sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Poemas de Gevaldino Ferreira

Chuvinha Serena e Mansa


Que boa que és, chuvinha!
Chuvinha serena e mansa
caindo assim levezinha,
reverdecendo a campina,
molhando o pelo do gado
batendo no meu telhado,
trazendo um pouco de frio.
Trazendo sono às crianças,
trazendo alegria ao rio.
Chuvinha que foi neblina,
que depois virou garoa;
chuvinha serena e fina,
chuvinha serena e boa
que veio do céu cantando,
deixando o campo molhado,
germinando as sementeiras,
deixando o mato contente;
molhando a palha nas eiras,
molhando a terra e o arado,
molhando tudo, molhando,
molhando a alma da gente.

Gevaldino Ferreira (RS, 1912 − ? ) Poeta, carreteiro, tropeiro de gado, jornalista, crítico, técnico rural, fitopatologista, chefe do Laboratório Bromatológico do Rio Grande do Sul Flores da Cunha, diretor do ensino no Senai de Porto Alegre, membro da Academia Sul-Rio-Grandense de Letras e da Estância da Poesia Crioula.

Fumando*


Um certo dia, por curiosidade,
Bem sem malícia, e que inda em mim persiste,
Com gesto pleno de simplicidade,
Falei a um poeta que fumava, triste:

− Dize-me, ó poeta, que mistério existe
No cigarro, que tragas com vontade?
Sempre que o pões à boca ficas triste,
E triste fazes versos de saudade...

O poeta olhou, sorriu, foi respondendo:
− Ah! Se tu visses o que eu estou vendo,
Talvez fumasses mais do que eu fumei.

Nessa fumaça que se vai espalhando,
Eu vejo a pouco e pouco se formando
A imagem da mulher que mais amei.


*Um dos poemas prediletos do falecido colunista da RBS Paulo Santana.

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