sábado, 19 de outubro de 2019

O primeiro diretor da Escola Normal


Joaquim Cacique de Barros

Joaquim de Barros nasceu em Salvador (Bahia), a 18 de agosto de 1831, de respeitável e conhecida família daquele estado. Filho de Raymundo de Barros e de Dª Alexandrina Rosa de Barros, tinha duas irmãs.

Depois de completar o curso de Preparatórios, entrou para o Seminário Episcopal da diocese baiana, onde concluiu brilhantemente o curso de Teologia. Porém, não tinha idade para ser ordenado. Começou, então, a lecionar História, Geografia e Cosmografia no Ginásio Baiano.

Em 1853, com 22 anos de idade, foi ordenado, mas tendo a saúde alterada, procurou outro lugar para viver. Partiu para o Rio de Janeiro onde lecionou no Colégio Pedro II e no Mosteiro de São Bento, e, ao mesmo tempo, concluiu o curso de Matemática na Escola Central.

Novamente sua saúde mostrou-se abalada e ele veio para o Rio Grande do Sul em 1862, em busca de um clima melhor. Ficou instalado no Palácio Episcopal e logo foi nomeado professor de Teologia no Seminário São Feliciano.

O bispo D. Sebastião Dias Laranjeira costumava distribuir esmolas aos pobres todos os sábados, e o Padre Cacique, numa dessas ocasiões, observou uma menina muito frágil, de aspecto doentio que, com sua mãe inválida, ali fora receber esmola. Nesse momento teve uma inspiração: veio-lhe à mente a ideia de fundar um asilo para acolher meninas órfãs e desamparadas.

Esta foi a origem do Colégio de Santa Teresa, que iria absorver o tempo, as energias e toda a dedicação do Padre Cacique, em foto abaixo do busto em sua homenagem.


Um pedido comovente

Pesquisando a respeito da Instituição Pública no RS encontrei, na relação de formandos das primeiras turmas da Escola Normal, várias alunas-mestras como sobrenome “de Barros”. Talvez fossem da mesma família, pensei. Irmãs? Primas? E certo dia apareceu a explicação, pois um dos biógrafos do Padre Cacique conta-nos que, sabendo as educandas do Colégio de Santa Teresa o quanto o Padre Cacique respeitava os dias sagrados da Paixão, reuniram-se em uma Sexta-feira Santa e apresentaram-lhe, por escrito, um pedido: permissão para chamarem-no de Pai e para juntar a seus nomes o sobrenome dele − “De Barros”.

Comovido em extremo, o sensível sacerdote abraçou-as chorando ao vê-las e, em só movimento, todas beijaram sua mão caritativa. Desde essa ocasião − uma das mais felizes de sua vida − abençoava-as com decidido amor, como se a natureza o tivesse agraciado, fazendo-o patriarca daquela numerosa prole.

Por Regina Portella Schneider*
no Correio do Povo, outubro de 2019.

*Historiadora, ex-aluna e ex-professora do Instituto de Educação Flores da Cunha.


Colégio Santa Teresa

O Conjunto Arquitetônico da Fase é parte do complexo criado pelo Padre Cacique em prol dos menos favorecidos no séc. XIX.

O tombamento do conjunto arquitetônico da FASE (Fundação de Atendimento Sócio Educativo) inclui, além de uma área arborizada junto à Avenida Padre Cacique, os prédios: 1. Antigo Asilo São Joaquim, hoje sede administrativa da FASE; e 2. Antiga Escola Santa Teresa, foto acima, atual Centro de Atendimento Sócio-Educativo (CASE Padre Cacique).

A área tombada faz parte do complexo criado por Joaquim Cacique de Barros, o Padre Cacique, sendo um testemunho das ações realizadas em prol dos menos favorecidos iniciadas no século XIX. O Asilo Padre Cacique, também fundado pelo Padre, foi tombado pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre em 2007 e não faz parte do tombamento estadual.

A Escola Santa Teresa era uma escola para meninas, fundada por D. Pedro II como homenagem à Imperatriz Teresa Cristina. A edificação foi projetada pelo arquiteto francês Grandjean de Montigny, que havia chegado ao Brasil em 1816 com a Missão Artística Francesa, tornando-se o principal arquiteto do império até sua morte, em 1850, e um dos responsáveis pala difusão da arquitetura neoclássica no Brasil, contribuindo para o abandono das velhas soluções coloniais. O colégio foi um dos dois únicos prédios projetados por Montigny fora do Rio de Janeiro. A construção foi feita por etapas, tendo iniciado em 1846. Foi concluída apenas em 1864 pelo Padre Cacique, que se empenhou na conclusão das obras, inaugurando ali uma escola para meninas órfãs.

Dando continuidade a sua obra assistencial, em 1880 começou a erguer o prédio que abrigaria o Asilo de Mendicidade, atual Asilo Padre Cacique. Em 1898 a construção foi concluída, e o asilo aberto para receber os mendigos da cidade. Hoje se destina ao atendimento de idosos.

Ainda em vida, o padre registrou uma empresa jurídica, para que o trabalho assistencial iniciado por ele tivesse continuidade. Dessa forma foi criada a Sociedade Humanitária Padre Cacique, mantenedora do atual Asilo. Nesta ocasião a fundação possuía a Escola Santa Teresa – responsável pela educação de meninas órfãs – e o Asilo de Mendicidade. No entanto, o padre não conseguiu realizar em vida o asilo para meninos órfãos, e apenas em 1932, um ano após o centenário de seu nascimento, a fundação inaugurou o Asilo São Joaquim, destinado à educação de meninos. Com isso, realizou-se o sonho do padre: uma escola/orfanato para meninas, um asilo de mendicidade e uma escola/orfanato para meninos.

Ao longo das décadas de 1930 e 1940 a fundação teve dificuldades financeiras para manter ativas as três unidades assistenciais, já que o governo estadual estava reduzindo gradualmente suas doações para a fundação. Em 1945, a Escola Santa Teresa já não ocupava o prédio projetado por Grandjean de Montigny, e as meninas estavam alojadas no prédio do Asilo São Joaquim. Nesse momento, houve uma intervenção na instituição, sendo encampada pelo estado a área de 74 hectares que incluía os prédios, sob protestos da fundação e da sociedade gaúcha.

Em 1948 o local abrigava o SESME-RS – Serviço Social de Menores, que ocupou os prédios e começou uma reforma para adaptá-los à sua nova função. Após uma ação judicial ajuizada pela Sociedade Humanitária Padre Cacique, em 1949 o Governo do Estado devolveu ao impetrante apenas o prédio do Asilo de Mendicidade. Na década de sessenta, durante a intervenção militar, o complexo abrigou, além de menores, presos políticos. Com o fim do regime militar, o local voltou a atender somente menores abrigados pela extinta FEBEM (atual FASE), fato que se mantém até hoje.

As edificações existentes na área (fotos abaixo) foram alteradas em relação aos aspectos estéticos e técnicos, de maneira diferenciada. No prédio da Antiga Escola Santa Teresa, foram eliminadas as características originais das fachadas, como elementos decorativos e esquadrias, restando apenas as grossas paredes das alas originais, como um testemunho da técnica construtiva utilizada no século XIX. Quanto ao antigo asilo para meninos, apesar das alterações e acréscimos posteriores que descaracterizaram o prédio, ainda são reconhecíveis na fachada principal os elementos ornamentais ali presentes, constituindo um exemplo da arquitetura eclética produzida no estado no início do século XX.

Fonte: IPHAE.


Foto acima e abaixo, o que restou do conjunto arquitetônico.


Do blog ipatrimônio
patrimônio cultural brasileiro

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