domingo, 28 de agosto de 2022

A coletividade pede passagem

 Alina Souza

Ao todo, passo muitas horas de minha vida dentro de ônibus e percebo como as cenas no transporte público revelam profundos traços comportamentais da sociedade. São medidores de cidadania. De respeito − ou da falta deles. Vamos a alguns fatos. Ônibus cheio, dois assentos preferenciais ocupados por jovens em órbitas distantes. Uma senhora na faixa dos 70 anos passa e nenhum deles faz menção de se levantar. A senhora vai o trajeto inteiro em pé, tentando firmar-se na barras verticais e no próprio banco onde está sentado um dos moços que sequer olhou para fora de si mesmo. Zero consideração à pessoa idosa. Passamos então para outro fato comum: passageiro que não desembarcarão imediatamente e, mesmo assim, obstruem as portas de saída. Já quase perdi minha parada porque esperei o sujeito na minha frente descer, e não desceu, e eu demorei para entender que ele estava ali só de enfeite. Poxa, alguém lembra que é transporte coletivo? Vou repetir: co-le-ti-vo. Custa enxergar um pouco além do próprio umbigo, antes do fim da linha? 

(No Correio do Povo, agosto de 2022)

2 comentários:

  1. Não é só no coletivo, o povo está mais mal - educado , será por quê?

    ResponderExcluir
  2. Quando os maus exemplos vêm de cima, o povo se acha no direito de fazer igual.

    ResponderExcluir