segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Pegadinhas verbais

 Por Sérgio Nogueira

Quando você quiser deixar uma boa impressão com o uso das palavras, é melhor estar prevenido. O português muitas vezes nos prega peças. 

Chefe ordena à secretária: 

“Faça um cheque de R$ 600,00.” 

Ela pergunta: 

“Como se escreve 600?” 

Ele dá nova ordem: 

“Faça dois cheques de 300.” 

A secretária, preocupada, faz nova pergunta: 

“E 300 se escreve com ‘s’ ou com z?” 

O chefe, nervoso, grita: 

“Se não sabe escrever 300, faça quatro cheques de 150.” 

E a secretária, sempre zelosa pelo bom português, faz uma pergunta definitiva: 

“Chefe, o trema já foi abolido?” 

Vencido, só lhe resta uma saída: 

“Pelo amor de Deus, mande pagar em dinheiro!” 

Para não haver dúvida, é bom lembrar: seiscentos é com “sc”; trezentos se escreve com “z” e o trema foi abolido, portanto o correto é cinquenta.

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Você vem dirigindo o carro. O mapa indica o caminho da esquerda, mas, na bifurcação, você entra à direita. Alguns quilômetros à frente, descobre que está perdido. Desesperado, desce do carro e começa a gritar: 

Aonde estou? Aonde estou?” 

Além de não saber ler um mapa, também não sabe pedir socorro. Quem está, está “em” algum lugar. Portanto, se você já está em algum lugar, mesmo perdido e desesperado, grite em bom português: 

Onde estou? Onde estou?” 

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Responda rápido: 

“Você assiste o jogo ou ao jogo?” 

Quando leio num jornal que “cem mil pessoas foram assistir o jogo”, fico imaginando que “porcaria” de jogo foi esse. Afinal, foram cem mil pessoas para prestar assistência! Pior é o médico que assiste ao doente. É por isso que o paciente morre: o médico fica só olhando! Portanto, o certo é: 

“Assistir ao jogo” e “Assistir o doente”. 

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Se quiser, você pode “sentar na mesa”, mas está errado e é falta de educação. O que você pode realmente fazer é “sentar-se à mesa”. Você pode sentar-se na cadeira, mas com certeza deve sentar-se à mesa. 

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Quando encontro uma plaquinha anunciando “Concertam-se sapatos”, fico logo imaginando uma “sinfonia” de sapatos. Com certeza, antes dos sapatos, o nosso amigo deveria consertar a plaquinha: “Consertam-se sapatos”. É bom lembrar que concerto é “sinfônico, musical, orquestral...” e que consertar é “corrigir, reparar, retificar...” 

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Com frequência podemos observar em alguns restaurantes: “Hoje, cosido à portuguesa.” Nessas horas, costumo ficar imaginando um patrício lusitano “todo costurado” em cima da mesa. Não esqueça que um bom “cozido à portuguesa” só pode ser com “z”. Estou falando do cozido porque o português e a portuguesa serão escritos sempre com “s”. 

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Muita gente fala em crise de desemprego. Mas o que está em crise é o emprego e não o desemprego. O mesmo acontece com o famoso correr atrás do prejuízo. Isso é loucura! Corre-se atrás do lucro. Muitos afirmam que correm risco de vida Mas correm risco de morte. Pior ainda é essa mania de tirar a pressão. Se tirar a pressão, você morre. É melhor medir a pressão. 

Fato semelhante ocorreu com aquele aluno que escreveu na sua redação do concurso vestibular que adorava “surpresas inesperadas”. Ora, se não fosse inesperada, não haveria surpresa. Ele adora surpresas e ponto final. Isso me faz lembrar aquele marido “previdente” que teria escrito para a mulher antes de retornar de uma lona viagem: “Chegarei de surpresa na próxima sexta-feira, no voo da Varig das 22 horas.” 

Certa vez, encontrei num jornal a seguinte manchete: “Neste fim de semana houveram vários crimes na cidade.” Pensei: O primeiro foi contra a língua portuguesa. Por mais crimes que haja na cidade, o certo é “houve vários crimes”.

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