitantes autorizados a ingressar nos recintos sagrados tinham que se submeter aos rituais de purificação e tirar as sandálias, como um sinal de humildade. Os visitantes não autorizados eram barrados fisicamente pelas altas muralhas e psicologicamente pela ameaça de morte.


Foi em Vilcapampa que os últimos imperadores incas encontraram refúgio, ameaçados que estavam pelos conquistadores espanhóis, no século XVI. Foi ali que o primeiro inca, Manco, o Grande (cerca de 1200), construiu um templo memorial, com três imensas janelas dando para o Sol nascente. Outras construções importantes são o Templo Principal e o Templo Semicircular, reverenciado por ser o local de sepultamento dos imperadores. Sua muralha exterior, com uma suave inclinação, serviu de modelo para o famoso Templo do Sol, em Cuzco. Os incas reverenciavam e procuravam apaziguar o deus-sol, embora também venerassem a Lua, as estrelas, o trovão e o relâmpago. No alto dos Andes, sobre o platô peruano, a atmosfera rarefeita não retém calor do Sol e as noites são terrivelmente frias. Não havia qualquer garantia de que o Sol voltaria de sua jornada para o norte anual. O medo era mais intenso por ocasião do solstício de inverno, a 21 ou 22 de junho. 


Somente os sacerdotes podiam impedir a fuga do Sol. E eles o faziam prendendo um gigantesco disco de ouro, representando o Sol, a um pilar de pedra chamado de Intihuatama, “o lugar em que o Sol está preso” ou, de uma forma mais coloquial, “o pilar de amarrar o Sol”. Os espanhóis tinham o hábito de destruir tais estruturas, mas jamais chegaram à de Machu Picchu, que continua intacta. Podemos imaginar as procissões cerimoniais dos sacerdotes e Virgens do Sol, subindo pelas imensas escadarias brancas de granito, até o Intihuatama. Os sacerdotes erguiam os braços para o Sol nascente e atiravam-lhe beijos, como um ato de reverência.

Quando a dinastia inca terminou, em 1572, a cidade foi sendo gradativamente abandonada. Permaneceu ignorada da civilização, devido a sua localização remota e quase incessível. Machu Picchu é hoje um lugar santo. Os turistas chegam até a região de trem, depois pegam um ônibus para fazerem o percurso de oito quilômetros da Rodovia HIram Bingham. E deparam com uma vista espetacular. Cercadas por encostas de uma altura estonteante, sentem toda a magnitude do que ali está. Contemplando a grandiosidade e a serenidade de Machu Picchu, não há quem deixe de se emocionar e pensar nos mistérios do passado.

Do “Almanaque Para Todos Irving Wallace & David Wallechinsky”, 
Parte 1


* Hiram Bingham não era arqueólogo. Nem havia praticado arqueologia antes. Ele era um explorador que estava fascinado com a história da América Latina.

Sua obsessão por esse território foi consolidada em 1908, quando viajou a Santiago do Chile para participar do Congresso Científico Pan-americano. Em seu retorno aos Estados Unidos, ele parou em Lima, onde foi convencido a visitar a cidade de Choquequirao.

Bingham tinha o espírito de um explorador e estava obcecado com a possibilidade de encontrar antigas cidades Inca inexploradas. Assim, em 1911 ele fez sua primeira viagem ao Peru com o objetivo de descobrir a última capital do Império Inca. 

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