domingo, 21 de agosto de 2022

A mente de um nazista

 

Walter Charles Langer foi um psicólogo americano contratado pelo Escritório de Serviços Estratégicos, a OSS, órgão de inteligência dos Estados Unidos (antecessor da CIA). Os americanos queriam que fosse feito um estudo psicológico de Adolf Hitler, enquanto o ditador alemão ainda estava no poder. 

A partir de conversas com várias pessoas fora da Alemanha que haviam convivido com Hitler em diversas fases de sua vida, Langer traçou um quadro mental do líder nazista que se tornou um clássico da abordagem psicológica de alguém que não está deitado em um divã. 

Freud já o houvera feito quando, em 1910, publicou o texto “Uma recordação de infância de Leonardo da Vinci” e, um ano depois, em 1911, escreveu e publicou “Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia”, quando analisou, neste segundo caso, desde uma autobiografia, o Magistrado alemão Daniel Paul Schreber, ex-Presidente da Corte de Apelação da Saxônia. 

(...) 

Hitler, como a sua propaganda o fazia, apregoava-se como “o paradigma de todas as virtudes”, razão pela qual “ganha o respeito e a admiração de todos os seus colaboradores”. 

Ele era “capaz de analisar problemas complexos de uma maneira um tanto simplista” o que lhe valeu “a admiração de seus colaboradores próximos desde o início de sua carreira política”. Ele, por exemplo, sabia “a quantidade de tiros que uma metralhadora dispara por minuto, seja uma leve, média ou pesada”. 

Langer observou que Hitler conseguiu descobrir e aplicar com êxito diversos fatores da psicologia de grupo, por exemplo: 

1.  Conquistar o apoio da juventude; 

2.  Sentir, identificar e expressar, em linguagem apaixonada, as necessidades e os sentimentos mais profundos do alemão comum; 

3.  Capacidade de apelar às inclinações mais primitivas do homem para despertar os instintos mais baixos e, mesmo assim, mascará-los com nobreza, justificando todas as ações como meios para alcançar um objetivo ideal; 

4.  Aptidão de recorrer às tradições do povo, evocando as emoções inconscientes mais profundas do público; 

5.  Compreensão de que a ação política entusiasmada não ocorre se as emoções não estiverem profundamente envolvidas; 

6.  Um aguçado reconhecimento do valor dos slogans, das palavras da moda, das frases dramáticas e dos epigramas felizes em penetrar nos níveis mais profundos da psique; 

7.  Reconhecimento do importante papel desempenhado pelas pequenas coisas que afetam a vida diária do homem comum na construção e manutenção do moral do povo; 

8.  Reconhecimento pleno do fato de que a maioria esmagadora das pessoas quer ser liderada e está pronta e disposta a se submeter caso o líder consiga ganhar seu respeito e sua confiança; 

9.  Capacidade de convencer os outros a repudiarem suas consciências individuais e permitirem que ele assuma esse papel; 

10.  Uso pleno do terror e capacidade de mobilização dos medos do povo, os quais ele interpretou com precisão quase excepcional. 

Adolf Hitler tinha uma “intuição política milagrosa, desprovida de todo senso moral”. Ele conseguia a lealdade do povo, a tal ponto que “parecia tirar-lhes o discernimento”, de uma tal maneira que, “mesmo diante de provas de que ele nem sempre é o que finge ser”, o povo continuava a acreditar nele.

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