Maria remexe nos seus guardados e
encontra uma velha foto em que ela e seu ex-amor dançam. Ele está falando algo
que parece ser: − Te amo, Maria. Vê-lo outra vez a desconcerta e ela acaba
fazendo o que fazem os bêbados da madrugada: Liga para ele, mas ele não atende.
A ligação cai na secretária eletrônica. Ela, ofegante, faz confissões confusas
de paixão desfeita, desliga e pensa que será engraçado, se ele tiver outra
mulher. Então, recorda-se do amargo da separação, quando prometeu que nunca
mais o beijaria. Seus olhos, que ainda fitam a foto, começam a marejar e ela
tenta lembrar que música dançavam naquela noite. Supõe que era um bolero, em
dezembro dourado e louco. Agora chorando, Maria conclui que ainda o ama, mas,
como havia prometido, sabe que nunca mais o beijará. Nunca mais.
De uma crônica de
David Coimbra: “Anos dourados e outro nem tanto”,
no jornal Zero Hora, agosto de 2019
Outra versão
Outra versão
Uma mulher, de nome Maria, mexendo
numa gaveta de sua casa, descobre antigas fotografias de sua mocidade. Agora,
depois de longo tempo, detém-se numa em especial. Ela está
dançando com um jovem muito bonito, alinhado num lindo terno de linho branco.
Ele a olha embevecido. Ela, vendo melhor a foto, percebe coisas nunca havia
notado antes, como perceber o olhar do rapaz que lhe parece dizer: “Te amo,
Maria”. Nota, ainda, que estão felizes pelo olhar de um para o outro. O mês
parece que era dezembro... A música parece que era um bolero...
Ela, pela emoção do sentimento
inesperado que brota espontâneo do coração, liga emocionada para o telefone do
antigo amor, deixando um recado para ele na secretária eletrônica, notando, com
graça, que ele pode até estar amando outra mulher.
Começa a se imaginar ao lado do seu
antigo amor, e percebe que ainda o ama. Pelo tempo longe um do outro. Chora de
tristeza, mas sabe que os anos do namoro da juventude foram anos dourados, sabe
que os beijos do antigo namoro nunca mais serão novamente dados. É a vida que
segue...
(NSM)
Anos dourados
1986
Antonio Carlos Jobim
e Chico Buarque de Holanda
Parece que dizes:
Te amo, Maria.*
Na fotografia,
Estamos felizes.
Te ligo afobada
E deixo confissões
No gravador.
Vai ser engraçado,
Se tens um novo amor.
Me vejo a teu lado,
Te amo?
Não lembro...
Parece dezembro,
De um ano dourado.
Parece bolero,
Te quero, te quero.
Dizer que não quero
Teus beijos nunca mais,
Teus beijos nunca mais.
Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato.
No nosso retrato,
Pareço tão linda.
Te ligo ofegante
E digo confusões
No gravador.
É desconcertante
Rever um grande amor.
Meus olhos molhados,
Insanos dezembros,
Mas quando eu me lembro,
São anos dourados.
Ainda te quero,
Bolero,
Nossos versos são banais.
Mas como eu espero
Teus beijos nunca mais,
Teus beijos nunca mais.
*A gravação original da série “Anos Dourados” foi feita para ser cantada por
Maria Bethânia.
P.S. A gravação dessa música está na internet na voz de
Chico Buarque.
ResponderExcluirQue Bonito...