terça-feira, 13 de agosto de 2019

Samba de Resistência



Sonho estranho*

Moacyr Luz e Chico Alves

Sonhei que despertei,
E me dei conta que acordei
Noutro país.
Onde as pessoas tinham balas de fuzis,
E o povo andava sem razão pra ser feliz
Era um país fora da lei,
Sem diretriz,
Embarcação sem direção,
Tentando, em vão,
Colher a paz plantando a guerra.

Confesso que senti
Muita saudade do lugar onde aprendi
A caminhar com as pernas tortas de Mané,
E respeitar que cada um tem sua fé,
A me encantar com a negra voz de Mãe Quelé,
E pelas doces mãos de Cosme e Damião,
Levar Jesus ao Candomblé.

Nesse sonho ruim que eu me via
Nem a poesia falava por nós.
Tantos versos sem ter poesia
Canção não havia
Ninguém tinha voz.
E pisando meus pés no espinho
Cantava baixinho Nelson Cavaquinho,
O Sol vai brilhar outra vez,
Tirando a dor do caminho.

Agora eu já não sei
Se foi quimera ou foi real
O que sonhei.
Se ainda estou noutro lugar ou se voltei,
À velha pátria, mãe gentil,
Onde eu nasci,
Ou se ela, enfim, se transformou no que tá aí,
Ando com medo de acordar nesse Brasil

Do sonho estranho que vivi.

* “Sonho Estranho” é o Samba de Resistência para os tempos atuais. A melodia expressa as angústias e mudanças políticas que o nosso país vive hoje. O single, fruto da parceria entre Moacyr LuzSamba do Trabalhador e Chico Alves está disponível nas plataformas digitais.

“Já faz um tempo que observo preocupado a transformação das pessoas no Brasil. De gentis a hostis, de calmos a raivosos. Percebo que o país está mudando, especialmente nos posicionamentos políticos, embora respeite democraticamente todas as opiniões. Vejo uma ceifa passando por cima do pensamento cultural. O artista sendo patrulhado. Isso tudo vem martelando minha cabeça de compositor. Até que em uma noite, transformei este sentimento em samba. Convidei meu parceiro Chico Alves, que compartilha este sentimento de angústia com o Brasil atual, para fazer a letra. Esta é uma música para que as pessoas possam exorcizar um pouco tanto ódio, falta de solidariedade e intolerância. Acredito que boa parte das pessoas se reconheça nos versos e na melodia deste samba.” conta Moacyr.

P.S. Está música, com vários intérpretes, está na internet.

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